Chá da Tarde

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Ela estava em seu quarto. Trancada. A partir do segundo dia ela teve a permissão do Rei para sair, mas negou-se. Não deixava o quarto nem mesmo para comer, e mal comia quando recebia a refeição na porta.

Em sua janela eu cantava pela manhã, em vis tentativas de animá-la. No aposento se ouvia apenas a melodia da pequena caixa que ela havia ganhado dele, misturada com o som fraco de seu choro. A doce música era a única coisa que a fazia parar de se revirar na cama e finalmente adormecer, durante a noite.

Eu morria de tristeza ao observá-la dormindo, suas mãos inconscientemente buscando-o ao seu lado e encontrando apenas lençóis. Às vezes ela acordava, talvez tivesse sonhado com ele, e sentava-se em sua cama, cobrindo o rosto cheio de lágrimas com as mãos.

Inicialmente ela buscou ajuda. Uma ajuda amiga... Que não teve. Lembro-me perfeitamente do dia seguinte à partida do Príncipe Daemon, em que ela amanhecera acordada, com o rosto inchado de tanto chorar, e pensou que iria encontrar um ombro amigo em Alicent, quando esta destrancou seu quarto por ordem de Viserys, e entrou no cômodo:

"Alicent..." - sua voz mal saía, embolada nas lágrimas.

A Rainha aproximou-se da Princesa, que que estava em sua cama, mas não lhe deu sequer um olhar de conforto.

"O que pensa que estava fazendo, Rhaenyra?" - ela continuou em pé, ereta, encarando a garota.

"Alicent... Por favor..." - a filha de Viserys sentou-se, aproximando-se da madrasta, que se afastou de imediato - "Fale com meu pai! Peça para que ele reconsidere! Não foi justo o que ele fez!"

A Rainha solta um riso irônico.

"Não foi justo?! Seu pai poderia ter condenado o Príncipe à morte, só não fez por compaixão!"

"Ele jamais condenaria o irmão à morte... Eu o conheço!"

"E o que vocês fizeram? Foi justo?"

Rhaenyra soluça, tentando elevar a voz fraca demais:

"É injusto nos amarmos? Alicent... Você já sentiu isso? Sabe como é?"

Ela fecha os olhos lembrando-se de seus melhores momentos com Daemon... O reencontro, quando ele retornou da batalha contra Craghas, o primeiro beijo contemplando o pôr do sol na praia, seus passeios divertidos em Porto Real, as noites... As noites em que ela descobrira o prazer e a felicidade com ele... As noites em que ele a embriagava com seu perfume e suas palavras sujas, as noites em que ele fazia seus olhos revirarem e seu corpo se contorcer debaixo do dele...
As vezes em que se aventuraram em seus lugares secretos pela cidade, dando prazer um ao outro enquanto liberavam adrenalina pelo risco de serem flagrados...

Como serão suas noites sem ele? Sem seus toques, seus beijos, suas carícias, suas conversas durante a madrugada sobre o reino, sobre vontades, curiosidades... Ele era a única pessoa que a entendia. A única pessoa em quem ela confiava, com quem ela sabia que poderia ser ela mesma.
Ele não está mais lá para puxar a coberta para aquecê-la toda noite, como de costume, abraçando-a para si e sussurrando em seu ouvido que a ama.

"Não..." - prosseguiu a Princesa - "... você não sabe como é! E talvez nunca saiba!"

Os olhos de Alicent se escureceram. Sua amiga e agora enteada falava a verdade. Ela não sabe o que é estar apaixonada, amar alguém... A única coisa que sabe fazer é manter a posição em que está.
Não contente com o rosto agora amargurado da Rainha, Rhaenyra continuou.

"Já sentiu seu coração palpitar fortemente e seu rosto esquentar quando alguém aparece? Já sentiu uma euforia imensa de viver porque sabe que mais tarde você será totalmente dele?" - Ela fez uma pausa quando Alicent se aproximou, e continuou em seguida: - "Você nunca sentiu essas coisas, não é? Muito menos com meu pai. Acho que eu nem gostaria de continuar viva sem todos esses sentimentos maravilhosos e a esperança que ainda tenho de voltar para ele e vivermos juntos. Sinto muito por sua vida não ter nada que a faça valer a pena..."

Nossos Segredos - Daemon & RhaenyraOnde histórias criam vida. Descubra agora