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Tenho uma coisa pra perguntar a vcs então leiam as notas finais. Boa leitura <3

Clarke

Lexa e eu não falamos sobre o que aconteceu.

Já faz quase duas semanas que o pai dela veio. Duas semanas desde que perdeu o controle do monstro dentro dela, cuja vítima foi meu ser patético.

O clima continua pesado. Sei que Lexa acha que estou brava com ela. Depois de tantos anos namorando Bellamy, sei ler os sinais. O cuidado na maneira como fala, como se esperasse que eu fosse surtar a qualquer momento e cobrá-lo por algo que já passou faz tempo.

Mas, enquanto os sinais de Lexa são bem típicos, há uma diferença entre minhas brigas com Bellamy, que eram sobre como ele tinha conversado por tempo demais com uma menina extremamente simpática e de peitos enormes ou como havia se atrasado pra me buscar porque estava jogando Call of Duty com Niylah de novo. Era como se Bellamy estivesse sempre preparado para a briga. Ambos sabíamos que uma pequena explosão viria e já vestíamos nossas luvas.

Com Lexa... há algo de assombrado em sua cautela. Parece que ela não espera apenas que eu me descontrole e comece a atirar coisas nela em um surto raivoso. Não, Lexa está preparada para alguma outra coisa.

Para a minha partida.

Tentamos da melhor forma fingir que nada aconteceu. Fingimos que ela não me diminuiu diante de seu pai, que não disse que eu era uma gostosa qualquer sem nenhum valor pra ela. Eu finjo que não ligo. E ela finge não ligar se eu não ligo.

Mas, como eu disse, o clima está pesado. Tenso. Péssimo.

Perdida em meus pensamentos, passo uma água nos pratos do almoço, colocando-os na máquina de lavar.

"Quer falar sobre o que aconteceu?"

Eu me assusto e quase derrubo um copo. "Lindy! Desculpa, não sabia que tinha alguém aqui."

Ela funga. "Provavelmente porque tem evitado a mim e a Roan."

Não me dou ao trabalho de negar.

"Devo, então, assumir que você não quer conversar?", ela pergunta.

Dou de ombros. Ficamos em silêncio por alguns segundos, enquanto ela segue com sua rotina que já me é familiar, montando a batedeira KitchenAid e pegando a farinha e o açúcar.

"Estou com vontade de cozinhar", ela diz. "Pode escolher."

Isso eu respondo rápido. "Cookies com gotas de chocolate?" Lindy revira os olhos e sorri.

"Sem graça, mas fácil. Quando eu deixava a sra. Lexa escolher, era sempre uma torta complicada ou um bolo com três recheios diferentes."

"Sério?", pergunto, tentando conciliar a mulher que parece sobreviver de sanduíches e uísque com alguém que gosta de doces requintados.

"Bom, isso foi antes de ela ir embora", ela comenta, e seu sorriso diminui. "Acho que ela nem percebe se eu faço um bolo agora."

Ela parece triste. Queria poder reconfortá-la, mas não tenho muito a dizer além de "ela é uma cretina".

Sento na banqueta de sempre diante do balcão e ficamos em silêncio por alguns minutos. Lindy não segue nenhuma receita. As medidas de farinha, açúcar e sal parecem muito naturais para ela, como escovar os dentes é para o resto de nós.

"Ei, eu nunca perguntei...", digo, passando o dedo na farinha espalhada. "Como foi a viagem de vocês?" Ela levanta as sobrancelhas. "Quer saber agora, duas semanas depois?"

Em PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora