Querer

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Albus Potter e Scorpius Malfoy acabaram se aproximando mais após o evento da Torre de Astronomia, causando estranhamento aos alunos e ao corpo docente de Hogwarts. Ambos conversavam pelos corredores, sentavam juntos nas aulas que tinham em comum e há quem diga que foram pegos fora dos dormitórios perto da Torre de Astronomia mais de duas vezes. Potter e Malfoy curiosamente tornaram-se uma dupla que ninguém esperava acontecer, entretanto interessante de presenciar.

Ambos estavam em um dos vários pátios existentes em Hogwarts, debaixo da grande árvore que cobria o local. Era sábado de visita para Hogsmeade, então o castelo estava vazio, quase inteiramente só para a dupla. Scorpius estava deitado, vestia roupas folgadas e suadas, havia saído de um treino rotineiro de Quadribol. Era apanhador, e um dos melhores que já pisaram em Hogwarts, superando até mesmo Harry Potter. Scorpius fazia manobras arriscadas que mais ninguém conseguia imitar, desde ficar de ponta cabeça para pegar o pomo a ficar em sua vassoura com apenas uma mão, era surreal!

Albus observava Scorpius de relance, e depois passava a rabiscar em seu caderno de desenhos. Estava treinando uma nova técnica usando o outro de cobaia, e não mentiria dizendo que não estava ficando bom.

- O que está desenhando? - Scorpius perguntou, levantando-se do chão para encostar suas costas na árvore.

- Você - Albus respondeu, virando o caderno para o outro ver sua criação. - Gostou?

Scorpius analisou por um tempo, sentindo-se estranho. Albus era uma das pessoas mais sinceras que já havia conversado até então, e arriscaria dizer que estavam criando um laço de amizade. Ele não desenharia uma mentira, certo? Ele não era daquele jeito, Scorpius não era magro do jeito que estava desenhado.

Não que também foi alguém com problemas de obesidade, longe disso. Mas ele não era magro. Na verdade ele era como um porco. Um grande e rechonchudo porco.

- Eu adorei mas eu não sou assim, Albus...

- Assim como?

- Eu não sou desse jeito. Eu não sou bonito

Albus fechou seu caderno e isso fez com que emitisse um som alto e seco, olhando para o garoto na sua frente com feições estupefatas. Claro que beleza e feiura são relativas e que cada um possui seus ideais de feio e bonito, mas não há alguém que fale que Scorpius Malfoy era feio, muito pelo contrário: Malfoy era um dos garotos mais cobiçados de toda Hogwarts!

- Eu realmente não sei sobre suas inseguranças nem nada, mas nem fodendo que você é feio, Scorpius!

- É claro que eu sou, Albus! - Scorpius começou a soar abalado. - Olha para mim: Meu nariz parece um focinho de porco, eu uso glamour nos meus dentes pois eles são separados e esquisitos e eu preciso perder peso mas todos os meus esforços estão sendo em vão porque sempre vejo a mesma aberração toda vez que me olho no espelho!

Albus por um momento não soube o que fazer. Scorpius inspirava e expirava fundo, sua cabeça entrou em combustão, a vozinha irritante que vivia ali gritava alto. Ele não deveria ter falado nada sobre, Albus estava observando-o com aqueles olhos verdes que o deixavam louco, mas o olhar transmitia pena. Não estava gostando daquilo.

Albus gentilmente tocou sua mão com a dele em um gesto de conforto, mas Scorpius desviou do toque e rapidamente se levantou.

- Eu não devia ter dito isso, desculpa! - pediu, admirando que a sua voz não estava falhando. Rapidamente juntou suas coisas e se pôs a falar novamente. - Eu estraguei tudo, eu vou embora

- Não, Scorpius! Espera! - Albus pediu levantando-se rapidamente para tentar alcançar Scorpius, sem sucesso. - Merda! - Bufou, olhando novamente para o desenho que havia feito quando pegou o caderno.

- Hey, Albus!

Albus fechou o caderno quando ouviu a voz de Daverson lhe chamar não muito longe. Tentou seu melhor sorriso para desviar-se de alguma pergunta sobre o que aconteceu, e pareceu funcionar. Ethan aproximou-se e rapidamente o puxou para um beijo intenso, não se medindo em apalpar a cintura e uma parte do seu bumbum, o deixando nervoso. Albus nunca sabia reagir quando era beijado daquela forma.

