Uma pétala

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Após Alan quase derrubar as portas e berrar, tudo se passou muito rápido.

- Do que está falando? - questionou o general.

- Alguns homens foram ao bordel em que o senhor Yan estava... Hospedado, para avisarem que ele foi encontrado, porém não havia nada meu senhor. - o tom engraçadinho e abobado de Alan havia desaparecido completamente enquanto ele andava e abaixava a cabeça em respeito. - o local estava em ruínas, completamente queimado, muitos corpos foram encontrados, ainda não há sinal de sobreviventes.

O general se ergueu da cadeira, batendo ambas as mãos sobre a mesa. Ele começou a falar, num tom irritado e grosseiro, mas eu não conseguia o escutar, meus ouvidos estavam zumbindo com força.

Eu não estive muito tempo no bordel, porém conheci aquelas pessoas, elas não eram ruins. Haviam muitos órfãos, pessoas que haviam fugido de lares horríveis ou então simplesmente vendidas por duas famílias pobres, apesar das desavenças internas, não havia ruindade real. Apenas trabalhavam e seguiam suas vidas, um dia após o outro, eu nunca as vi causarem qualquer mal a alguém. E agora estavam mortas?

...E Irina? Irina também estaria morta?

O zumbido ficou mais alto, minha mente vagava pelo incêndio, mas não pelo do bordel, e sim outros que tive que presenciar em minhas outras vidas. Poucas coisas eram tão assustadoras e devastadoras como o fogo; vi cidades inteiras consumidas pelas chamas e pessoas agonizando até carbonizar.

Nenhum dos prostitutos mereciam uma morte como aquela.

Ninguém neste mundo merecia.

- ...Eles não morreram queimados meu senhor, em vários corpos foi possível perceber ferimentos graves, a maioria morreu antes das chamas, acredito que tenham sido massacrados e usaram do fogo para esconder este fato.

O zumbido ainda era alto, mas consegui o ouvir, atordoado ergui minha cabeça, Alan antes havia-me feito rir como louco, mas agora, ele quem transmitia minha dor.

- Irina... - sussurrei. - Irina está bem?

Alan se calou, me observando, o pesar em seus olhos era claro.

- Ainda não encontramos sobreviventes.

- Ela tem cabelos longos, loiros, e um belo sorriso. - falei mais alto, quase me engasgando com as palavras. - tem mãos pequenas e só usa cores chamativas.

O loiro enorme abriu e fechou a boca algumas vezes, provavelmente ele não sabia quem era Irina, então ela certamente poderia ter fugido! Sim, ela era esperta e rápida, com certeza estava viva.

- Yan.

Uma mão quente e familiar envolveu a minha, minha cabeça de moveu quase dura para a voz, o general estava ajoelhado ao meu lado, quando ele chegou ali?

- Eu sinto muito.

As flores de seus olhos não estavam abertas agora, os botões haviam se chegado completamente.

Puxei meus dedos dos dele, o olhando com irritação.

- "Sinto muito?" Não precisa sentir muito, ela está viva, eu não preciso de palavras de conforto! - arrastei a cadeira para trás, me levantando.

Tantas mortes. Aquilo não era cedo demais? Por que isso estava acontecendo de novo, por que tão rápido? Era por que havia chegado muito tarde a esse corpo? Meu tempo já estava acabando?

Minha visão se turvou, dei um passo falho para trás, sendo rapidamente aparado por Alan.

E então, um raio me atingiu.

Minha quarta vida Onde histórias criam vida. Descubra agora