Onde estão meus clientes?

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Acordar no mundo dos vivos após uma morte trágica, sangrenta e dramática em sua outra vida já era estranho o suficiente, porém ser um prostituto sem clientes era mais ainda.

Minha cabeça dava voltas e mais voltas, após falecer no campo de batalha em minha última vida, despertei no corpo de um jovem e belo prostituto numa cidade a qual desconhecia, e falava um idioma que até então nem sequer sabia ser fluente.

A rotina no bordel era curiosa, fiz o possível para me adaptar e familiarizar com o local para poder planejar uma fuga, afinal sair correndo sem rumo com um saco de joias e semi-nu não parecia uma boa ideia.

Irina era o nome da loira que havia cuidado de mim no dia em que despertei nessa vida, ela era muito requisitada no bordel, porém seus clientes eram os que pagavam mais caro, poderia dizer que ela era a número um ali, seguida de outra moça igualmente bela com cabelos enrolados e pele negra.

Também havia muitos rapazes, alguns pequenos como eu, outros fortes e músculos; pessoas para todos os gostos. Eu era estranhamente popular... Entre os outros prostitutos, não entre os clientes.

Todos me conheciam, me cumprimentavam, a maioria gentil comigo enquanto alguns faziam cara feia ao me ver passar, mas me intrigava que eu não havia sido chamado para dormir com clientes nenhuma única vez em duas semanas. Afinal, eu não era prostituto? Aquilo era tão confuso! Apenas comia, dormia e andava pelo local enorme o dia todo, em alguns horários Irina vinha até mim e se deitava em minha cama, falando de seu dia e passando produtos sobre a pele.

Eu imitava o que ela fazia, parecia algo que estávamos acostumados, e ela não se importava que ficasse quieto, pelo visto esse Yan não falava muito.

No final da segunda semana, ao entrar em meu quarto — que por acaso descobri ser o único com um quarto individual — Irina estava sorrindo muito, ela segurava algo familiar para mim: uma carta e uma sacola de pano.

— Acabou de chegar! Aí, um dia terei essa sorte também, você nasceu com a bunda virada para a lua, Yanzinho!

Ela entregou o pequeno saco em minhas mãos e leu a carta: “para Yan”, como em todos os outros papéis que eu havia guardado.

Ela deu uma risada alta, quase apaixonada e se jogou na cama, balançando as pernas.

— Abre, abre, eu quero ver o que ele te mandou dessa vez!

Eu estava certo então, era uma única pessoa que havia me dado todas aquelas joias, mas por que daria tanto valor a um prostituto com o qual nem dormia? Havia uma caixa em baixo de minha cama repleta destas cartas e joias, quase não cabia mais nada!

Retirei a delicada fita e abri, havia uma joia tão delicada quanto as outras, desta vez era um par de brincos dourados com pedras azuis penduradas numa cascata.

A boca de Irina se abriu tanto que pareceu ter deslocado enquanto admirava a joia.

— Essa, definitivamente, é a mais linda de todas. — levou os dedos até ela e tocou suavemente numa das pedras. — aí, aí, Yan, quando você se for, por favor, arranje um rapaz bem rico para me comprar também! Ou uma moça, ah, tanto faz, eu só quero sair daqui! Se ao menos a senhorita Ellie me comprasse eu poderia...

Ela continuou falando, mas eu não ouvi, Irina havia acabado de soltar uma informação muito importante e eu precisa arrancar mais dela sobre aquilo!

O motivo pelo qual não tinha clientes, por que não dormia com ninguém, era por que alguém havia me comprado! E esse mesmo alguém era o que me enviava tantos presentes caros, quem era ele?

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