💀Jack In The Box💀

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Jack 

Hoje é um ótimo dia para matar. Frio, nebuloso e quieto. 

Jennie está um pouco animada pela mudança. Acho que fará bem para nós dois nos libertar da casa em que sua mãe imunda dividiu conosco até seu último suspiro inútil. 

A viagem é em dois dias, e já comecei a estudar sobre a cidade e o bairro escolhido pela própria Jennie. É do jeito que gostamos, similar a um cemitério; silencioso, pouco iluminado, estabelecimentos duvidosos e pessoas simples. 

Ótimo para camuflar a minha arte enquanto está sendo moldada.

Os restos mortais de Irene serão expostos na galeria de artes do pintor Agust D. Prometi levar o projeto em uma semana para ser ainda mais reconhecido e assim chamar a atenção de novas vítimas, como de costume.

Pequenas partes do corpo humano banhadas de gesso formando um novo corpo totalmente macabro e poderoso. Eu o chamarei de "Renascimento" no momento em que pisar no chão asiático que abraçará a mim e a arte mais perfeita do mundo.

  — Está sangrando. — A voz infantil atrás de mim me faz olhar para o líquido tornando-se um vermelho marcante no gesso. 

  — Não deveria estar aqui.

  — Eu sei, é que... — Uma pausa, sua boca pequena forma uma linha e seu olhar levanta decidido. — Sinto sua falta, papai. Está trabalhando nisso há dias, e não temos mais o Dia Doce. A paçoca é a única coisa que nos une desde sempre, mas é inútil agora. 

Braços pequenos rodearam minha cintura, mas continuei imóvel. Não pelas palavras de afirmação, e sim pelo contato físico que nunca existiu entre nós. Jennie me aperta quando tento tirá-la, porém ela é como uma cobra faminta que insiste em me segurar firme.

Minha arte sangra. Minha filha parece estar ferida também. Pela primeira vez me vejo ignorando a arte para retribuir o abraço da minha maior inspiração.

  — O papai precisa terminar isso ainda hoje.

  — Estava pensando na morte. E se eu morrer primeiro que você? 

  — Você não vai morrer primeiro que eu, Jen. — Falei, acariciando sua cabeça. — Não pode morrer.

  — Mas, e se...?

  — Então também morrerei, todavia, da forma mais dolorosa e cansativa. — Beijo o topo de sua cabeça. — O papai morreria vagarosamente.

  — Como se uma agulha fina, porém enorme, fosse perfurando seu coração lentamente? 

Sorrio desacreditado antes de responder: — Você é a garota mais inteligente que eu conheço.

  — É por isso que me mantém viva? — Indagou. — Porque a mamãe era burra?

  — Exatamente. 

(...)

Odeio crianças, mas amo minha filha.

Estamos há algumas horas no voo e tem uma criança gritando de chorar na mesma cabine em que Jennie pegou no sono. 

Estou massageando minhas têmporas como a maioria dos passageiros enquanto a mãe tenta acalmar a criança que não aparenta ter mais de dois anos. E com a falta de paciência que habita em mim, entretanto, com a necessidade da aprovação alheia, me disponabilizei para ajudar a mulher.

Mãe solteira, e de primeira viagem. Ficou completamente surpresa com a minha habilidade de fazer seres pequenos fecharem a matraca. 

Infelizmente, não pude fazer o mesmo que fazia com Jen quando necessário. Ninguém ali acharia normal me ver enfiando o dedo na garganta de uma criança até ela quase desmaiar para dormir.

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