Capítulo 2

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Sentimentos ruins, como nuvens pesadas, às vezes obscurecem o sol da nossa alma, fazendo-nos sentir como se estivéssemos presos em um eterno dia chuvoso. Assim como a chuva, eles eventualmente passam, mas, de tempos em tempos, um temporal repentino nos surpreende, e lá estão eles novamente, inundando nossos corações.

Minha jornada de recuperação tem sido como uma montanha-russa emocional. Quando eu finalmente começo a sentir que estou superando, a ansiedade retorna, e lágrimas silenciosas deslizam pelo meu rosto. Lidar com isso tem sido uma tarefa árdua, especialmente porque compartilhei tantos momentos com Josh. Nossa relação era como uma torre de taças de cristal, cuidadosamente empilhadas ao longo do tempo. Mas então, Josh, impulsivo como sempre, chutou a base da torre, e tudo veio abaixo, deixando-nos apenas com destroços e lembranças fragmentadas.

Apesar das lembranças persistentes, sinto que estou avançando. Três meses se passaram desde aquela ruptura dolorosa. Enquanto isso, Amélia encontrou conforto nos braços de um novo amor, um rapaz que a mimava com presentes extravagantes, mesmo sem ter recursos para isso. Josh nunca teve esse gesto de generosidade comigo, mas na época, eu não me importava. Estar ao lado dele era o suficiente para mim. Agora percebo que deveria ter valorizado mais a mim mesma.

Cada dia é uma batalha para reconstruir minha autoestima e encontrar um novo equilíbrio emocional. Mas aos poucos, percebo que a tempestade está se dissipando, e o sol está começando a brilhar novamente em minha vida.

Enquanto eu estava na cozinha, lavando as louças e perdida em meus pensamentos, meu pai invadiu o espaço segurando uma carta com uma expressão radiante.

— Passei! Eu passei! — Ele gritou animado.

— O que aconteceu, papai? — Perguntei, desligando a torneira e virando-me curiosa.

— Consegui! Recebi a carta de admissão! Serei um soldado da guarda real! — Ele ria eufórico. — Sophia, nossa vida vai mudar para sempre! — Ele correu em minha direção, me abraçando com força.

— Você se inscreveu? — Questionei, ainda tentando processar a novidade.

— Sim, me inscrevi no festival. — Ele explicou.

— E não me contou nada? Achei que fôssemos um só e que você me contaria tudo. — Cruzei os braços, olhando-o.

— Eu não queria criar expectativas. Pensei que não seria chamado pela minha idade e que prefeririam os mais jovens. Eu ia te contar, mas no dia você estava... — Ele fez uma pausa, sem concluir a frase.

— É, eu sei como eu estava... — Desviei o olhar.

— Ei, não faça esse rostinho triste agora, Sophia. Pense em como nossa vida irá melhorar. Eu ganhando muito mais do que aqui com pequenos trabalhos. Poderei pagar sua escola sem comprometer nossa alimentação e vestimentas. — Ele colocou as mãos em meus ombros, tentando animar-me.

— É, você tem razão. — Sorri, pensando nas possibilidades que se abriam diante de nós, e abracei-o com força. — Parabéns, papai. Você merece!

— Irei ficar dois meses fora, na academia de cadetes. Acha que consegue sobreviver sem mim? Irei na semana que vem. — Ele anunciou.

— Espera! Dois meses? — Perguntei surpresa. — Mas, com que dinheiro eu vou sobreviver? Você é quem traz o sustento, e sem o seu trabalho...

Sombras do tronoOnde histórias criam vida. Descubra agora