Prólogo

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Quebro o comprimido de Oxycontin, formando uma linha perfeita em cima de uma tampa de presente com um cartão de crédito já expirado da minha mãe. Com um canudo, inalo profundamente o pó, sentindo a brisa sedutora do medicamento. A tontura momentânea predomina a euforia avassaladora que logo toma conta de mim, fazendo-me deitar na cama.

Porra, como eu amo isso.

Quando a tontura se dissipa, me sento novamente na cama e junto os materiais que acabei de usar, os guardando com cautela em baixo de minha cama.

Pego o celular e coço meu olho na tentativa de melhorar minha visão embaçada por conta do remédio. O visor liga e revela uma dura realidade: hoje é segunda-feira, o que significa que tem aula. Se me lembrasse bem, diria que acordei cedo por isso, mas não lembro.

Me levanto da cama e pego a mochila, a colocando nas costas e logo saindo do quarto. Desço as escadas, me escorando na parede para não cair e vou em direção à cozinha.

Lá, vejo minha mãe terminando de lavar uma caneca e minha irmã, Vee, tomando um suco de laranja enquanto come panquecas. Ao me aproximar, minha mãe se vira para sair da cozinha.

— Ah, Hija! Que susto!

Dou uma leve risada, seguida de uma fungada — Desculpa, Mami. Já está indo para o trabalho?

Ela afirma com a cabeça — Hoje o dia será corrido. Você pode cuidar da Vee?

— Eu já tenho quinze anos! Posso me cuidar sozinha! — A garota resmunga.

— Claro, claro. Pode?

— Posso sim.

— Obrigada — Ela coloca suas mãos em meus ombros e fica na ponta dos pés para me dar um beijo na testa — Cuídate, vale?

Puedes dejarlo, Mamá.

Ela abre um pequeno sorriso e tira suas mãos de meus ombros, indo até a porta e eventualmente saindo de casa.

Vejo-a fechar a porta e me aproximo dos armários, procurando o cereal. Após algumas portas abertas, encontro-o e abro a geladeira, pegando o leite. Pego uma tigela no escorredor de pratos e despejo o cereal e o leite logo em seguida.

Pego uma colher no armário e começo a comer o cereal, me virando para ficar escorada na bancada.

— Você tá bem? — Pergunta Vee, me encarando.

— Claro que tô.

— Sua cara tá acabada.

— É, eu não dormi direito essa noite.

— Cheirou remédios até de manhã? — Ela diz, de forma irritada.

Paro de comer e franzo a testa — Não, Vee, eu não estou mais cheirando remédios.

Vee revira os olhos — Tanto faz.

— Por que você não acredita em mim? Já se esqueceu que eu tô indo no N.A.?

— Não, não me esqueci. Mas, da última vez, mesmo indo lá, você ainda acabou parando no hospital pelo mesmo motivo de sempre.

Suspiro, me lembrando — Dessa vez é diferente — Digo isso mais para mim mesma do que para Vee.

— Não parece estar sendo, você continua com o mesmo rosto cansado.

— Eu só dormi mal essa noite por conta da escola. Exames chegando, lembra? — Volto a comer — O terceirão é bem mais puxado, diferente do nono.

— Não acredito em você — Diz ela, tomando um gole do suco.

— Que bom que não preciso da sua aprovação, não é mesmo? – Termino de comer e coloco a louça suja dentro da pia, sentindo a raiva crescer dentro de mim — Quero você em casa antes das 13:00, pirralha — Desencosto da bancada e vou em direção à porta.

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