Ficaram algum tempo assim, se beijando de maneira um tanto quanto fogosa, fazendo Albus esquecer por alguns instantes de Scorpius e sua fuga de minutos antes.

•─ ✾ ─•

Era insano desejar o filho da maior inimizade do seu pai, mas Scorpius Malfoy não conseguia não se encantar por Albus Potter.

Albus era, sem sombra de dúvidas, o garoto mais atraente que ele já havia admirado pelos cantos do enorme castelo de Hogwarts. Só de lembrar dos pequenos detalhes, ele ficava louco. A maneira como Albus andava, olhava para algo quando estava perdido em pensamentos, seus cachos escuros balançando com o movimento da cabeça ou até mesmo o jeito estranho de segurar a pena e a varinha entre os dedos indicador e médio da mão esquerda... Tudo em Albus era perfeito. Desejava ter a chance de o conquistar da maneira mais vagarosa e aprazível possível.

Entretanto, Scorpius guardava tudo aquilo para si, era seu mais profundo desejo na qual jamais realizaria com o garoto que atualmente saía com um dos maiores fornecedores de coisas ilícitas da Slytherin, Ethan Daverson.

Scorpius não julgava Albus por estar saindo com Daverson, não mesmo. Daverson era atlético, delgado e a própria definição de perfeição de acordo com toda Hogwarts. Scorpius não era nada daquilo. Era gordo como um porco, guloso como um porco, desastrado como um porco... Era a própria personificação de porco de acordo com seus avós. Ele jamais poderia ser escolhido para ser um rei do baile se houvesse essa porcaria em Hogwarts.

Suspirou aliviado quando chegou ao banheiro desativado do segundo andar em Hogwarts, deixando a mochila de Quadribol em um canto qualquer do banheiro, indo em direção às pias, onde estava disposto um grande e sujo espelho a refletir sua imagem.

Olhar o espelho era como olhar o próprio inferno.

Scorpius se odiava, se odiava em um ponto onde simplesmente não queria ser quem era, e sim qualquer outro garoto. Queria ser delgado e atlético como seus colegas de time, queria ser atraente para conquistar meninas que ao menos era interessado por ideais ultrapassados de sua família, queria ter o corpo perfeito para que não lhe enchessem a porra da paciência em afirmar que estava acima do peso por comer descontroladamente como um porco faminto.

Scorpius queria ter o corpo perfeito para ser feliz.

Encarou seu não mais que asqueroso reflexo, odiando cada detalhe ali existente. Odiava suas bochechas fartas, odiava seu pescoço farto, odiava seu tronco farto, odiava toda a fartura de seu corpo. Ele precisava emagrecer, ele tinha o dever de emagrecer!

A fúria dentro de si era tanta que ousara socar o espelho do banheiro em que estava sem pensar duas vezes. O barulho do despedaçamento do objeto contra a pia de mármore era pesado, mas pouco ligava se alguém fosse ali ver o que havia feito, ninguém entenderia e se importaria a tal ponto de assimilar o que acontecia consigo. Desejava morrer e não ter que enfrentar mais toda aquela pressão estética que lhe forçavam a engolir quieto. Foda-se se aquela contusão infeccionasse, poderia correr pela sua corrente sanguínea e o matar aos poucos, agradeceria por isso.

Seus olhos ardiam e sentia suas bochechas molharem, e rapidamente limpou as malditas lágrimas em seus olhos tão castanhos como eram os de sua mãe, sujando sua apagada e mórbida tez com a tonalidade carmim de sua hemolinfa. Seu reflexo distorcido no despedaçado espelho lhe apavorava e revirava seu estômago. Ele nunca seria magro, ele nunca seria perfeito, ele nunca teria a chance de poder conquistar Albus e ao menos terem a porra de um beijo.

Pegou sua mochila e saiu do local o mais rápido possível, a qualquer momento poderia aparecer a tagarela e fofoqueira da Murta ou qualquer outro fantasma que ali ficava. Não queria suas fraquezas expostas a mais ninguém naquele inferno de araque que era obrigado a frequentar desde o começo de sua fatídica adolescência.

Flowers and ButtlerfliesOnde histórias criam vida. Descubra agora