Capítulo 4

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Mariah suspira.

Os dois caras me trouxeram para o lado de fora e depois de um tempo ela apareceu. Agora, comigo escorada na parede e Mariah em minha frente com os braços cruzados, sinto que vou levar o maior esporro da minha vida.

— O que foi aquilo lá dentro?

— Não sei se você viu mas ela quem começou.

— Não importa quem começou, você se alterou demais lá dentro! O que aconteceu com você, Lucia? Você não era assim.

Sinto meu peito apertar e desvio o olhar para o chão.

— Não importa o que aconteceu.

Até porque já é óbvio demais.

— Olha... Acho melhor você ir pra casa. Talvez não seja bom para as pessoas daqui verem esse tipo de... Comportamento.

Levanto o meu olhar agora incrédulo e a encaro — Você tá me expulsando do N.A? É isso?

— Não é uma expulsão. Só... Seria melhor você resolver o que tem te incomodado primeiro.

Me desencosto da parede e começo a me afastar dela, indo para a rua.

— L-Lucia! Não me leve a mal! É-É só que...

Não quero ouvir mais nada dessa garota. Todos vocês são um bando de hipócritas.

— Até, Mariah — Aceno para ela sem nem encará-la.

Amélia, sua puta... Eu vou acabar com você.

Pov Amity

Tiro a mão de meu olho direito e me olho no espelho daquele banheiro simples. Que roxo horrível.

— Minha mãe vai acabar comigo... — Resmungo.

Encaro o meu reflexo.

"— Expulse essa Lucia do N.A, ou então eu vou processar essa droga de lugar."

Suspiro, acho que sou mesmo metida no fim das contas.

Jogo o meu cabelo pra trás, tirando ele do meu rosto.

Eu disse aquilo no calor do momento, mas... Acho que isso que me preocupa mais. Se aquilo saiu tão naturalmente da minha boca enquanto eu estava sob pressão então... Eu sou igual a eles.

Sinto um arrepio correr por todo o meu corpo.

— Não quero ser igual a eles! — Resmungo com lágrimas nos olhos.

Não quero, não posso ser igual.

Mas... Ela mereceu aquilo, né? Ela... Disse tudo aquilo e... Droga! Eu fui estuprada! Como ela pôde falar aquilo?!

Meu estômago se revira ao lembrar dos detalhes horríveis, uma náusea insuportável me invade. Cubro a boca com as mãos, tentando conter os soluços que rasgam minha garganta. Sinto as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto, derramando um fluxo de dor e desespero.

Quando finalmente abaixo as mãos, percebo que elas estão trêmulas, uma imagem da minha alma cansada e amedrontada.

Meu olhar se encontra com meu próprio reflexo no espelho, e eu rapidamente desvio o olhar. Não consigo encarar aquela pessoa. Tenho nojo de mim mesma.

Será que se eu não fosse atraente, ele ainda teria feito aquilo? Se eu não fosse branca, ou uma mulher... eu ainda teria passado por tudo isso? Essas perguntas me corroem por dentro.

O que antes eu via como um privilégio agora me parece uma maldição, algo que me acorrenta a cenários de horror e sofrimento. A injustiça de tudo isso me sufoca. Sinto como se estivesse presa em um labirinto de desastres onde não há uma saída.

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