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Galera, estamos na reta final, só restam apenas dois capítulos! Já quero agradecer a quem está acompanhando, comentando ou votando. Eu gosto bastante dessa história e amo clexa com todo meu coração. Enfim, boa leitura <3

Lexa

"Você vai ficar bem, sra. Lexa."

Tenho quase certeza de que Lindy diz isso mais pra si mesma do que pra mim. Mesmo assim, me agarro um pouco às suas palavras.

"É, eu vou ficar bem", digo, forçando um sorriso. É algo que eu tenho feito bastante ultimamente. Forçar sorrisos. Pelo menos me dou ao trabalho de tentar.

Ela apoia as mãos no topo de uma grande pilha de papéis.

"Separei todas as minhas receitas mais fáceis. Coisas que você pode fazer no domingo e deixar as sobras para a semana, jantares rápidos com ingredientes da despensa. E, claro, não deixe de tomar café. Seus ovos são bons."

Ponho as mãos em cima das dela e aperto. Ela me encara surpresa. Em todos os anos trabalhando para minha família, não sei se alguma vez a toquei, mas no momento parece a coisa certa a fazer.

"Obrigado", digo, baixo. "Por tudo."

Ah, meu Deus. A mulher vai começar a chorar, posso ver pelo queixo tremendo e pela maneira como olha para um canto do teto da cozinha e depois para outro.

"Talvez não seja a decisão certa", ela diz, com a voz falha.

"Talvez..."

"Não", digo, me inclinando e me forçando a soar simpática, ainda que minhas palavras sejam resolutas. "Você merece se aposentar, Lindy. E Roan também."

E é verdade, mas o timing não é dos melhores. Quase duas semanas depois que Clarke me deixou, Lindy e Roan pediram demissão. Eles disseram que queriam me contar pessoalmente, ainda que fosse meu pai quem pagava o salário deles e com quem de fato precisavam falar.

Mas sei o real motivo pelo qual me encurralaram no escritório aquele dia. Não era mera formalidade. Queriam marcar sua posição.

Era a maneira deles de dizer que, se eu tinha deixado Clarke ir, deveria deixar que também fossem embora. Em outras palavras: se queria viver sozinha, então viveria sozinha mesmo.

O lance é que não consigo nem ver os dois como traidores. É claro que ficaram do meu lado antes que Clarke tivesse aparecido. E se mantiveram comigo enquanto assustava todos os cuidadores que meu pai mandava. Na superfície, nada precisaria mudar. Na teoria, deveríamos ser capazes de voltar a ser só nós três, eles fora do meu caminho e eu os tratando com mais educação do que reservava ao resto do mundo.

Mas isso já não é o bastante para eles, e fico contente. Sempre mereceram mais do que ficar com uma fera ranzinza que, em seus piores dias, mal conseguia reunir forças para dizer "obrigado".

"Não vamos estar longe", Lindy disse, se recompondo. "E pode passar o Natal com a gente se quiser. São só quarenta e cinco minutos. E você é sempre bem-vinda."

"Vou ficar bem, Lindy. Não se preocupe."

Mas não estou bem. Estou tão mal que nem tem uma palavra pra isso. Mas já faz dois anos que não comemoro o Natal, e isso não vai mudar agora. Quase consegui ouvir a decepção na voz do meu pai ao telefone quando disse que não ia aparecer para as festas, e Lindy parece igualmente magoada.

Quando vão aprender a não esperar nada de mim?

"Sra. Lexa... Lexa", ela se corrige, se dando conta de que não trabalha mais pra minha família e de que não tenho mais doze anos.

Em PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora