Juliana é uma jovem moça de vida apática e vazia. Reduziu-se ao apartamento em Lisboa, às novelas brasileiras e ao futebol do Sporting CP. Vive para um passado mal resolvido registrado, não somente em sua memória, mas também através dos versos de um...
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Naquela noite, fui dormir com o coração pegando fogo. Eu não devia ter dado a indireta, aquilo estava errado, erradíssimo! O que Samanta pensaria de mim? Céus, será que ligaria todos os pontos? Com milhares de questões, adormeci agitada e tive pesadelos terríveis. Assim, como de costumeiro hábito, acordei às seis da manhã. Agitada, tremendamente coagida, bloqueava e desbloqueava a tela do meu celular à procura de uma mensagem de Samanta.
Meia-hora passou-se e, finalmente, quando menos esperava, uma nova mensagem da garota portuguesa surgiu na minha tela. Hesitei em visualizá-la, mas o fiz sem muitas delongas. Meu coração saltava pela boca. Previa que o conteúdo do texto era muito importante:
Samanta: Olá, Juliana. Estás bem? Acabei de betar teu texto e o enviei em teu e-mail. Peço-te um milhão de desculpas por isto, mas... Teus temas andam tão repetidos que suspeito que estejas apaixonada. Por acaso, não estás apaixonada por alguém de nacionalidade portuguesa? Apenas curiosidade, não te importes.
Congelei-me, pois então. Embasbacada, não mexia sequer um milímetro de meus dedos, e a mão esquerda que segurava o café tremia, desesperada, na busca de qualquer justificativa plausível para aquilo que lia. Samanta não somente desconfiava, como concluía a minha paixão por ela. Era evidente, mas nem tudo era flores! Os espinhos daquela adorada roseira machucavam minh'alma, e eu não tinha escapatória: ou dizia a verdade, ou provocaria uma tragédia. De tal modo, como Samanta adorava os finais infelizes, escolhi pela tragédia, pois era cobarde.
Juliana: Apaixonada, eu? De onde tirou essa ideia, Samanta? Os meus últimos contos foram baseados em fantasia e sua conclusão é de todo incorreta... Imagine só, eu, submetida ao amor... Uma tolice!
Tranquei-me no meu quarto, ainda naquela manhã, atraindo olhares confusos de minha mãe, que não fazia ideia de quê eu estava padecendo. No caderno de capa verde, tornei a depositar caoticamente meus sentimentos, em forma de poema:
Querido Silêncio,
Amigo das antigas;
Caro e silencioso amigo
Que silenciou meu coração,
Enterra-me num sepulcro?
Mas num sepulcro de facto,
Numa vala escura
Que me dê voz
Por trás do silêncio
Deste sepulcro off-line.
Um eterno silêncio...
Mas que óptima maneira
De clamar liberdade:
Confesso a toda gente
Que morro de amores!
Tão natural seria-me
Proclamar meu sepulcro
Numa lápide fatídica:
«Morreu em silêncio;
Foi mártir do amor».
Pois suplico-te a morte,
Amado Silêncio!
Por que sou cobarde,
Não tenho face
E dispenso voz.
Impossível isto,
Desumano, pois!
Um ardor solitário
Sob este silêncio
SE- PUL- CRAL.
Suspiros proibidos...
Ninguém a confiá-los,
Silêncio regado a olhares
E desaforos vários.
(Sentenças à minha morte!)
És inimigo, Silêncio,
Olha-me, desgraçado!
Aspiro turbulência
E expiro serenidade,
Faço-me doente...
Caro Silêncio,
Sai-te deste coração,
Por favor, vai-te!
Pára de envenenar-me
E liberta-me deste sepulcro.
Acontece que a morte não assolou a mim, mas sim a outro alguém... Ó Deus, deixe estar... Isso é assunto para mais tarde.
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