Até Que Morramos

Capitulo VIII - Dia 4

Indústrias More Health,
Ano 2022, O dia depois do terceiro.

O QUARTO DIA JÁ DAVA O AR DE SUA GRAÇA, E COM ELE REINAVA A EXPECTATIVA DE FINALMENTE VOLTAR PARA CASA. Acordei ansioso, e nem era pra menos. Lembro que cheguei a soltar sorrisos de nervoso enquanto arrumava as coisas de Yelena que ainda estavam espalhadas pelo quarto. Fotos, livros e vários outros pertences começavam a ser encaixotados para enfim serem levados ao lugar onde pertenciam: A nossa fazenda.

O sentimento era de libertação. Apesar de não ser uma felicidade completa, me alegrava saber que estava a fazer alguma coisa por Yelena antes dela partir. Lembro que catei da parede  uma foto  da gente no nosso casamento e encarei o brilho no olhar que ela esbanjava. Lamentava o facto dela ter perdido tal brilho ao longo do tempo e trazer ele de  volta era minha missão pra esses últimos dias. Mas como nada era perfeito, enquanto pensava em todas essas coisas, o mundo lá fora caía em pedaços...

Ouvi tumultos vindo do corredor do lado de fora do quarto. Alarmado, saí para ver o que era e me deparei com um senário de assustar: Os funcionários da indústria saiam dos seus quartos e corriam todos em direção à saída. Entre as pessoas, se via também cientistas de jaleco branco correndo atordoados, igualzinho aqueles cenários dos filmes de ficção científica, quando há um problema em um laboratório que precisa ser resolvido, ou... se não, o mundo que conhecemos acaba. Só que nesse caso específico, o mundo já havia acabado e eu não sabia.

Diante de tanto desespero, meu primeiro pensamento foi: Yelena.  "Deve ter acontecido algo com ela" me apavorei. Segui o grupão, desorientado, até chegarmos ao  corredor final que dava à  porta de saída do edifício, de onde pude avistar um grupo de repórteres do lado de fora da empresa, rodeando o portão de entrada que nem Abutres procurando o que tragar.

— O que houve? — Questionei a pessoa mais próxima de mim. Ela olhou para mim receosa, se inquietou. Respondeu hesitante:

— É que... As notícias sobre o que aconteceu com a sua mulher foram espalhadas em todos os lugares. — Esticou o braço e me passou o  jornal que carregava sob as axilas. — Vazou também a informação da vossa possível partida, e isso deixou a população revoltada. A More Health está a ser acusada de tentar começar uma nova epidemia. E a sua mulher é colocada como a principal arquiteta deste plano hediondo.

O meu mundo desabou.

Abri o jornal e dei de cara com a manchete:

"More Health, a indústria do mal."

Na matéria abaixo, Yelena era apontada como a  arquiteta de um plano que, supostamente, tinha como  objetivo ajudar a empresa a vender vacinas desse mesmo vírus. Afirmava-se também que a ideia de levar Yelena pro interior, vinha do plano de começar a transmissão em uma zona de menos controle sanitário para que assim o vírus se espalhasse com menos  monitoramento possível. Não dava para acreditar!

Logo começou um alvoroço nas redes sociais. Uma onda de comentários inundou os perfis da More Health em um mar de críticas, julgamentos e boicotes. "A baixo More Health" rapidamente se tornou uma das hashtags mais utilizadas do dia. A situação já era a mais tensa possível, e quando parecia que não poderia piorar, uma voz desesperada lá do fim do corredor ecoou em meus ouvidos: "Por favor, preciso de ajuda! A Dra.Yelena está convulsionando."

E ouvindo isso, mais uma vez o meu mundo desabou...

***

Foram mais de cinco horas de atendimento médico, que resultaram em frustrações para mim. Lembro que esqueci os jornalistas que nos assediavam, fiquei do lado de  fora do quarto, ansioso, andando de um lado pro outro, desesperado, até finalmente receber a notícia de que ela estava bem e esperava por mim já acordada.