Telepathy

22 5 0
                                    

    O rosto já estava seco e sem nenhum resquício de maquiagem borrada pelas lágrimas. Lola encarava as costas de uma Nari animada enquanto escolhia um café para elas. Fazia pelo menos meia hora que estavam juntas e a estilista ainda estava em choque com a aparição repentina da coreana. Se não fosse por ela, provavelmente ainda estaria naquela esquina aleatória chorando por si mesma.

Desde o primeiro encontro com Nari, Lola continuava se surpreendendo com a coreana. Do mesmo jeito que havia aparecido do nada em Seul, Nari tinha surgido como num passe de mágica enquanto a estilista chorava numa esquina perdida de Daegu.

Ela não fazia ideia de como tinha sido rastreada, mas seria eternamente grata por ter sido salva. Seu rosto estava inchado e ela ainda soltava um suspiro mais profundo aqui e ali, mas estava mais calma.

Uma parte dela sabia que tentaria voltar para a casa de Taehyung para pedir ajuda e isso a fazia se sentir mais grata ainda por ter sido resgatada por aquela moça. Quando Nari se sentou com ela, cantarolava uma música que a brasileira não reconheceu, mas gostou imediatamente, provavelmente porque agora gostava de absolutamente tudo que envolvia aquela mulher.

— Depois desse café, vamos voltar a Seul e vai me mostrar seu ateliê. — decretou a coreana colocando uma xícara de chocolate quente em frente à Lola. — Gosta de chocolate?

— Adoro!

— Imaginei. — Nari deu um sorriso e bebeu seu café gelado antes de continuar falando. — Quando me disse que era brasileira, suspeitei que fosse preferir algo mais reconfortante nesse momento.

— Não sei como te agradecer, Kang Nari-ssi.

— Por favor, me chame só de Nari. Somos amigas agora.

Lola a encarou por longos segundos, deslumbrada com aquela moça. Nari era tudo o que a maioria dos coreanos que ela havia conhecido não eram: radiante, atenciosa, gratuitamente gentil e não fazia ideia de como era bonita. Por alguns segundos a brasileira viu nela um pouco da personalidade de Hobi e isso, mais do que o chocolate quente que tinha nas mãos, aqueceu seu coração. De alguma forma sabia que podia confiar nela.

— Por que me ajudou? — Lola perguntou depois de um tempo.

— Você precisava de ajuda, eu tinha como ajudar. Simples. — deu de ombros, fazendo um biquinho com os lábios e alcançando o canudinho como uma criança sapeca. — Muitas vezes perdemos a chance de fazer um grande bem na vida de outra pessoa. Já fui salva uma vez, achei que deveria retribuir de alguma forma. — completou misteriosamente.

— Por que me procurou com o caderno? Podia ter deixado ele na portaria, sei lá…

— Hmm, já que tocou no assunto, eu amei aqueles desenhos. Pareciam preciosos demais para serem deixados com qualquer pessoa, não acha?

Essa mulher é real?” — pensou Lola bebendo seu chocolate para ganhar tempo. De repente já não sabia como agir ou conversar com aquela moça.

    — … O que me leva a pergunta principal: você vende as roupas que desenha? — completou Nari, alheia a observação de Lola. Mal tinha percebido que a brasileira a olhava com novos olhos.

    — Eu costumava trabalhar numa empresa de entretenimento— contou com um suspiro. Pensar na Big Hit a fazia pensar em Taehyung e sentia que não podia se aprofundar muito nisso ou choraria de novo.

    — E você tinha liberdade de criação?! — Nari parecia impressionada. — Por que saiu?

    Lola desviou o olhar para uma televisão atrás do balcão da cafeteria e viu uma propaganda do BTS. Baixou os olhos para sua xícara, tentando ganhar tempo para responder sem dizer muito. Precisava aprender a conviver com a imagem deles em todo lugar. Eram os queridinhos da Coreia, afinal de contas.

    — Fui convidada a me retirar… Acho que minhas ideias são arriscadas demais para o momento em que estão agora. — desviou do assunto com um sorriso triste.

    — Quem saiu perdendo foi eles, confie em mim. — Nari colocou a mão delicadamente sobre a da brasileira e sorriu antes de continuar — Já pensou em ter sua marca própria?

    A pergunta fez Lola levantar os olhos imediatamente, encontrando o sorriso quente de Nari por trás de seu copo grande de café gelado. Fazia menos de um dia que se conheciam e aquela moça já podia lê-la com facilidade. Era assim tão transparente em suas emoções?

    — Eu não quero ser intrometida, mas eu vejo muito potencial nos poucos desenhos que vi em seu caderno. Tem mais coisa? — Nari continuou. Como Lola não respondia, o sorriso diminuiu um pouco, apesar do brilho no olhar continuar o mesmo. — Estou sendo intrusiva, não é? Desculpa. Às vezes eu me empolgo demais com minhas idéias e acabo esquecendo o real motivo de estarmos aqui.

    Delicadamente a coreana deu batidinhas gentis na mão de Lola, lembrando-se de que deveria estar consolando e não falando de negócios. Aquilo fez a brasileira se soltar e sorrir de verdade pela primeira vez em dias. Decidiu que gostava bastante de Nari.

    — Você me lembra um amigo. — respondeu.

    — Bonito? Solteiro?

    Se encararam simultaneamente e começaram a rir juntas. Lola decidiu que, se tivesse a chance, apresentaria aquela mulher a Hoseok e pediria um lugar como madrinha. Tinha certeza que eram almas gêmeas, assim como Jungkook e Julia.

***

Taehyung observou Lola descendo a rua pela câmera de segurança do portão. Queria ir atrás dela, se desculpar de novo, implorar por compreensão, mas sabia que isso só dificultaria mais uma reaproximação entre eles. Tinha sido um tolo de acreditar que fugir e se esconder funcionaria para que voltassem. Agora estava sozinho, sem Lola e com a culpa acumulando no peito.

Quando a imagem de Lola sumiu da pequena tv ligada às câmeras de segurança da casa, Taehyung finalmente ligou o celular. Imediatamente as notificações vieram, seguidas pela última ligação que ele gostaria de atender.

— Taehyung-ssi! Finalmente! — ele não reconheceu a voz, mas sabia que era alguém da empresa. Ouviu claramente a voz de Song Hyun ao fundo, junto com outras que imaginou pertencer aos membros do grupo. Ficou quieto tentando identificar a movimentação do outro lado da linha, mas logo a voz inicial foi substituída por outra.

— KIM TAEHYUNG! — afastou o telefone do ouvido com o grito que Julia deu.

— Ela já foi. Terminamos. — não precisava de muito para que ele entendesse que a maquiadora só estava usando aquele tom por causa da amiga.

— Eu…

O telefone novamente trocou de mãos e dessa vez foi a voz grave de Song Hyun que assumiu a linha.

— Você está bem? Está com alguém? Precisa de ajuda? Posso mandar o médico e…

— Estou bem. Só precisava de um pouco de espaço.

— Taehyung-ssi.

— Eu sei. Vou cumprir meu contrato. — desligou sem dizer nada além disso. Tudo o que tinha agora era seu trabalho. Ia se dedicar a ele e não pensar mais. Seria mais fácil assim.


*********************************************************************************

Nota da autora: não sei se deveria postar esse capítulo já, mas se eu não fizesse isso, essa fic não andaria nunca. Espero que gostem.
Bjs

Bjs

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Scenery (Taehyung)Onde histórias criam vida. Descubra agora