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Perdão pela hora, só tive tempo de postar agora

Lexa

Clarke não estava brincando. Ela é péssima em dormir de conchinha.

Pelos primeiros vinte minutos, ela fica encolhida ao meu lado, e é gostoso. Bem gostoso. Então, uns cinco minutos depois que sua respiração se torna estável e eu começo a pegar no sono também, ela mexe a mão, dando um golpe de caratê na minha jugular. Ainda estou me recuperando, quando Clarke deita de costas de repente, acertando meu nariz ainda dolorido.

Por sorte, consigo segurar seu joelho antes que acerte minha perna. Por pouco. Ela solta um grunhido de irritação antes de esticar os braços para os lados, como se a cama fosse toda dela.

O que de fato é.

Mas o que mais me preocupa é que eu acabe me tornando dela.

Viro de lado para olhá-la, embora mantenha distância de seus membros agitados. Pelo momento, ficar perto dela basta. Nunca fiquei tão tentada a contar a alguém sobre os sonhos. Deitar a cabeça em seu colo e só falar. Sobre Lincoln. Sobre aquele dia.

Sobre a maldita guerra que arruinou minha vida e levou tantas outras. Sobre os afegãos insurgentes e suas facas letais. Sobre o fato de que meu melhor amigo, sangrando e quase sem conseguir respirar, deu o que lhe restava de vida para me salvar.

Estico a mão, descansando meus dedos sobre os dela enquanto dorme, esperando que o contato com outra pessoa possa afastar as lembranças ruins. Pelo menos por enquanto. Aparentemente funciona, porque, quando eu acordo, está quase amanhecendo.

Sorrio ao me dar conta de que Clarke ainda está na cama, embora não seja um daqueles cenários idealizados em que acordamos enroladas uma na outra. Não mesmo. A verdade é que ela está toda esticada e, para mim, só sobrou a pontinha da minha própria cama.

Vale a pena, no entanto, principalmente porque meus dedos se entrelaçaram aos dela em algum momento durante a noite. Solto a mão e sento. Clarke imediatamente ocupa o espaço que acabou de ser liberado. Sorrio, e pela primeira vez em muito tempo, faço isso com facilidade. E sinceridade.

Pego uma camiseta e procuro uma calça de ginástica, então faço uma pausa. Abro outra gaveta e pego um short. Eu tinha o costume meio esquisito de sempre malhar de short. Não importava a época do ano, com exceção dos dias mais frios em Boston, eu me mantinha fiel ao short. Depois que voltei do Afeganistão, isso, e um monte de outras coisas relacionadas a "antiga eu", desapareceu. Não conseguia suportar a pele da minha própria perna, muito menos a reação das outras pessoas a ela.

Mas ontem Clarke a viu. E a tocou. E não demonstrou um pingo de repulsa, dó ou curiosidade mórbida. Só estava olhando mesmo, tipo, "ah, então é assim que ficou".

Respiro fundo e coloco o short. Talvez seja hora de deixar a antiga Lexa voltar, mesmo que de um jeito minúsculo e insignificante.

Sento na beirada da cama enquanto amarro o cadarço dos tênis. Clarke rola para o meu lado da cama, e seu corpo meio que se aconchega em mim, mas ela não acorda. Por um momento, penso em fazer isso, para que possamos correr. Sei que vai ficar brava se eu não fizer. Mas sou culpada por ela não ter dormido muito.

E quero estar sozinha para o que estou prestes a fazer. Se falhar, que é o mais provável, pelo menos não vou ter testemunhas.

Com delicadeza, solto os dedos agarrados ao meu short e saio do quarto, olhando de relance para a bengala no canto.

Estou indo para a escada quando ouço um som alto vindo do quarto de Clarke. Um despertador. Sorrio ao pensar que ela não acorda naturalmente cedo, como eu. Quer dizer que coloca o alarme todas as noites para chegar a tempo à nossa caminhada/corrida diária.

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