Capítulo 6

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— P'Venice, seu idiota!

Noeul estava tão desesperado em fazer o maior soltar o rapaz que outrora o importunou, que acabou demorando para perceber com quem exatamente estava falando.

O de cabelos longos não gostando nem um pouco de ser chamado daquela maneira, erguendo a sobrancelha e cruzando os braços em descontentamento antes de virar na sua direção. A voz grave levando Nuttarat a revirar os olhos e bater os pés no chão.

Idiota?

Um silêncio mórbido recaiu.

— Não me diga que... —Syn, que até o momento havia sido esquecido pelos outros dois, continuou tentando ligar os pontos, rindo com confusão e incredulidade.

— O que há de tão engraçado? — E, por mais que tivesse voltado ao seu estado habitual, Venice ainda podia ser facilmente irritado.

Ele, entretanto, não se encontrava preparado para o tapa de mão cheia que levou no braço direito.

— O que caralhos você pensa que está fazendo?

— Isso é por ter sumido! — Noeul estreitou os olhos e desferiu mais um golpe, enquanto o maior só podia se afastar para desviar da agressão, sentindo a picada com indignação. — E isso é por ter me abandonado sozinho no hospital! O que você pretendia, hein? Me deixou preocupado! Por um tempo eu achei que você sequer existia, que tudo era fruto da minha imaginação!

Syn não segurou a risada, se divertindo com o pânico evidente de seu familiar, enquanto torcia para o amigo acabar com ele.

Até porque, não era todo dia que Venice Theerapanyakul conseguia ser desestabilizado por alguém. Se ele bem lembrava, Pete havia sido o único capaz dessa proeza.

Talvez devesse manter Nuttarat por perto mais vezes...

— Você— O citado começou, mas foi interrompido pelo garoto de fios castanhos claro, que naquele momento parecia muito frustrado para conversar civilizadamente.

— Não, esqueça, você é tão malvado! — Noeul continuou repetindo xingamentos, arrastando o cabelo para trás e tremendo que nem um Pinscher. Se vendo num estado tão absorto de nervos, que nem a presença silenciosa de seu novo amigo seria capaz de impedi-lo de explodir. O pico de adrenalina dos momentos atrás recaindo com tudo em seu corpo.  — Acha que pode brincar assim com os meus sentimentos, que pode sumir por dias, me deixar com medo, para simplesmente aparecer de novo? Humpf! Agora sou eu quem não quer mais falar com o Pi.

Syn arregalou os olhos quando viu lágrimas enfeitando o rosto do jovem estudante de arquitetura, ao passo que Venice não sabia exatamente o que dizer, chocado com a repentina mudança de atitude do menino, que parecia tão pequeno e indefeso minutos antes.

Ele até tentou segurá-lo pelo braço, mas o mesmo se desvencilhou com agilidade.

— Noeul, ei, garoto estúpido, escut—

— Me solta, eu preciso ir para a minha sala de aula!

...

E foi assim que o mais jovem saiu, de passos apressados para dentro do seu departamento, sem olhar para trás uma mísera vez.

— Noeul!

O silêncio que reinou naquele largo solitário poderia ser capaz de congelar qualquer um que cruzasse pelo local. Venice repassou cada um dos acontecimentos com calma, como se não acreditasse no que tinha visto.

Impossível aquele ser o mesmo garotinho assustado que ele ajudou dias atrás.

— Eu acho que você fez merda...  E nem me olhe com essa cara, sabe que isso não funciona comigo. — Syn debochou, os dedos apontando para ele, antes de dar de ombros e ajustar sua bolsa sobre o ombro. — Boa sorte para consertar as coisas, irmãozinho, eu vou assistir a minha aula também.

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