Certa vez, após muito tempo sem entrar no site em que postava minhas histórias, resolvi checar como estavam minhas produções antigas. Sem pretensão nenhuma, loguei na página e, saudosista, reli algumas de minhas obras de 2014. Foi quando, para minha surpresa, vi que DarkLady.75 havia retornado à plataforma com um novo livro: Um Romance Nos Subúrbios. Depois de dois anos inteiros, a amiga portuguesa voltava a escrever romances... Uma surpresa que me arrebatou!
Na descrição de seu perfil, havia postado que, após um tempo sem escrever, tinha sentido saudade da conexão escritor/leitor e essa era a razão pela qual tornava à plataforma. Já havia postado três capítulos de sua nova história que, para minha surpresa, era um romance lésbico. A trama se concentrava em duas garotas que estudavam juntas — a amiga morava no subúrbio português e a protagonista, que era apaixonada por ela, embora tivesse namorado.
Não podia ser... Será que Samanta voltara a flertar comigo? Hesitei um pouco antes de mandar minha primeira mensagem de 2018, mas, depois de fazer cena por alguns minutos, enviei muito contente. Escrevi algo como:
Juliana: Olá, Samanta! Ainda se lembra de mim? Que coincidência! Hoje mesmo resolvi rever minhas histórias antigas e encontrei você novamente. Uma ótima surpresa. Mas e aí, como vão as coisas?
E, poucos minutos depois, a amiga portuguesa retorquiu:
Samanta: Que óptimo rever-te, Juliana! Fiquei com saudades de ti. A sério, tu és uma amiga incrível e é bom conversar contigo. Bem, minha vida está como sempre. Vou à faculdade, estou a procura de uma vaga de estágio e estou amando meu curso de Engenharia Aeroespacial, especialmente a matéria de eletrónica. E tu?
Juliana: Depois que minha mãe morreu, minha vida virou um caos. Não pude ingressar em uma faculdade e tive que arrumar um emprego qualquer aqui no centro de São Paulo. Minha mãe... Choro apenas de me lembrar de que foi assassinada tão brutalmente...
Samanta: Oh, desculpa-me, não sabia disto... Sinto muito pela tua mãe. És tão inteligente que terias muito sucesso numa faculdade. Quem sabe daqui a alguns anos, não é? Talvez cá em Portugal possas arranjar um intercâmbio e morar perto de mim. Que pensas disto?
Fiquei surpresa com sua sugestão. Nunca em mil anos pensei em intercâmbio, quanto mais em morar em Portugal. Aquilo era um flerte, é claro que era! Por que Samanta gostaria de me ter por perto, senão para me amar? Senti-me embaraçada e hesitei ao responder, assustada.
Juliana: Não parece uma ideia má. Seria um sonho poder estar pertinho de você. Poderíamos tomar um café juntas, ver um filme... Como amigas, é claro!
Samanta: Amigas? E se talvez fôssemos algo a mais?
A última mensagem congelou meus neurônios. Era óbvio que Samanta queria compromisso comigo. Já agora éramos maiores de idade, podíamos nos encontrar, conhecer uma a outra e até mais intimamente. Mas aquilo era muito brusco, muito súbito, e eu não podia dar o próximo passo. Limitei-me a dizer:
Juliana: Talvez... Quem sabe um dia...
Já pela meia-noite eu não conseguia dormir. Havia desperdiçado a oportunidade perfeita para me declarar! Não era possível que o amor de tinta fosse verdadeiro e mútuo. E eu deixei a questão no ar! Como era uma bela idiota.
Revirava-me pela cama e não encontrava sono. Então, fui até a geladeira ver se podia beliscar algo, quando encontrei uma lata de cerveja Almada, puro malte de receita portuguesa. Não pensei duas vezes — apanhei o sumo alcoólico e bebi, para degustar o imaginário sabor de Samanta. Uma cerveja apenas não me deixou bêbada, mas me fez relembrar dela, da musa dos meus sentimentos ocultos. E chorei, arrependida pelo meu talvez. Às três da manhã, finalmente peguei no sono, e como o dia seguinte era um domingo, dormi até ao meio-dia.
Era hora de conversar com Vanessa...
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Café Amargo 1 - A Morte Mão Amiga (Duologia Cafés Parte 1)
RomanceJuliana é uma jovem moça de vida apática e vazia. Reduziu-se ao apartamento em Lisboa, às novelas brasileiras e ao futebol do Sporting CP. Vive para um passado mal resolvido registrado, não somente em sua memória, mas também através dos versos de um...