capítulo 31

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Erick

     Por mais que eu tenha tentado fugir dos meus problemas uma hora nos cansamos. Cansamos de correr desesperadamente e eles nos alcançam, nos atingindo em cheio como balas totalmente direcionada a qualquer ponto vital que possa nos matar instantaneamente.
      Hoje não poderia fugir do trabalho, teria que enfrentar seja lá o que estivesse por vir a seguir. A essa altura já deveria estar preparado para quaisquer que fossem as possibilidades que pudessem vir a surgir.

- tô saindo!- disse pegando minha bolsa na sala.

- boa sorte- Desejou Danillo me lançando uma piscadinha.

- vê se não faz merda, okay!- gritou Jonas quando já saia pela porta.

- vou tentar, mas não prometo nada- retruquei fechando a porta atrás de mim.

  Peguei um ônibus fazendo o caminho que sempre faço até o Sing a Song, desci um ponto antes e fui andando o resto do caminho até o estabelecimento, pensando no que eu faria ou diria, e em como ira confrontar David sobre o que ele sabia, sobre a verdade.
  Parei na porta do lugar respirando fundo antes de abri-la, escutando o familiar sintilar da sineta presa na extremidade da porta. Passei os olhos pelo local quase vazio, me fazando acreditar que David e Fernanda estavam nos fundos. Passando para o outro lado do balcão para guardar minha bolsa no interior do estabelecimento, onde confirmando minhas suspeitas encontrei Fernanda  mexendo no celular, e David pegando algumas caixas para reposição.

- Olha ele aí- disse Fernanda sorrindo- quanto tempo não é bonita, finalmente não vai sobrar tudo pra mim por aqui.

- oi, Fhe- disse colocando minha mochila em um canto.

- Faltando assim querido, esqueceu que tem trabalho?- brincou ela.

- eu não estou muito bem ultimamente.

- aconteceu algo?- vejo David perguntar com um olhar preocupado.

- tenho que ficar no balcão- digo saindo do local.

    Quase não percebo quando ele me segue através do balcão e toca meu braço, me fazendo virar o rosto para o mesmo, que tem umas das sobrancelhas arqueadas.

- não gosto quando você faz isso- ele me diz seriamente- o que aconteceu?

Respirei fundo algumas vezes antes de enfim tomar coragem de falar algo.

- o quanto você conhece a sua mãe?- a pergunta saiu quase como um pequeno sussurro.

- Do que você tá falando?- perguntou ele confuso.

- se você sabia sobre mim, eu preciso que me fale! - esbravejei já chorando.

- Erick eu não estou conseguindo entender do que você está falando!- exclamou ele.

   David segurava em meus ombros enquanto me encarava fixamente com uma expressão assustada.

- eu não sei do que você está falando!- disse agora de uma forma calma- e só vou saber se você me contar.

- E-eu não sei exatamente como te dizer isso... Mas é algo que deveria saber- engoli o seco então continuei, lançando aquela bomba de uma só vez:- Alice García é minha mãe e de Jonas. Ela nos abandonou quando eramos crianças e agora ela tem a ousadia de querer falar com a gente.

- o que?- ele procurou um lugar para se apoiar segurando no balcão, a essa altura inevitávelmente nós já eramos o centro das atenções do local- não pode ser, Ela... Ela não faria algo assim.

- É mas ela fez e assim como você, por muito tempo eu não acreditei que alguém poderia fazer algo desse tipo. 

- Erick minha mãe não..., eu a conheço. Ela...- ele suspirou pesadamente sem terminar sua frase.

- sim, eu fiz e eu não me orgulho disso- a voz de Madame García ressou atrás de nós.

- O que você está dizendo?- David a questionou.

- estou dizendo que sim, eu fui uma pessoa egoísta ao não lutar por meus filhos.

- não lutar?, Ah faça me o favor, você simplesmente foi embora, não pensou em ninguém além de você mesma- gritei.

- como você pode abandonar duas crianças?- David questionou Horrorizado.

- Eu não queria deixar vocês!, Foi me única opção.- Assim como eu lágrimas escorriam por seu rosto- Na época eu recebi uma proposta de trabalho no exterior, seu pai não queria que eu fosse. Nosso relacionamento... já não era nem um pouco saudável então quando me recusei a ficar quando eu decidi que iria seguir meus sonhos por raiva ou ego ferido seja lá o que foi, ele entrou com pedido pela guarda de vocês.
  E-eu não tinha estabilidade sozinha e o juiz não quis me deixar viajar sozinha com duas crianças pra outro país, pelas coisas que ele disse e tals por se tratar de uma mulher.

- como vou saber que você tá falando a verdade?- perguntei.

- eu tentei me reaproximar de vocês, juro que tentei mas nunca consegui porque ele dificultava qualquer tentativa vinda da minha parte- ela enxugou as lágrimas com as costas das mãos- e pelo que eu soube o pai de vocês já revelou quem ele sempre foi. Um homem preconceituoso, machista e estúpido.

- ainda tem uma coisa que eu não entendo- olhei pelo canto dos olhos para David- como David é mais velho que eu?

- eu sou adotado- disse ele coçando a nuca- não achei que fosse algo importante.

- E não é. Antes mesmo de saber que somos irmãos eu já te considerava.

Ele sorri.

- Jonas não quer ver a sua cara nem pintada de ouro- disse agora me dirigindo a minha mãe.

- vou fazer de tudo para me reaproximar de vocês- declarou ela- só preciso que vocês me dêem uma chance.

- isso não vai ser fácil, não posso deixar que seja- disse seriamente- também quero deixar claro que eu ainda não te perdoei, nem sei se um dia vou chegar a conseguir. Também não posso colocar a culpa toda em cima de você.

- muito obrigada meu filho. Essa chance que vocês estão me dando, eu não vou desperdiçar.

A Primeira Nota (Romance Aquiliano)Onde histórias criam vida. Descubra agora