Ossos de papel

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Dormir numa cama era muito bom, mas confesso que a do meu quarto no bordel era bem mais confortável.

Tirando os barulhos de gemidos a qualquer hora do dia, a vida no bordel para mim era confortável. Eu apenas comia, dormia, conversava ou observava a paisagem bonita, meu quarto era confortável, era bem tratado por quase todos... Confesso que era fácil se acostumar a todo aquele luxo.

A cama da estalagem parecia ser feita de pedras se comparada a do bordel, mas não queria gastar moedas a toa. Ainda tinha muitas jóias, de fato, mas era necessário cautela; o vendedor que comprou a pulseira ficou bem alerta quando a viu, imagino que isso vá acontecer das próximas vezes.

Após pagar uma refeição na estalagem, desci até o estábulo, Tempestade havia sido muito mimado, aposto que estava a mais confortável que eu. O cavalo empinava o rosto elegante, balançando a crina penteada e brilhante, sua pelagem era tão escura que ele era quase azul.

- Você está bonitão Tempestade. - acariciei sua cabeça, ele esfregou-se contra minha mão e soltou barulhos baixos. - partiremos amanhã, então durma bastante, a caminhada será longa.

Ele até mesmo parecia me entender, lentamente relaxava o corpo e deitava sobre as pernas fortes. Deixei mais alguns afagos em sua cabeça antes de sair e voltar ao meu quarto: não explorei a cidade, me dediquei a ler o livro sobre o Reino.

Em qualquer uma de minhas vidas o conhecimento era poder, se havia aprendido algo era que me manter ignorante apenas causaria minha morte mais cedo.

"Mas mesmo com conhecimento de tantas vidas sempre acabo morrendo" me repreendi, fechando o livro após ler por horas a fio, meus olhos estavam exaustos, deixei o livro de lado e me atirei a cama.

A história daquele reino possuía cerca de três séculos, não encontrei resquícios de onde vivia na terceira vida, logo podia cogitar que estava num lugar diferente. Era como se atravessasse um véu, e depois dele tudo que vivi se apagasse, como se nunca houvesse existido. Para não enlouquecer, criei uma teoria: os múltiplos reinos. A cada vida, despertava em um reino diferente, com costumes, idioma e naturezas diferentes, eu acreditava que todos os reinos existiram, em algum ano, ou lugar distante, até mesmo poderiam coexistir, as possibilidades eram muitas.

Não apenas estas coisas mudavam em casa vida, como também os próprios humanos: Na minha primeira vida, todos nasciam com a capacidade de utilizar magia de diversas formas, na segunda vida, está magia só podiam ser acessada por poucos e na terceira... Já não havia magia alguma.

O corpo deste Yan também parecia não poder usar esse dom, talvez com o tempo o poder houvesse se perdido, o que não era de todo mau considerando as atrocidades que pessoas gananciosas praticavam com ele. Magia era... Perigosa. Também não havia visto na cidade nenhum resquício ou praticamente.

Senti meu pescoço arder um pouco e passei os dedos sobre ele, aliviando a sensação, essa pele sensível deve ter se queimado no sol da viagem. Ao pousar os dedos sobre a nuca, senti como ela estava quente, havia adoecido? Não seria nenhuma surpresa.

Ajeitei o travesseiro duro abaixo de minha cabeça e decidi não sair a noite, se estava doente um descanso me ajudaria.

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Vamos, experimente, não sabe como foi difícil conseguir isso. — Navee agitava o prato em sua mão.

Você tem um péssimo gosto pare comida, não confio nenhum pouco. — respondi, polindo minha espada.

Você fere meus sentimentos dessa forma, Aruan... — ele deixou o prato de lado e levantou, sentando sobre meu colo sem se preocupar com a espada afiada que eu logo deixei de lado.

Minha quarta vida Onde histórias criam vida. Descubra agora