Dancemos até flutuar

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Quando a estilista Alice trouxe meu traje e fez os ajustes finais, a realidade bateu em minha porta, ou melhor, em minha mente.

Havia visto os empregados correrem de um lado ao outro por dias, decorando o grande salão, limpando tão meticulosamente cada decoração e lavando todas as cortinas, limpando cada centímetros dos carpetes.

Eu faria parte daquilo e era, no mínimo, estranho. Todo o luxo indescritível me deixava deslocado; se houvesse crescido com posses e riquezas em outras vidas talvez visse o baile como um acontecimento comum e até mesmo costumeiro, mas esse não era o caso.

Aquele evento definitivamente seria um marco em minha vida.

Marina me preparou um banho tão demorado e caprichado que minha pele parecia este descolando do corpo. De forma nada tímida ela havia esfregando minhas costas nuas até eu sentir meu couro sendo removido. Desta vez chamou outra empregada para arrumar meu cabelo, e após ter minha cabeça puxada por mais de uma hora eu estava pronto.

Meu pescoço já estava dolorido, porém quando Marina segurou o espelho para que eu pudesse ver minhas costas, entendi a demora. As tranças feitas ali, entrelaçadas de tantas formas que assemelhavam-se a flores em meus cabelos, boa parte estava solto, mas a presa era tão complexa que eu sequer sabia como desfazer.

Precisei elogiar o trabalho da moça, era jovem, com um rosto pequeno e olhos grandes, ela ficou vermelha e disse que ficaria honrada em ser chamada mais vezes. Marina animada perguntou se também podia ajeitar os cabelos com ela e contente a serva disse que sim, por já estar pronto para o baile elas me deixaram a sós.

Me permiti olhar no espelho, coisa que fazia muito desde que vim para esse corpo, percebi estar muito vaidoso, seria herança de Yan?

Meu traje era predominante branco, num tom quente, repleto de detalhes dourados. Felizmente vestia um par de calças! A camisa era branca e mais leve, o tecido fino marcava mais do que deveria, porém o terno a escondia quase completamente; este possuía uma longa cauda que chegava aos meus joelhos.

Era como se eu fosse da realeza, era bom e desconfortável ao mesmo tempo.

Batidas leves na porta seguidas de uma voz suave me fizeram deixar Irina entrar, ela estava adorável com um vestido rosa volumoso, por cima da mesma um xale branco escondendo seus braços e pescoço.

- Você está lindo, Yan! - Irina caminhou até mim, me rodeando. - eu acho que nunca te vi tão bonito, não sei quem tem mais sorte, você ou o general!

Sorri a sua animação, era bom ver ela tão para cima.

- Você também está muito bonita, Irina.

Ela me mostrou um sorriso ainda maior, e logo vi seus olhos cheios de interesse, ela queria alguma coisa.

- Yan, eu queria que você me maquiasse - ela apertou as mãos na manta. - como fazia antes...

Antes? Meu corpo paralisou por um segundo, e senti suor se acumular em minha testa. Eu nunca havia maquiado alguém em toda a minha vida, definitivamente não era algo que poderia fazer. Abri a boca para negar, mas os olhos de Irina estavam tão brilhantes que era impossível.

Alegremente ela agarrou minha mão, me arrastando para fora do quarto.

- Mais devagar Irina! - meus estranhos sapatos tinham saltos pequenos, quase tropecei em meus pés.

Os empregados abriram espaço para nós, me senti envergonhado, não sabia o que fazer com a saia do terno, então a segurei para não tropeçar nela também.

- É uma pena que nossos quartos sejam tão distantes! - Irina me fez descer as escadas. - sinto falta de ficar no seu quarto o tempo todo... Como... Na nossa casa.

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⏰ Última atualização: Jan 30, 2023 ⏰

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