Chumbo Trocado

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                            ***

Péssimo. Esse é o meu humor atual e quanto mais as pessoas tentam mudá-lo, mais irritado eu fico.
Cheguei na delegacia e todos estão agitados. Firat vem me dizer que uma quadrilha de tráfico humano que a muito tempo estamos rastreando finalmente foi desmembrada.
Seus armazéns estão sendo esvaziados e minha equipe só estava esperando por mim para irmos até o local prender a todos os envolvidos.

Sinto a adrenalina correr por meu corpo enquanto dirijo para lá. Acabar com  esse tipo repugnante de organização me deixa muito bem, com a sensação de dever cumprido. E estar nas ruas, envolvido nas operações corpo a corpo é o que eu gosto de fazer. A ação frente ao perigo foi o que me fez escolher essa profissão desde o início.
Todo o processo de perseguição, tiroteio, luta corporal, interrogatório, apesar de extremamente perigoso, me faz sentir livre, vivo e com poder de fazer justiça.

Invadimos o local e retiramos as pessoas o mais depressa possível. Todos muito assustados, a maioria mulheres e crianças que estavam a dias trancadas em um cubículo, sem ventilação, água, comida e as mínimas condições de higiene.
Depois que as vítimas estavam em segurança, retornei ao local, não me conformo de que nenhum dos responsáveis por esse crime saia daqui preso. Onde eles estão? Será que foram avisados e conseguiram fugir a tempo?

O armazém está deserto, nenhuma pista, nenhum vestígio que possa ser usado como prova para incriminar alguém.
Perto da janela sinto que o chão sob meus pés, se move. Me agacho e passando os dedos no assoalho encontro uma pequena abertura.
Com um gesto de cabeça chamo Firat que se aproxima cautelosamente.

Levanto a tampa de um porão cheio de pessoas, essas não são reféns como os outros. Peguei os chefes da quadrilha, finalmente vou levá-los sob custódia.
Quinze pessoas no total, treze homens e duas mulheres. Quando os levamos para a rua, antes de colocar todos nas viaturas, alguém dispara tiros em nossa direção. Com o tumulto alguns conseguem escapar, entre eles um homem e uma das mulheres.

Corro atrás deles, que infelizmente são muito rápidos, o homem está a frente, ele dobra em uma esquina e entra em um carro que estava lá esperando e sai cantando pneu.
A mulher me surpreende sacando um revólver e disparando contra o carro, mas quando me aproximo coloco ela na minha mira ordeno que largue a arma e coloque as mãos na cabeça.

Ela respira fundo, parece frustrada, vira-se lentamente para mim com as mãos para cima.
Digo para ela largar a arma e ela o faz mas quando me aproximo ela salta sobre mim, me segurando pela cintura e derrubando no chão.
Como me pegou de surpresa, ela consegue ficar por cima de mim, com uma perna de cada lado e segurando meu pulso, joga minha arma para longe.

Por um momento nós ficamos parados, somente olhando um para o outro, só então reparo em como ela é bonita...  Tem cabelos escuros e compridos que estão amarrados deixando seu pescoço longo a mostra. A pele branca parece ser tão macia que sinto vontade de tocá-la...
O que é isso Ali? Desde quando você sente vontade de tocar uma mulher que nem conhece, ainda mais uma criminosa?

Tento desviar minha atenção mas meus olhos vão para os seus que me fazem lembrar uma gata, não, uma onça, seu olhar é felino e profundo, ela me encara desconfiada, me analisando...
Sua respiração está ofegante por causa do esforço físico, e seus lábios cheios e rosados esboçando um sorriso de satisfação quando ela me fala:
"Gosta do que vê, Comissário?"

Quase que minha cabeça, meu corpo e principalmente minha língua me traem e eu solto um "Sim, muito" mas me contenho a tempo e tomando as rédeas da situação inverto nossas posições, ficando por cima dela dessa vez.

Ainda sorrindo ela se remexe em baixo de mim, insinuando seu corpo contra o meu que reage mostrando que gostou disso, o que me deixa confuso e com raiva.

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