Flowers and Buttlerflies

Dever

Outubro havia chegado tranquilo, e o outono estava mais frio que o normal, fazendo com que Scorpius usasse mais camadas de roupas. A temporada de Quadribol começaria mais tarde naquele dia, e Malfoy estava nervoso, almoçando com um pouco de pressa. Em Hogwarts, a emoção dominava os estudantes pela temporada estudantil do esporte favorito do mundo mágico que se iniciava, com Slytherin e Ravenclaw em destaque por serem rivais naquele dia. Os pensamentos de Scorpius estavam em fúria, correndo pela sua cabeça em completa desordem, o deixando ansioso. Ele tinha o dever de ganhar aquela partida, tinha o dever de pegar o pomo. Tinha o dever de continuar sendo o melhor apanhador desde que pisara naquele campo pela primeira vez.

Era automático colocar mais comida em seu prato, era uma válvula de escape antiga, mas perceber que estava comendo um prato muito cheio o assustou. Não deveria comer tanto antes do jogo, passaria mal e até mesmo colocaria para fora por conta de suas manobras difíceis. Procurou por uma pequena vasilha de limões que era disponibilizada para tempero e pegou dois de uma vez, cortando ao meio, iria despistar sua "fome".

Levantando do canto da mesa que estava, reparou que não muito longe de si estava Albus junto de Daverson e alguns outros garotos, poucos ele reconheceu ser da equipe de Quadribol da sua casa. As feições de seu maior apreço eram de desinteresse, seus dedos brincavam com o cabo da sua varinha e seus cabelos estavam presos em um rabinho alto, deixando os fios próximos da nuca soltos. Poderia admirar a careta de tédio de Potter por horas a fio, mas quando os olhos de Jade de Albus encontraram os seus, Scorpius ruborizou, sentindo o gosto azedo do limão descendo pelo seu esôfago ao engolir em seco.

Havia sido pego encarando seu maior apreço enquanto chupava limão, definitivamente não havia algo mais vergonhoso que isso.

Albus acenou para si, e Scorpius, abobalho, devolveu rapidamente. Potter conversou algo com Daverson que somente gesticulou e continuou a tagarelar com o grupo de amigos, colegas ou o que fosse. Reparou que Albus bufava ao revirar os olhos e levantar da mesa, indo em direção às grandes portas do salão principal, sumindo segundos depois. Scorpius odiava a maneira que Daverson tratava Albus, como apenas um mero alguém que beijava e acariciava obscenamente durante as festas na comunal e fingia que não existia o resto do tempo, apenas um mero objeto para satisfazer seus desejos. Potter definitivamente merecia alguém melhor que um traficante de quinta, mas seria constrangedor - para não dizer humilhante - se fosse ele. Scorpius era um porco ambulante, não merecia alguém tão perfeito como Albus Potter.

Sentia seu estômago revirar ao pensar em ser rejeitado por Albus, tinha vezes que chegava a quase desmaiar pela possibilidade. Desde a primeira vez que o viu com mais atenção sentia que seu corpo entraria em combustão, Albus o deixava tão inebriado quanto uma droga e isso o enlouquecia, simplesmente não o tirava da cabeça.

Largou o limão em cima de um prato e foi de maneira não tão calma até o banheiro mais próximo, seus pensamentos gritando "coloque para fora, coloque tudo para fora". Seu corpo agia no automático, e quando menos percebeu estava limpando o rosto pelo esforço que fizera para vomitar todo seu almoço, sentindo dor na sua garganta, encostando as costas contra a parede do cubículo da cabine, sua respiração tão pesada que sentia que iria colapsar. Dar descarga foi uma reação rápida, se ele não visse não sentiria culpa.

Porém, mesmo sem ver, se sentia culpado.

Fechou os olhos, tentando acalmar os pensamentos que corriam desgovernado em sua cabeça. Soluçou alto, sentindo seu rosto aos poucos umedecer pelas lágrimas, lavando sua tez.

Scorpius não queria ter o dever de fingir ser o que não era.

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Suas mãos tremiam pela ansiedade, tinha que se acalmar porém quanto mais tentava mais falhava, então simplesmente desistiu. A Goles era disputada por Koch e uma jogadora Ravenclaw, mas a Slytherin estava na frente com 50×30. Uma rebatedora da Slytherin, García, lançou um balaço em direção à artilheira da Ravenclaw, deixando o caminho livre para Koch marcar mais dez pontos, fazendo a torcida da casa vibrar na arquibancada por estarem com o dobro de pontos da casa rival.

Enquanto procurava pelo pomo de ouro, sentiu um mal estar, uma tontura. Era a consequência de ter colocado todo seu almoço para fora antes do jogo começar, ele sabia, mas ele precisava focar em achar o pomo antes de qualquer coisa. Se ele achasse o pomo antes de desmaiar ficaria tudo bem, ele teria cumprido seu dever.

Mesmo tonto, apercebeu-se que o apanhador da casa rival mergulhou em direção ao chão perto dos aros da sua equipe, e Scorpius não tardou de seguir. Poderia ser péssimo procurando a pequena bolinha dourada em alguns jogos como aquele, sempre deixava para o time adversário achar, mas era bom em perseguição, tão ligeiro quanto uma ave de rapina. Não tardou de estar rente ao apanhador adversário, quase colado, perseguindo a bolinha dourada. Scorpius agrupava toda a sua força para não desmaiar durante a partida, mas não sabia por quanto tempo poderia aguentar. Sentia o corpo mole e seu corpo esquentar de uma maneira estranha, mas não iria ceder. Não era seu dever ceder!

O pomo de ouro subiu ao céu um tanto quanto nublado, e depois mergulhou de volta ao estádio. O apanhador adversário não teve um bom reflexo e acabou por trombar com um grupo de artilheiros, fazendo-se a maior confusão. Mas Scorpius não ligou para isso, pois ele tinha o dever de pegar o pomo.

Esticou o braço, sua mão mostrava claramente sua tremedeira e moleza, seu olhar semicerrava à medida que se aproximava mais e mais do pomo, seu corpo começando a não aguentar mais. Sentiu de leve as asas do pomo, e o envolveu em sua mão, seu dever havia sido cumprido.

Mais relaxado, a poucos metros do gramado, Scorpius finalmente pôde deixar o cansaço lhe dominar, sendo a algazarra pela vitória a última coisa a se recordar antes de desfalecer contra o gramado do campo de Quadribol.