Capítulo 33

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Gizelly Bicalho | Point Of View

Quando eu cheguei na casa das minhas irmãs, me atrapalhei toda na pequena escada de acesso a entrada. Ralei meus braços e cortei levemente o queixo, nada de novo sobre o céu de Gizelly Bicalho. Cair pelos cantos não é algo novo pra mim, já é algo que eu estou acostumada.

Agora estou aqui sofrendo com esse remédio que Mari está passando nos machucados, esse negócio arde como o inferno. Já não basta a dor do machucado, o remédio tem que doer também?

– Para de resmungar, só arde um pouquinho. - Mari falou passando o algodão com o líquido nele.

– Arde só um pouquinho... – Resmunguei imitando ela.

– Você é um bebezão isso sim. – Ela deu uma risadinha. – Prontinho, vamos deixar os machucados respirarem. Quando você for se deitar eu coloco um curativo nesse queixo.

– Obrigada, Mari. – Agradeci suspirando triste.

Esperei ela terminar de guardar o kit de primeiros socorros e depois lavar as mãos, então saímos juntas do banheiro. Fomos para a cozinha onde Bianca estava colocando comida para mim, contra a minha vontade.

– Aqui Gi, come tudinho... – Bianca colocou um prato na minha frente, tinha um pouco de salada e carne cortada em cubinhos.

– Eu estou sem fome. – Falei encarando o prato na minha frente.

– Mas precisa comer, não faz bem ficar de estômago vazio. – Mari falou me fazendo encará-la e sorri. – O que foi? – Perguntou me olhando curiosa.

– Você vai ser uma mãe maravilhosa. – Falei e ela sorriu.

Mari me abraçou de lado e insistiu que eu comesse nem que fosse somente um pouco, por isso me dei por vencida e comecei a me alimentar em silêncio. Meus olhos estavam focados na comida e minha mente em Rafaella, com medo de Sebastião conseguir afastar ela e meus filhos de mim.

– Gi... – Bianca me chamou e eu olhei em sua direção. – Me desculpe pelo o que nós fizemos. – Ela se referia a ela e a nossa mãe. – Nós pensamos no bem de vocês e da nossa família, Marcela não nos deixaria em paz. - Minha irmã gesticulou.

– Eu conversei muito com a mãe e a Bianca hoje de tarde, o que elas fizeram foi pensando em você e na Rafaella. Tudo bem, mas passaram por cima de um desejo seu, e esse é o ponto que eu acho que todos estão errando faz tempo. – Mari fez uma pausa, pegou um guardanapo e limpou delicadamente a minha boca. – Todos sabemos da sua dificuldade motora, sabemos que você precisa de uma atenção nesse sentido. Mas isso não te torna incapaz de decidir o que é melhor para você, o TDC afeta somente suas habilidades motoras. – Mari falava de forma agitada. – Já passou da hora de todos, principalmente nossos pais, pararem de tratar você como um bebê que não é capaz de saber o que é melhor para si mesmo. – Mari estava certa.

– Você está certa, eu estou farta desta situação. - Falei irritada.

Aproveitei para contar o que aconteceu quando eu cheguei em casa, contei também que fui atrás de Rafaella e o desgraçado do Sebastião não me deixou entrar e ameaçou chamar a polícia.

– Minha vontade era de ficar lá e ver se ele teria coragem de chamar a polícia. – Falei revoltada.

– Que bom que não ficou. – Encarei Bianca – Não me olha assim, você sabe o motivo de Rafaella ter aceitado ir para casa dos pais. Ela precisa de tranquilidade e sossego, aí você vai lá e arma um barraco causando uma confusão desnecessária? Isso ia causar muito mais transtornos! – Mesmo contrariada eu concordei com ela.

Shameless (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora