Capítulo dois

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Por muitas vezes, era difícil lidar com todo aquele furacão que se expandia dentro do meu peito, o exercício de respiração que Olivia, minha psicóloga, havia me ensinado a praticar funcionava quase que raramente, a consequência eram objetos despedaçados, ataques de fúrias e manchas arroxeadas nascendo pelas minhas pernas, usar roupas curtas se tornava cada vez mais vergonhoso e isso me banhava de frustração e ansiedade.

— Acha que foi uma semana difícil? — Olivia estava sentada à minha frente, com um bloco de notas e uma caneta em sua mão.

— Não sei, no fim parece que tudo volta a estaca zero, não me vejo progredindo em absolutamente nada. — Estava sentada sobre uma poltrona de coro.

— E como você está lidando com esse novo semestre ? — Questionou olhando fixamente em meus olhos.

— Você sabe, aquelas manchas surgiram de novo e quando eu penso nisso, me sinto frustrada e o furação se forma. — Estava cansada de me sentir daquela maneira.

— E mesmo depois dessas sessões, você não consegue dizer de onde vem sua aversão a homens e seus ataques de fúrias? — Olivia era uma ótima profissional, mas falar sobre o meu passado me doía a alma, eu simplesmente travava quando lembrava dos meus seis a dezesseis anos.

— Acho que eu nasci dessa forma, não consigo imaginar que tenha outra explicação, acho que nasci errada. — Completei sentindo minhas mãos suarem e minha garganta travar.

— E você acha que seria justo conviver consigo mesma dessa maneira a vida inteira ? — Perguntou Olivia fazendo algumas anotações.

O silêncio que se instalou foi horrível, senti o clima pesar sobre meus ombros e mais uma vez, na intenção de não sentir mais dor alguma, cravei as unhas na palma da minha mão.

— Quero sua sinceridade, Anna. Tudo no seu tempo. — Foi o que Olivia disse.

[...]

— Você vai para o back to hell? — Elena me perguntou enquanto abocanhava seu sanduiche vegano.

— É uma idiotice, mas eu mereço viver como uma jovem normal. — Resmunguei sorrindo fraco.

— Não seja chata, Anna. No back to hell rolam as melhores coisas que rendem fofoca até o fim do ano.

Back to hell era uma festa que os estudantes davam durante à volta as aulas, logo após ás férias de verão. Elena adorava se sentir perto da elite da escola, eu não fazia questão, mas no fundo queria me divertir igual.

— Nós iremos. — Ri soprado. — Já comentaram o tema?

— Hollywood. — Elena sorriu animada.

— O que significa...? — Indaguei.

— Podemos incorporar personalidades do presente ou do passado, ou ir como atores ou atrizes famosos, personagens icônicos de clássicos do cinema, enfim coisas hollywoodianas.

— Parece legal, já pensou no que você quer ir? — Questionei Elena só por sua empolgação visível.

— Algo como "E o vento levou" adoro esse filme, é um clássico e já assisti milhares de vezes.

— Vou pensar em algo legal. — Sorri, aquilo incrivelmente estava me animando.

[...]

Elena e eu estávamos no vestiários das meninas nos preparando para a educação física. Eu ironicamente odiava praticar esportes, mas amava academia, uma verdadeira contradição comigo mesma.

— Meninas! — Uma voz foi ouvida e todos olharam em direção de onde vinha.

Chloe subiu em cima de um banco e chamou a atenção de todas.

— Como vocês devem saber, sou da comissão que está organizando o back to hell aproveitando a empolgação de todas, queria dar um breve aviso; estamos fazendo uma seleção para escolher novas meninas como líderes de torcidas, os requisitos são simples. — Sorriu brevemente.

— Quais seriam? — Sarah, uma garota do 1° ano havera questionado.

— Para ser sincera, Sarah... — Sua voz era totalmente agonizante, cheia de si mesma. — Não ser gorda. — Chloe olhou Sarah com desdém. — Muito menos... Feia. Não me levem a mal, queremos manter uma boa imagem.

Chloe sempre foi mesquinha e nojenta. Queria entender como uma pessoa dessas tem tantas amigas.

— Anna, que tal ? — Elena me cutucava falando baixo.

— Não suportaria um minuto ao lado dessa ai. — Respondi.

— Enfim, pode me procurar, mas caso eu esteja ocupada, entrem em contato com Jennie, ela é como minha secretária assistente pessoal. —Desceu do banco e saiu com suas amigas.

Ao longe, Sarah parecia perdida com as duras palavras de Chloe.

Enquanto caminhávamos até o ginásio de esportes, podíamos observar os meninos no campo de futebol americano.

Ao longe em meios aos outros, vi Evan, ele era alto, quando tirou o capacete, seus cabelos brilharam com o contraste do sol e em poucos segundos, Chloe correu em sua direção o abraçando.

— Vadia de sorte. — Elena balbuciou, porém alto para que eu pudesse ouvir.

"É" pensei inevitavelmente.

[...]

Estava caminhando até minha casa, quando ouço alguém chamar meu nome ao longe. Ao olhar para trás vejo Evan vindo em minha direção segurando sua mochila pendurada apenas de um lado de seu ombro esquerdo.

— Você mora mesmo por aqui? — Perguntou, agora Evan estava ao meu lado.

O bairro que eu morava era considerado nobre, desde que o maldito marido da minha mãe havera morrido, nós deixou uma vasta quantia em dinheiro, havia guardado para fins secretos, jamais procuramos saber o porque dele ter tanto dinheiro em sua conta, não me interessava nada daquele dinheiro sujo. Não me considerava rica, mas levava uma boa vida.

— Sim. — Respondi simplista.

— Caraca, então basicamente somos vizinhos. — Ele sorria, e nunca havera notado o quão bonito era seu sorriso, dentes alinhados e brancos.

— Eu diria que você estava me seguindo se não morasse por aqui. — Ri e Evan também fez o mesmo.

— É estranho, raramente te vi. — Contiuamos caminhando enquanto ele falava.

— Dificilmente saio, não digo que sou social. — Respondi olhando para ele.

— Sério? Você é bem simpática para uma pessoa não social. — Ele continuava falando.

— Acho que você tem uma visão diferente de pessoa simpática. — Rimos em uníssono.

Quando sem perceber, estava de frente a minha casa.

— Bom, vou parar por aqui. — Ele olhou para minha casa e depois direcionou seu olhar para mim.

— Bem, foi bom te acompanhar. — Disse ele.

— Onde é sua casa? — Questionei.

— Daqui a dois quarteirões. — Respondeu ainda me olhando.

— Entendi. — Estava me sentindo um pouco anisosa com aquela situação.

— Vou indo, senhorita Jones. — Se virou e começou a caminhar.

— Então quer dizer que sabe meu sobrenome ? — Perguntei.

Ele se virou-se para mim.

— Todos deveriam saber. — Acenou e virou novamente caminhando e eu o observei até que ele sumisse do meu campo de visão.

Sweet pain| EVAN PETERSOnde histórias criam vida. Descubra agora