Capítulo três

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Não conseguia entender quando meu pai não apareceu mais no jantar, muito menos quando ele não ia aos eventos do dias dos pais na escola. Não entendi porquê ele não me trazia mais doce, nem quando deixou de entrar pela porta principal de casa.

De repente, eu senti uma rachadura no meu peito e uma vontade de chorar inexplicável, mamãe nunca me explicou porque meu pai não voltou pra casa, ela apenas chorava e chorava pelos cantos.

Quando eu fiz seis anos, mamãe voltou a falar comigo, me dava "bom dia" me arrumava para ir a escola, comprava roupas e brinquedos novos, ela parecia um pouco contente.

Alguns anos se passaram, e mamãe conheceu Ele, no começo não fazia tanta diferença, pois mamãe estava mais radiante que nunca, sorria como uma fada e parecia dançar sobre nuvens fofas.

Nunca consegui olhar nos olhos Dele, estavam sempre distantes, como se houvessem um borrão escuro sobre eles.

Na véspera do meu aniversário, Ele entrou no meu quarto. Segurava um ursinho de pelúcia. Me sentei sobre a cama e observei ele se aproximar.

Ele sentou do meu lado e passou a mão na minha perna, eu não entendi de primeira, mas depois senti aquela rachadura de anos atrás abrir e senti meu coração ser arrancado do meu corpo, ele me impediu de falar, gritar e eu senti minhas emoções serem tomadas do meu corpo, porquê meu corpo já não era meu.

[...]

Abri meus olhos quando o alarme tocou me indicando seis da manhã, levantei fazendo toda minha rotina matinal.

Desci as escadas e encontrei minha mãe na cozinha, pela primeira vez em tempos a vi cozinhando, mas eu simplesmente sentia total apatia sobre ela, nem sei se um dia poderia voltar a chamá-la de mãe.

— Como foi a terapia ? — Travei por um instante, aquilo nunca havera acontecido e se aconteceu havia tanto tempo que nem ao menos lembrava.

Nem sabia o que responder, mesmo sabendo como havia sido.

— Normal. — Respondi fria e sem olhar diretamente para ela.

— E enquanto os ataques de TEI? — Perguntou enquanto cortava alguns legumes.

— Diminuram, acho que faz duas semanas que não tenho um ataque. Talvez sejam os remédios. — Respondi preparando uma torrada com geleia.

— Isso é bom. — Sua voz era baixa.

E então o silêncio, um silêncio desconfortável.

Depois que comi algumas torradas, tomei água e saí de casa.

[...]

Estava na enorme biblioteca da escola, sem dúvidas era o melhor lugar para se estudar, silencioso, calmo e repleto de estantes com livros dos mais diversos assuntos.

— Está animada para esse fim de semana? — Elena não perdia uma oportunidade sequer de falar sobre o Back to hell.

— Estranhamente sim. — Sorri.

— É bom ver sua melhora. — Elena me abraçou de repente.

Odiava toque físicos repentinos, mas Elena era minha melhor amiga, meu pontinho de paz por inteiro.

Eu a amava, apesar de ser barulhenta era um doce.

— Já pensou no que vai vestir ? — Elena pegava um livro de matemática na estante.

— Já cogitei numa possibilidade. — Respondi passando os olhos pelos livros ali.

De relance sinto uma mão atrás de mim,  meus instintos se afloram e eu seguro antes que possa realmente tocar em meu ombro empurrando com força a pessoa por trás de mim, fazendo com que ela bata contra a estante de livros.

Sweet pain| EVAN PETERSOnde histórias criam vida. Descubra agora