A Primeira Nota (Romance Aquiliano)

último capítulo

     Quando pensamos em nós mesmos, não costumamos valorizar o que já conquistamos, sempre pontuamos o que não conseguimos e nos vendamos para o quanto mudamos. Acontece que as pessoas não gostam de falar sobre o que elas já tem. Ao invés disso, elas preferem comparar o que os outros tem, que elas gostariam de ter.
  Muitas das vezes apenas cultivamos sonhos alheios de outras pessoas, acreditando que de fato são nossos.
Quando eu me dei conta de que, ninguém além de mim, iria me fornecer a vida que desejava, mais que de pressa tratei de resolver esse problema. Relembrar quem eu era e o que queria, foi a parte mais difícil de todo esse processo.
vivemos em um mundo onde estamos vinte e quatro horas buscando a aceitação e a aprovação de todos. Então é comum facilmente deletar tudo o que acreditamos e pensamos para agradar a alguém.

   Quando eu decidi que iria fazer de tudo para alcançar meu objetivo, que a alguns meses atrás eu nem sabia que existia. Estava e estou arriscando tudo o que eu já tinha construído, com a promessa invisível de que será algo melhor.
Não é como se eu não sentisse mais medo, eu apenas coloquei na minha cabeça que que eu só tenho aquilo que eu procuro.

- Eaí?- meu irmão estava parado no patente da porta como sempre fazia. Tá aí, algo que eu sentiria falta.

- oi.

- Já arrumou suas coisas?

- ainda não- falei fazendo uma careta olhando par as roupas espalhadas em cima da cama- Tati tá vindo me ajudar.

- você e essa sua mania de deixar tudo para última hora- falou rindo.

Ele ficou lá me olhando, por alguns minutos, me encarando com um olhar contemplativo.

- que foi mané?- perguntei enquanto dobrava algumas peças, sem entender o que deu nele.

- você já parou para pensar em como as coisas mudaram? - ele caminhou e pegou um porta retrato em cima da minha escrivaninha, tinha uma foto dele comigo em suas costas. Sorrindo.
Jonas fez questão de trazer da casa do nosso pai.

- Eu não sou mais o seu menininho- disse a ele.

- você vai ser sempre meu menininho. Não pense que só porque cresceu, que deixou de ser - ele desviou o olhar- sabe... tenho muito orgulho do homem que você se tornou.

- não é para tanto- falei envergonhado sentindo minhas bochechas corarrem.

- não, é sério!- ele colocou o quadro de volta no lugar- você passou por muita coisa que não deveria, mas mesmo assim não deixou que elas te abalassem. Não perdeu a sua essência.

- como assim a minha essência?

- É. Por mais que tenha se perdido no caminho, ainda assim não esqueceu o que queria. E agora... Agora você vai atrás do seu sonho. Você amadureceu bem rápido.

A campainha tocou e meu irmão se levantou, parando novamente no batente.

- Não duvide de você. Nunca. E não deixe que ninguém duvide- falou sério então saiu.

Do quarto eu ouvi a voz de Tati e logo a mesma apareceu na porta.

- cheguei!

- finalmente né- disse largando uma das camisas que dobrava- preciso de ajuda para decidir o que levar.

- com certeza você tem que levar essa sua cuequinha da Hallo Kitty- zombou ela levantando a peça rosa estampada com vários rostinhos da personagem.

- larga isso!- gritei investindo para arranca-lá da mesma.

- não senhor você vai levar- Tati erguia a cueca fora do meu alcance- Danillo vai achar muito fofo.

- você não presta- disse arrancando a peça dela