Sem mais penas em seu rosto e mãos, Scorpius apertava a barra da roupa hospitalar que usava, extremamente nervoso. Havia uma cortina separando a maca de Albus do resto do quartinho que estavam, junto de feitiços de privacidade. Scorpius sentia seu coração palpitando rapidamente, esperando pelo que viria após ser encontrado de maneira mais íntima com Albus.
Longbottom havia sido o primeiro a ter alguma reação e se aproximar de Albus, chamando sua atenção. Albus tinha ficado agitado novamente e Scorpius afastou-se para que Madame Williams se aproximasse e examinasse o garoto, sentando na maca que estava até aquele momento.
Albus estava acordado, então significava que estava bem, certo? A sensação da sua tez não saía da cabeça de Scorpius, sentia seu corpo quente, era uma sensação gostosa que corria por ele todo. Sentiu suas bochechas avermelharam-se, e sorriu levianamente. Tinha se aproximado de Albus, tocado sua bochecha, mesmo que por pouco tempo, mas estava feliz por isso.
Madame Williams saiu das cortinas com um frasco de cor amarelada em suas mãos, sentou-se ao lado de Scorpius e ofereceu a poção para o garoto, que torceu o nariz para o cheiro forte.
- Sei que é ruim mas garanto que é para o seu bem - A mulher informou, ainda com o frasco erguido na sua frente. - Beba aos poucos, certo?
Scorpius pegou o frasco e tampou o nariz, levando-o à sua boca e tomando exatos seis goles antes de parar, soltando uma exclamação pelo gosto igualmente forte. Foi assim em mais duas rodadas, até o frasco esvaziar. Sentiu-se mais relaxado, e entregando o frasco para a enfermeira, deitou-se novamente na maca que estava ocupando.
- Malfoy, vou ser sincera com você, certo? - Scorpius assentiu com a cabeça, Madame Williams coçou a garganta antes de continuar. - Eu vou conjurar um espelho e você vai me dizer o que você enxerga
Scorpius confirmou com a cabeça novamente, mas a contragosto dessa vez. Madame Williams fez surgir um espelho de corpo inteiro, e Scorpius levantou-se rapidamente para dizer o que sempre via, que era gordo como um porco e...
Scorpius parou. Sua respiração prendeu-se por alguns segundos, as penas voltaram a surgir em seu rosto pelo estado de choque que se encontrava. Tentava falar, mas não conseguia, sua voz simplesmente não saía.
Scorpius sentia-se em um conto de terror, não havia outra definição para sua atual situação.
Estava tão magro que parecia um defunto em decomposição.
Seu rosto literalmente esculpia todos os ossos presentes em sua face, e seu corpo parecia ser uma carcaça formada apenas de pele e ossos. Seus olhos estavam marejados, destacando a cor castanha deles. Estava devastado, como havia acabado consigo daquela maneira? Parecia um cadáver! Puxou os cabelos loiros da sua cabeça, e levou as mãos para a frente de seu rosto ao perceber que havia muitos fios nelas.
Seu cabelo estava caindo.
Não conseguia falar nada. Seu corpo tremia consideravelmente enquanto raciocinava que estava tendo queda de cabelo. Puxou mais um pouco dos fios para perceber que aquilo não era um louco sonho. Soluçou alto antes de deixar-se ajoelhar no chão, abraçando a si próprio, deixando suas emoções fluírem de seu ser por seu atual e preocupante estado.
Ele era fraco, verdade seja dita. Deixou-se levar pelas provocações dos avós e acreditou fielmente que era um porco ambulante e que precisava estar dentro de um padrão para conseguir o orgulho deles. Pouco importava se pulava refeições importantes ou se vomitava para eliminar o tão pouco que comia, pouco importava se fazia rotinas de exercícios duros e entrava em dietas restritivas... Ele precisava fazer aquilo ou viveria sendo importunado pelos avós e seus pensamentos obsessivos. Já até havia causado a demissão de uma empregada da mansão por ter pedido para ela trazer escondido diabinhos de pimenta para si e ser descoberto pela avó, não precisava causar mais problemas pela sua compulsão alimentar.
Sentiu um par de mãos em seus ombros, e olhou para a enfermeira que olhava para si com compreensão. Scorpius preferia pensar que era isso ao invés de pena, seria humilhante pensar sobre ele mesmo daquela forma.
Madame Williams guiou o garoto para sentar-se na cama que antes ele ocupava dormindo. A mulher preta pegou suas mãos pálidas e de aparência moribunda, alisando as mesmas, esperando Scorpius estar um tanto mais calmo para continuar. Ele parecia frágil como papel, estava com o peso muito abaixo do recomendável para seu corpo.
- Malfoy, como enfermeira eu tenho que garantir que todos os estudantes desta instituição estejam saudáveis, e não digo isso apenas fisicamente. Preciso que você seja sincero comigo e diga tudo, nada do que vamos conversar aqui irá para fora
Scorpius olhou para a cortina, onde dava para ver a sombra de Neville e Albus, mas nenhum som era emitido pelo feitiço de confidência.
- Nem mesmo eles, Malfoy - A enfermeira deu a garantia. - Estamos com um feitiço de confidência forte.
Scorpius respirou fundo, segurando, ou pelo menos tentando segurar, sua ansiedade. Pensamentos corriam desgovernados em sua cabeça, questionando se cederia a falar ou não.
- Eu chuto que isso tem relação com a sua família, não é? Eu percebi que você é bem... Reservado por aqui em Hogwarts
Scorpius tinha seus lábios mais trêmulos e os olhos levemente apertados, como se quisesse segurar o choro. De fato era sozinho naquele maldito lugar, ninguém queria ser seu amigo por ser filho de quem era. Sem contar os diversos boatos a cerca das suas origens e de ser filho do maior vilão da história do mundo bruxo. Ficar sozinho havia sido a solução em meio aquele caos todo que vivia em Hogwarts.
Porém ele desejava ter uma válvula de escape, ter alguém para conversar e se divertir, ter alguém para compartilhar seus passatempos secretos que eram o ballet e a datilografia. Mas ele não tinha, e admitir isso naquele momento era como uma amarga e odiosa derrota.
Madame Williams, no entanto, parecia querer lhe ouvir, e esperava pacientemente por sua resposta. Então sem ter mais como escapar daquele momento, Scorpius simplesmente falou.
Desde a morte da mãe à implicância familiar vinda dos avós, desde a ausência do pai e seus interesses de quase todos os campos possíveis de se lembrar naquele momento, Scorpius falou. Madame Williams não o atrapalhou nenhuma vez, o ouviu atentamente por horas a fio. Quando Scorpius finalizou, já era começo de noite, mas isso não incomodou a enfermeira. No final, a mesma deu um abraço no Malfoy, surpreendendo o garoto.
Era o mesmo abraço que a sua mãe lhe dava.
Scorpius apertou fortemente Madame Williams contra si, desabando de chorar. Sentia dor pela respiração falha, seus rosto escondido contra seu ombro. Era apenas isso que Scorpius precisava, somente de um abraço. A enfermeira acariciava seu cabelo de leve, o acolhendo em seu abraço quente e reconfortante, e Scorpius não tinha forças para sair dali, parecia como uma criança.
Mas isso não importava, agora Scorpius havia finalmente se permitido ser imperfeito, permitido finalmente se desmontar.
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Flowers and Buttlerflies
FanfictionO quão forte pode ser o jovem amor para superar o dinheiro velho? O quão profundo pode ser os segredos? O quão longe pode as aparências enganar? O quão distante pode-se ir por alguém? Mas acima de tudo: O quão intenso pode ser o renascer e o floresc...