Colocou a caixa no chão e sentiu a fisgada nas costas com seu peso e o da idade. Quase como se tivesse carregando todos os anos de vida dentro dela junto com suas coisas. "Parte" delas, na verdade. Havia seus cadernos de rascunhos, amostras de tecido, fitas métricas, linhas e tesouras, algumas das réguas que tinha mandado vir do Brasil, material de escritório e um caderno pessoal que tinha escondido do "pente fino" que a supervisora tinha passado na sala antes dela finalmente ser mandada embora. Parecia que sabia. Bem, de certa forma sabia, porque seu sexto sentido nunca realmente falhava.
O restante agora era "propriedade da empresa". Não podia sair com nenhum dos desenhos que havia feito depois de ter sido contratada. Tudo pertencia a empresa e seria usado como bem entendessem, de acordo com o que fosse definido para os novos conceitos do grupo. Olhou para o prédio enorme da Big Hit, levantando a cabeça até que pendesse para trás e pudesse ver o topo do arranha-céu que agora abrigava uma das maiores empresas de entretenimento da Coreia. Sentiu o celular vibrar no bolso de trás e ignorou, ainda admirando a grandeza daquela estrutura. E pensar que tinha admirado a empresa por suas conquistas mais recentes. Desceu o olhar e parou no anúncio do telão no prédio ao lado. Nunca se acostumaria com esses telões espalhados pela cidade, trazendo notícias, previsão do tempo, situação do trânsito e, principalmente, muita propaganda. Ali estavam os sete, sorrindo enquanto bebiam a nova água com sua marca. Água do BTS.
O celular vibrou de novo e ela finalmente o tirou do bolso. Sabia muito bem quem era e confirmar isso no visor só fez seu coração encolher mais um pouco. Desbloqueou o celular e leu a quinta mensagem dos últimos três minutos: "eu não sabia!". Deu uma risada sarcástica e estava prestes a responder quando o telão do prédio ao lado começou uma notícia de última hora do site de fofoca local. Ela não gostava nem de mencionar o nome em voz alta. Em letras garrafais, com uma foto que não mostrava nada além de um casal se encontrando, eles anunciavam que V do BTS estava namorando uma idol. Seu sorriso sarcástico virou um esgar e ela bloqueou o celular sem responder a mensagem dele. A moça era muito bonita e ela a conhecia apenas de vista. Mais uma das "conquistas" da empresa que não parava de crescer. Era muito auspicioso ser justo ela a "namorada" de Taehyung.
Baixou o olhar para a caixa com suas coisas e sentiu o celular vibrar de novo, dessa vez de modo incessante. Sabia que era Julia.
— Oi
— Que porra é essa? — perguntou a moça do outro lado da linha. Lola ouviu finalmente o que o noticiário dizia porque estava em alto e bom som ao fundo da ligação da melhor amiga.
— O Taehyung tem uma namorada. — respondeu com a voz monótona, voltando a encarar o telão. Muita gente ao seu redor havia parado para ver a notícia em primeira mão.
— Como assim namorada? Lola, cadê suas coisas? — Julia parou de falar e Lola ouviu a voz de Jungkook entrando na sala.
— A gente se fala depois, Ju. Eu preciso ir. — mentiu. Desligou e sentiu a vontade de chorar vindo com força. — Eu não vou chorar. Eu não vou chorar. Eu não vou chorar — recitou em português. Pegou a caixa com suas coisas, ajeitou nos braços e seguiu em direção ao metrô. Nunca teve medo de recomeçar. Isso não mudaria agora.
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Nota da autora: vamos a mais uma rodada de fic recheada de angst e amor.
Espero que gostem. <3
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Scenery (Taehyung)
FanfictionDepois de viver o conto de fadas perfeito, Lola se vê obrigada a abandonar o emprego pelo qual tanto lutou por conta de um amor que não previu ser tão intenso. Scenery vem contar a continuação da história de Taehyung e Lola depois de se apaixonarem...