capítulo 33

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        Explicar aos meninos, o motivo do meu choro compulsivo, foi a parte mais difícil.
Danillo tentou fazer de tudo para me ajudar mas naquele momento eu só queria chorar, eu precisava disso. Talvez dizer o que tinha acontecido me fizesse entender que tudo fora de fato real, que o fim realmente aconteceu, e por isso eu me negava a falar.
Os dias se passaram, mas isso, não fez menos difícil seguir em frente. Não estou dizendo que me arrependo do que fiz, apenas que não foi, e não é, algo simples de se fazer. Eu o amava mas que tudo, e esse era o problema.
       Tati me dava de vez em quando, me informando como ele está. Aparentemente ele ficará mal com nosso término, ela me disse que o mesmo não queria sair de casa, se levantar da cama ou se quer comer. Que sua aparência denunciava a falta de sono. Mas eu não podia simplesmente ir vê-lo, por mais que quisesse, isso não seria possível. E eu, eu não poderia me dar o luxo de ter esse tempo de luto.

- você vai na minha formatura?- perguntei para David que estava anotando algo distraído em um bloco. Hoje o café estava calmo e pouco movimentado.

  Ele levantou o rosto, me encarando surpreso, pousando a caneta em cima do pequeno caderno perguntou em resposta- você quer que eu vá?

- sim, porque não iria querer?, se você não tiver nada melhor para fazer é claro- me apressei baixando os olhos para a mesa que eu estava limpando.

- eu só... sei lá, achei que você podesse querer um espaço depois de tudo o que aconteceu- se explicou- Mas o que eu poderia ter de mais importante
que a formatura do meu maninho?- disse ele me lançando ele um sorriso.

- estava pensando em chamar Madame García também- revelei receoso.

- não se sinta pressionado a convidá-la se não quiser.

- E- eu... quero, só não sei como Jonas vai reagir.

- entendo- ele concordou sinalizando com a cabeça- se é algo que você quer, eu acho que ele vai entender.

- as vezes ele é muito cabeça dura- disse rindo- mas ele tá sempre fazendo de tudo para me agradar.

- que dia vai ser?- perguntou ele.

- na quinta feira a noite- falei- pode chamar a Fhe.

- Ei...- ele me chamou fazendo sinal para que eu me sentasse ao seu lado.

Assim eu fiz e então ele me encarou por um momento.

- obrigado por dar essa chance a ela... Digo pra nossa mãe- ele me olhava nós olhos, David sempre foi de fazer isso. Ser intenso. É uma característica dele.

- não me agradeça, todos nós já erramos alguma vez- fiz uma pequena pausa apertando os nós dos meus dedos- eu não posso negar a ela a oportunidade de se redimir.

- você tá preparado para ver ele de novo?- perguntou meu irmão levando o olhar até minha mão.

- Não- a resposta saiu baixa quase como um sopro- na verdade eu estava evitando pensar nisso.

- você se arrepende do que fez?

- Não. Mas não sei como devo agir agora. Agora que não estamos mais juntos tudo vai ser tão estranho.

Entendi- ele se levantou andando pelo estabelecimento até o toca discos que ficava em cima de uma estante com vários discos- E aquele menino, você sente algo por ele?

- quem o Danillo?, Todo mundo acha que terminei com Kevin por causa dele.

- e você terminou?

- Não!, Não sou esse tipo de pessoa.

- você não sente nada por ele?, Vai me perdoar mas parecia que vocês estavam bem próximos.

- O Danillo é legal, atencioso...

- Bonitão- completou ele rindo.

- palhaçada viu.

- não sei acho que agora eu não quero me envolver alguém, além disso ele vai voltar pra Nova York depois do ano novo.

- sabe o que eu acho- começou ele. Não era um tom de pergunta, estava mais para uma opinião- pra mim você está com medo de se apegar e ele ter que ir embora- falou me observando.

     De certo modo ele tinha razão. Eu não queria ter que me despedir de mais ninguém, estou cansado de perder tanto. Não quero que Danillo seja algo do qual eu vou sofrer por não ter por perto. Eu sei que isso parece meio precipitado, todos acham que terminei com Kevin porque estou apaixonado por Danillo, e talvez eu esteja, embora esse não seja o principal motivo do meu término com Kevin.
   As pessoas são assim, e eu, apenas deixo que elas pensem o que quiserem.

       Os dias seguintes foram tranquilos. Fiquei na minha, fazia meu trabalho no café e me distraia um pouco com as palhaçadas de Tati ou Danillo. Eu até tentei evita-lo, mas isso foi quase impossível, sempre que eu ficava distante ele de algum modo me fazia ceder. O como me olhava, não era mais seu olhar provocativo de sempre, agora assumia expressões abertas e delicadas, abraços acompanhados de toques mais íntimos. As vezes que me peguei o observando ou até mesmo o contrário.
A quem estou tentando enganar algo inegavelmente estava acontecendo, e o medo que eu sentia passara a ser apenas um detalhe não mais tão importante.

   faz um tempo que não vejo Hugo e Bruno, eles aparentemente estão bem. Ocupados em suas vidas. A última vez que vi Hugo ele me contara que passou o final de semana na casa da vó de Bruno, uma senhora muito simpática que os encheu de comida. Me falara como estava ansioso pelo resultado do vestibular, como ele e Bruno planejam faz intercâmbio em Portugal. 
   Todos tão motivados pelos seus sonhos, fez com que mais uma vez as palavras de Danillo martela-se na minha cabeça "é isso que você se vê fazendo daqui a dez anos?"
"Deve ter algo que você ame fazer...".

    Eu não quero mais isso para minha vida, trabalhar em um café para sempre. Pela primeira vez desejei que seguir meu sonhos e séria isso que eu iria fazer. Quero levar a música para as pessoas, transmitir emoções, eu vou lutar para que isso aconteça.

A Primeira Nota (Romance Aquiliano)Onde histórias criam vida. Descubra agora