Capítulo Final

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4 anos depois...

Rafa Kalimann | Point of View

Respirei fundo tentando criar coragem para entrar naquela sala, faz anos que eu não vejo meu pai e saber que ele está aqui tão próximo, é como reviver cada momento ruim que eu vivi por causa dele.

Era inevitável não pensar na hipótese de eu ter perdido os trigêmeos naquele fatídico dia, tudo por causa dele e da sua necessidade de sempre estar no controle de tudo.

Depois de tudo que aconteceu, eu jurei para mim mesma que não iria mais vê-lo, que esqueceria de sua existência e seguiria minha vida. Porque eu jamais conseguiria fingir que tudo que ele fez, fosse passível de perdão. Eu jamais conseguirei perdoá-lo de tudo que ele causou, nem mesmo agora que eu e minha família seguimos em frente.

Olhei para o lado de forma instintiva e vi no fim do corredor, a razão da minha vida me observar com preocupação. Gizelly está afastada a meu pedido, não queria que ela tivesse que encará-lo novamente. Obviamente ela insistiu para ficar ao meu lado, mas aceitou minha decisão mesmo estando contrariada.

Silenciosamente a tranquilizei, ela apenas suspirou e se encostou na parede. Era óbvio que ela não sairia dali até que eu estivesse segura e Sebastião fora do nosso escritório.

Finalmente tomei coragem e abri a porta, entrei vendo meu pai me olhar surpreso. Fechei a porta e me aproximei, tendo seu olhar atento em mim.

– Rafaella... - Ele começou a se levantar mas eu sinalizei para que não o fizesse. – Tudo bem... – Ele disse de forma exasperada e voltou a se sentar.

Me sentei de frente para ele, meu pai tinha uma aparência mais velha. Sua barba estava mais cheia e seu rosto mais marcado pelo tempo, mas ainda continuava elegante e bem cuidado.

– Então posso saber o motivo da sua visita inesperada? – Perguntei sem rodeios.

– Como você está? – Ele perguntou um pouco incerto. – E Manu? Vocês estão bem? – Seus olhos estavam fixos em mim.

– E você se importa? – Ironizei sem ter medo da sua ira. – Quer dizer, desde quando você passou a se preocupar com qualquer pessoa além de si mesmo? – Questionei e pude notar que ele não estava surpreso.

– Rafaella, eu errei muito, mas ninguém pode dizer que eu nunca me preocupei com vocês! – Ele falou de forma firme.

– Que seja, só diga logo o que você quer e acabe logo com isso. Eu acho que deixei bem claro, que nunca mais queria ver você! – Me encostei na cadeira e cruzei os braços.

Eu vi meu pai no dia da audiência do processo de agressão contra mim e minha mãe, claro que nós ganhamos o caso. Ele pagou a fiança e não ficou preso, óbvio, mas naquele dia eu deixei bem claro para ele, que nunca mais queria vê-lo.

– Eu me casei... – Automaticamente meu olhar foi para as mãos dele, e eu pude ver a aliança dourada ali.

– Veio aqui para eu te parabenizar? Ou me apresentar a coitada? Coitada porque imagino que ela não saiba que você resolve as coisas no tapa. – Ironizei vendo ele se irritar.

– Eu vim porque estou tentando mudar, eu encontrei alguém que me faz querer ser melhor. Estou aqui porque ela me incentivou, afinal de contas eu tenho mais 4 netos que eu não tive a chance de conhecer. – Eu gargalhei, tentei me conter mas não consegui.

– Me poupe, Sebastião! – Bufei. – Esse seu discurso não me convenceu! – Eu conseguia ver o quanto ele tentava conter a raiva. – Não existe nada que você diga ou faça, que vá fazer eu e minha irmã mudar de ideia. – Eu me debrucei na mesa. – Você fez o que nunca deveria ter feito, ter tocado na minha mãe daquela forma, ter exposto a mim e meus filhos a morte. Nada do que você falar ou fizer, vai aliviar o fardo da culpa que você vai ter que carregar para o resto da sua vida – Cuspi aquelas palavras como se tivesse me libertando.

Shameless (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora