Capítulo Dois - Mudança.

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A rua fedia a maconha velha e a mofo.

Aquele apartamento quebrado havia muita história para contar.

A prostituta voltava a se vestir em seu vestido tubinho, com o casaco.

Ele estava sentado na poltrona, olhando a vista da janela. Era janeiro de algum ano. Era inverno ainda, pois as ruas estavam geladas.

Tão geladas quanto sua própria alma.

A prostituta olhou o apartamento, só havia uma cama, um notebook, jornais velhos empilhados na mesa de centro, livros em excesso e um canto. Na cozinha, apenas Bourbon e algumas embalagens de comidas pedidas pelo telefone.

A sala era provida de um sofá de couro, com algumas roupas vazias. No chão, duas camisinhas usadas da noite anterior.

Ele não usava droga alguma, o que era inesperado, os homens com quem ela dormia sempre gostavam de cheirar algo antes de fodê-la.

Ele só fumou um cigarro depois do sexo e se virou, a deixando dormir com ele, sem toques a mais.

Ela adormeceu naquela cama macia e confortável, ele não a tocou de forma indevida, não tirou sua calcinha e a esbofeteou a chamando de cadela maldita a forçando a ceder para ele. 

Talvez era um homem carente, ela pensou. Não era como os outros. Quando abotoou o sutiã e puxou o vestido, ela se virou para ele.

- São 300 dólares.

Sem se virar, ele estendeu cinco notas de cem. Ela aceitou.

- Porque os 200 a mais?

- Compre um casaco de inverno. - a voz dele saiu um pouco rude. - Está congelando lá fora.

- Não preciso de cuidados.

O homem deu de ombros.

- Você que sabe, mas acho que não gosta dessa vida de prostituta. Escutei-a chorando durante o sono.

A mulher ficou um tanto vermelha.

- Isso não é da sua conta.

- Tem uma delegacia, no centro de Caldwell. - ele falou, sem tirar os olhos da janela. - Tem uma mulher que trabalha lá dentro, o nome dela é Hazel. Ela é uma mulher que lidera um grupo de apoio para prostitutas e viciados, ela te coloca na tutela de proteção do Estado e da assistência, deveria tentar.

- Porque se importa? - a mulher pegou o casaco. - Sou só a puta que fodeu ontem a noite.

- Antes de ser puta, você é humana. - ele não se virou. - E humanos não cedem seu corpo por comida ou teto, é desumano e degradante para mim.

- Então porque o fez?

Ele não respondeu, apenas acendeu o cigarro.

- Hazel Mitchell. - ele afirmou. - Caldwell.

A dama saiu, bufando. Quando desceu até o térreo, parou de frente ao ponto de táxi. Estava serenando, as nuvens carregadas, olhou para as colegas de rua: Uma delas estava viciada em crack e a outra injetava heroína todas as noites.

Era isso que ela queria?

Não, a dama pensou. O táxi parou e ela entrou.

- Para onde senhorita?

Ela olhou para a janela do último andar do apartamento. Era como se ele a olhasse lá de cima.

- Delegacia de Caldwell, por favor.

Ele a viu pegar o táxi e então se ergueu.

Sentia fome, mas não queria comer. Sentia sede, sua boca estava seca de bebida quentes.

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