Capítulo 1

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Abri os olhos com um esforço gradual, perturbada pela luz que se filtrava através da fresta da janela, mesmo com ela fechada, deixando escapar um raio de luz. Tentei me esconder sob os lençóis, desejando retornar ao sono, mas minha consciência já estava plenamente desperta.

Ao me sentar na cama, espreguiçando-me, meu olhar se fixou em um ponto na parede branca do quarto, enquanto reunia coragem para iniciar o dia. Embora meu plano inicial fosse desfrutar de um despertar mais tardio, o hábito de acordar cedo todos os dias frustrou essa ideia. Desejava aproveitar o feriado, que se estenderia até o fim de semana.

Do lado de fora, ecoavam vozes animadas, risos estridentes, música alta e aplausos. Curiosa, me aproximei da janela para observar. Como acontecia todos os anos, o vilarejo estava em festa. Alguns aproveitavam a ocasião para vender seus produtos, outros dançavam com bandeirinhas, enquanto as jovens exibiam seus vestidos mais elegantes para impressionar os rapazes locais.

Embora a celebração marcasse o aniversário do reinado do rei, eu nunca senti disposição para participar. Para mim, não havia motivo para comemorar. O governo nunca proporcionou uma vida digna; sempre lutei arduamente para garantir o mínimo necessário à sobrevivência, enquanto o rei desperdiçava os recursos públicos em seus próprios luxos. Então, qual seria a razão para celebrar tal data?

Após afastar-me da janela, dirigi-me ao banheiro com determinação. Despi-me lentamente, deixando as roupas caírem no chão em um gesto de desapego. Adentrei o chuveiro, recebendo as gotas geladas de água como um despertar revigorante. O líquido escorria pelo meu cabelo, percorrendo cada centímetro do meu corpo, arrancando-me da sonolência matinal e imergindo-me completamente na realidade.

Ao sair do banho, envolvi-me na maciez da toalha, seguindo para a pia onde, com determinação, escovei os dentes. Abri o guarda-roupa, deixando-me levar pela primeira peça que encontrei: um vestido amarelo, adornado com delicadas florzinhas rosadas, evocando uma sensação de primavera em pleno feriado.

Com passos decididos, desci as escadas rumo à cozinha. Meus olhos buscavam a figura paterna, mas a ausência dele era previsível. Mesmo em um dia de descanso, meu pai já teria partido para o trabalho. Desde a partida de minha mãe, cuja morte levou consigo a principal fonte de renda da família, ele se esforçava incansavelmente para garantir nosso sustento.

Mamãe, advogada de renome, havia proporcionado uma vida de luxo durante sua época, com as melhores escolas, roupas elegantes e todo o conforto que o dinheiro podia comprar. Apesar das dificuldades na busca por um emprego estável, meu pai sempre contou com o apoio financeiro dela, mesmo que isso fosse mal visto pela comunidade local.

No entanto, após sua partida prematura devido a uma doença rara, ficamos desamparados financeiramente. Meu pai, determinado a manter nossa dignidade, trabalhava arduamente para me alimentar e garantir minha educação. Ele sonha em oferecer-me um futuro que ele próprio nunca teve, e eu o admiro profundamente por isso. Decidida a retribuir seu sacrifício, aplico-me diligentemente nos estudos, almejando um dia tirá-lo dessa luta diária e retribuir-lhe todo o amor e dedicação que ele me oferece incondicionalmente. Ele é meu herói, e farei tudo ao meu alcance para tornar realidade os sonhos que ele nunca teve a chance de alcançar.

A preguiça me dominava enquanto eu despejava cereal na tigela e acrescentava leite. Sentada à mesa, comia automaticamente, perdida em meus próprios pensamentos.

Minha rotina foi interrompida por uma batida na porta. Abandonei a tigela na pia e me dirigi à porta, onde Amélia irrompeu com entusiasmo.

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