Só uma estrela.

896 69 11
                                    

Vivian on

       Não posso dizer que tive uma vida sofrida, tão pouco infeliz, muito pelo contrário, sempre consegui ser "feliz" com oque me proporcionavam. Meu pai é um cara fantástico, mesmo sem entender nada de como criar uma criança ou trocar um mísera fralda se quer, tomou para si essa responsabilidade quando a mulher que me deu a luz me abandonou na porta de sua casa. Sabe aquele caso de verão que rola em festas a beira mar? Então, eu sou fruto de um. Cresci sabendo da verdade e nunca questionei muito a respeito. Não cabia a mim julgar a atitude dela já que até aonde sei, não tinha nem 18 anos quando me teve. Na verdade as vezes eu acho que o simples fato de eu existir já é um milagre.

       Eu não fui a típica adolescente cheia de hormônios que aproveitou cada segundo dessa fase tão importante da vida. Eu fui aquela que decidiu o que iria fazer da vida e perseguiu aquilo até conseguir. Ou seja, minha vida social naquela época e hoje se resume a Netflix, jogos, músicas, livros e redes sociais. Com 28 anos, passo a maior parte do meu tempo trabalhando em casa, sou formada em tecnologia da informações e web designer. Quem me vê de fora acredita que eu tenho tudo e que minha vida é perfeita, mais a verdade é que me sinto só, muito só. As vezes isso pesar tanto que o ar em meus pulmões é insuficiente. Ninguém sabe que existe uma voz lacrada no meu íntimo que tenta implorar por ajuda. Como amo ler, a algum tempo atrás vi algo muito interessantes porém só fui entender de fato o conceito de Magic shop quando conheci o BTS. Acho que o único momento que me sinto eu de verdade é quando vejo os meninos.

— Pepa já disse um milhão de vezes que precisa deixar a luz entrar na sua casa minha filha. - Meu pai gosta de aparecer de surpresa e botar ordem no meu caos.

— Pai pelo amor de Deus! Sabe que não gosto que me chame assim. Já tenho 28 anos. O que as pessoas vão pensar se ouvirem isso? - Protesto enquanto o ajudo com o restante das janelas.

— E quem mais vai nos ouvir? - Diz revirando os olhos.

— Aliás, de onde foi que você tirou esse apelido? - Questiono o atirando no sofá.

—Você era tão fofa quando pequena e quando ganhou aquele pijama com orelhinhas eu não tive dúvidas. Parecia um pequeno panda. Aí encurtei pra facilitar. Pe-pa entendeu?

       Pra ele aquilo fazia todo sentido mais para mim ainda era vergonhoso, fofo admito, mais vergonhoso.

— Tá bom pai, mais promete que não vai me chamar assim na frente de ninguém? - Pergunto quando ele se senta do meu lado.

— E quando foi que eu fiz isso? Nunca te chamei assim na frente de ninguém.

— Senhor Juarez Junqueira! Deu pra mentir depois de velho?

—Velho? Como assim ? Seu coroa está melhor que muitos de 20 anos por aí e me diz quando foi que eu fiz isso.

— Primeiro semestre na faculdade. O senhor apareceu no campus com um lanche me chamando aos berros por esse apelido.

— E agora um pai não pode demonstrar preocupação com sua única filha?

      Acabamos rindo juntos relembrando os velhos tempos.

— Vai ficar quanto tempo desta vez pai?

— Só vim te dar um oi. Vou ficar uns 4 dias. No sábado tenho um campeonato e não posso perder. Bem que você poderia ir ver seu pai ganhar dos novinhos e surfar como nunca.

— Agradeço o convite, mas, praia não é muito a minha e pra ser bem sincera, tenho 4 projetos para terminar e me enrolei o suficiente pra estar mega atrasada. Eu prometo que vou no fim do ano.

— Tudo bem Vivi. Ainda acho que você devesse socializar mais, porem não posso te forçar a isso. Mais tenho uma condição para te deixar em paz. Janta comigo hoje?

— Meu Deus quanta chantagem emociona seu Jura. Claro que sim. Quem escuta isso acha que sou uma filha desnaturada. - O abraço com força.

— Você é a melhor filha que um pai podia querer. - Beija minha testa me deixando feliz.

      Enquanto meu pai voltou a pousada na qual está hospedado, me apresso a adiantar dois dos projetos, pois pretendia trabalhar neles a noite. Não podia dizer não ao meu paizinho. Finalizo tudo que consigo e corro me banhar. Visto algo quente pois a noite aqui na serra costuma esfriar um pouco, mesmo que ainda estejamos no outono. Maquiagem leve e nem sei por que passei isso hoje, já que normalmente não uso. No horário marcado, papai está a minha porta.

— Uau como esta linda.

—-
São seus olhos pai. Vamos?

        Nosso jantar é regado por boa comida e muita conversa. Seu Jura me conta vários "causos" que lhe aconteceram recentemente.

— Achei que ia no show daquele grupo que você tanto gosta, como é o nome mesmo? B...BTB?

— É BTS e o show era em Las Vegas. Esgotou tudo em pouquíssimo tempo. Nem tentei. - Respondi seria.

— Que pena. Devia tentar na próxima.

— Quem sabe.- Respondi.

— Vivi eu conheci alguém. - Seu Jura nunca havia aparecido com uma namorada, sempre priorizou a minha criação, então para estar revelando isso deve ser muito especial. — Vou entender se..

— Pai. - Seguro sua mão. — Por 28 anos o senhor dedicou-se apenas a mim. Já está na hora de pensar em você um pouco. Vou adorar conhece-la quando o senhor estiver pronto. - Ele nada diz apenas me abraça e acho que isso vale mais que mil palavras.

Narrador on..

        Depois que pai e filha se despediram, ela corre para a grande sacada do quarto de hóspedes e segue Seu ritual diário. Pega um cobertor e arruma delicadamente junto com algumas almofadas no chão mesmo. Volta a cozinha e faz seu chocolate quente, pega seu notebook e seu celular e volta a se acomodar para admirar o céu estrelado. Começa a assistir seus meninos, como chama o BTS e se permite ser apenas ela mesma. Para algumas vezes para ver melhor a lua e toda a imensidão que seus olhos alcançam. Já passava das três da manhã quando ela avista uma estrela cadente. Sem pensar muito na situação, Vivi apenas atende o desejo mais profundo do seu coração.

— Eu desejo estar com as pessoas que mais amo. Aquelas que me fazem ser eu mesma.

       O que Vivi não sabia é que em algum lugar bem distante dali, uma das sete pessoas que ela mais ama no mundo também fazia um pedido a uma estrela cadente.

—" Por favor, que possamos ter um refúgio. Um lugar no qual podemos ficar protegidos do mundo. Um abrigo. Um lugar de paz. Um lugar só nosso."


Like Magic.Onde histórias criam vida. Descubra agora