31.

321 42 3
                                    

Clarke


Continuo amando as tardes com Lexa em frente à lareira. Só que, agora que as coisas mudaram, percebi que poltronas de couro não são ideais pra dar uns amassos.

Eu me contento em esticar as pernas em seu colo enquanto lemos. Lexa parece não se importar.

Com uma mão, ela vai virando as páginas do livro. Com a outra, alterna entre fazer carinho no arco dos meus pés cobertos por meias e dar um gole do chá que fiz. Pouco tempo atrás, seria álcool que estaria bebericando. Ela ainda toma de vez em quando, mas agora é mais para encerrar o dia do que uma muleta para aguentá-la.

Não importa para onde olhe, só vejo progresso. Não que pense em Lexa como um projeto. Não mais. Ela já não é alguém que preciso conquistar para vencer meus próprios demônios e fazer valer o cheque que recebo. É uma pessoa. Uma pessoa com quem me importo tanto que começo a ficar preocupada.

Meu sorriso diminui, e tento afastar o pensamento, que resiste. Então, decido encará-la. E daí se não trocamos juras de amor? Tenho vinte e dois. Não preciso de uma promessa de devoção eterna, de um anel de compromisso, ou de uma longa DR.

Mas saber em que pé estamos seria legal. Só pra ter uma ideia.

"Você está franzindo a testa", Lexa diz, indolente, com a maior parte de sua atenção dedicada ao livro.

"Essa biografia do Andrew Jackson me faz pensar", minto.

"Sei. Você está devorando o livro mesmo", Lexa diz, com um olhar pungente. O cutucão se deve ao fato de que não li nem um décimo, ainda que dois meses tenham se passado.

Abro a boca para dizer que estou aproveitando a leitura, mas fecho o volume de forma abrupta.

"Tá, eu confesso. Não estou gostando." Jogo o livro pesado na mesa, olhando para ele insatisfeita. "Mas estou tentando gostar. Sei que deveria gostar, que vai ser enriquecedor e tal, mas estou super entediada."

Lexa aperta os lábios como se quisesse esconder um sorriso.

Estreito os olhos para ela. "Vai em frente. Me julga", digo.

Ela dá de ombros. "Não é nada disso. Só estava imaginando quanto tempo você levaria para admitir que não é seu tipo de coisa."

"Você deve pensar que só leio revistas de fofoca", murmuro.

"Para", Lexa diz, apertando meus dedões. "Não precisa se forçar. Nem todo mundo gosta de biografias. Você vai achar alguma coisa que te interessa. Tenho uma porção de livros que poderia recomendar."

Concordo, entusiasmada. Ela me observa atentamente, então fecha o próprio livro.

"Tá. Tem algo além do livro na sua cabeça. Pode falar."

Sorrio. "Sabe, pra alguém que está fora do mercado há um tempo, você me conhece bem."

"É como andar de bicicleta", diz. "Só que muito mais assustador. Mas, sério, e aí?"

"Nem sei", digo, e é a verdade. "Acho que não estou com vontade de ler."

Suas duas mãos estão nos meus pés agora, me fazendo uma massagem maravilhosa, com movimentos firmes e profundos.

"Tá. Então, vamos conversar."

Abro um sorriso irônico. "Qual é a pegadinha?"

"Nenhuma. Na verdade, não. Pretendo trocar essa conversa por algo sexual depois."

Em PedaçosOnde histórias criam vida. Descubra agora