E já agora termino de vomitar palavras em forma de texto. Depois de uma semana frenética, muitas noites viradas e álcool para completar, finalizo meu primeiro e último livro, Café Amargo. A dúvida permanece intocada, bem como em Dom Casmurro, e ninguém a não ser Deus pode decifrá-la. Saleiro discordava de mim, e Vanessa nem sequer chegou a conhecer o fatídico mistério, mas era óbvio em meu coração falido que eu era a única culpada por sua morte. Defronte a meu agnosticismo de merda, desejo incessantemente que sua alma descanse em paz, embora a minha consciência esteja um caos.
Por fim, fechei o imundo caderno de despesas e larguei a caneta Bic sobre a mesa, apertando com força o casaco azul em meu corpo. Desfaleci-me em prantos logo depois de cutucar a ferida majestosamente. Era por isso que estava em Lisboa, viciada em Malhação e no Sporting CP — porque eu falhara até mesmo com meus próprios anjos. Já agora, era uma velha moça solitária, reduzida a amargura, num país totalmente desconhecido.
Fui até a geladeira na intenção de buscar outra lata de cerveja, contudo me deparei com um frasco de café solúvel. Como abolira a bebida da minha vida, perturbei-me com o resquício. Apanhei o vidro e encarei-o com melancolia.
Validade: 09/06/2018.
Estava vencido — e o pior, vencido desde o dia da tão fatídica morte. Assombrada, atirei o frasco de café contra a parede e o mesmo se quebrou em mil pedaços, deixando minha cozinha imunda. Mortificada pelos meus próprios sentimentos, saí porta a fora como um tiro. A pé, andei sem rumo pelas ruas de Lisboa, recordando-me do cadáver sem vida. Passei ao lado de um café e, ironicamente, parei para tragar um cafezinho amargo. Tomei todo o conteúdo da xícara de uma vez e paguei pela bebida.
Mais adiante, cheguei até uma praia deserta. O gosto do em minha boca me forçou a chorar novamente. Encarando o mar tão salgado quanto as minhas lágrimas, morri-me pela milionésima vez. E, ajoelhada na areia fofa, olhei para o horizonte.
— Perdoa esta mulher indigna... Morreste por mea-culpa. Minha tão grande culpa...
CONTINUA...
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Café Amargo 1 - A Morte Mão Amiga (Duologia Cafés Parte 1)
Любовные романыJuliana é uma jovem moça de vida apática e vazia. Reduziu-se ao apartamento em Lisboa, às novelas brasileiras e ao futebol do Sporting CP. Vive para um passado mal resolvido registrado, não somente em sua memória, mas também através dos versos de um...