Um pouco de músculos

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Estava me afogando.

O ar pouco a pouco desaparecia, meu corpo pesava mais e mais a medida que era levado para o fundo, já não havia luz, música ou vozes, apenas um zumbido desagradável e sangue quente em meus ouvidos. Escuridão e frio, era tudo que eu tinha, e mesmo antes de fechar os olhos, já não via mais nada.

Toquei em minha garganta, buscando minha voz, buscando um suspiro, mas não havia nada, eu estava morrendo, mais uma vez.

— Senhor Yan? Senhor!

E, de repente, eu fui puxado com força, arrancado da água e o ar voltou de uma única vez, tão intenso que me engasguei. Tossi diversas vezes, me sentando rapidamente e batendo a cabeça em algo, agarrei minha testa, xingando baixinho.

— Eu devo chamar um médico? — era Marina ao lado de minha cama, as sobrancelhas tão apertadas que formavam diversas rugas. — o senhor parou de respirar de repente...

Balancei negativamente a cabeça, respirando fundo, enchendo meus pulmões de ar, me lembrando como se fazia isso.

— Estou bem, foi apenas um susto. — disse a ela, tentando a tranquilizar.

Sonhar com minhas mortes nunca era agradável, principalmente quando parecia viver elas novamente a cada vez que apareciam em meus sonhos. Sabia que me sentiria exausto por todo o dia, essas lembranças consumiam meu corpo.

— Tem certeza? Foi assustador, eu pensei que... Eu pensei... — agora, era Marina que estava sem ar, balançando as mãos freneticamente e respirando de forma atrapalhada enquanto ficava vermelha.

— Acalme-se, já disse que estou bem. — disse depressa, segurando sua mãos agitadas. — respire comigo, não há nada com o que se preocupar.

Respirei fundo, e pouco a pouco ela me acompanhou, após respirar e expirar algumas vezes, a cor de seu rosto voltou ao normal e ela abaixou os olhos, sem graça.

— Desculpe, senhor Yan.

— Não precisa se desculpar — ofereci um sorriso discreto a ela. — olhe para mim, Marina... Caso isso aconteça novamente, precisará ficar calma para que possa me ajudar, entende?

Ela balançou a cabeça em afirmação, finalmente erguendo os olhos amáveis.

— Vou me esforçar.

— É o suficiente. — soltei suas mãos.

Marina bateu as mãos no vestido e então tossiu e levantou, parecendo voltar a sua postura animada em alguns segundos.

— Mestre Lionel pediu que o acompanhasse na primeira refeição, ele está ansiosa por sua presença. Separei essa roupa para o senhor.

Ela se afastou, apenas para pegar a peça que havia trazido e a levou até mim. Pensei em protestar, depois daquele beijo... Bom, mais do que beijo, eu estava envergonhado de ter que falar com ele, mas não tinha muita escolha.

Levantei sem vontade da cama, cuidando de minha higiene para então deixar Marina me vestir, nesses dias que havia ficado ali percebi ser algo que ela adorava fazer; como se eu fosse um grande boneco em suas mãos.

— Está lindo meu senhor, o Mestre vai se apaixonar ainda mais! — ela disse, enquanto arrumava meu cabelo.

Eu me engasguei.

O que foi que ela falou!?

— O que? — minha voz saiu aguda demais, repleta de indignação.

— Que está lindo!

— Não, depois disso.

— Que o Mestre vai se apaixonar ainda mais?

Pude ver meu reflexo ficar vermelho no espelho, vermelho demais, por que ela estava dizendo isso e COMO ela sabia disso?

Minha quarta vida Onde histórias criam vida. Descubra agora