-Isso faz com que eu fique com raiva! Mano, eu era apenas uma criança, eu não pedi pra nascer e sinceramente preferia ter sido abortada. Passei por tudo aquilo e me culpei por bastante tempo, o que me deixa triste. Mas quer saber? eu cansei. Esse negócio de família não é pra mim, vai ver eu não nasci pra isso. Sabia que quando eu tinha 10 anos quase fui adotada? Só não fui porque o "pai" me dava medo, sei lá, acho que fiquei com trauma de qualquer coisa que se assemelhe a figura paterna.
O Dr. Hazel olhava para mim atentamente, fazendo anotações de vez em quando em sua prancheta enquanto ouvia atentamente os meus pensamentos acumulados durante a semana.
-Cansei de esperar uma família, acho que vou só arranjar um trabalho, fazer um curso e coisa do tipo, e assim que fizer dezoito arranjo minha vida lá fora. Quer dizer, não deve ser difícil né? Eu falo duas línguas, dizem que pessoas bilíngues tem mais chance de trabalho.- completo minha linha de pensamento jogando a minha cabeça para trás, passando a observar o teto do local. Tem uma lâmpada falha que piscava sem parar.
-É bom ouvir você falar do seu futuro, sinal de que não pensa em acabar com sua vida novamente, não é?
-As vezes eu ainda penso nisso, mas não sei se teria coragem novamente.
-Não abordei isso semana passada porque ainda era muito recente, mas em meio a tudo o que sentia, o que fez você ter a coragem necessária para tentar se matar?
Demoro alguns segundos pensando nisso, foram tantas coisas, muitos anos de tristeza e mágoa acumulados.
-No meu aniversário de sete anos pedi uma festa de aniversário para os meu avós, não queria nada de mais, só um bolo e chamar umas amigas de escola para comemorar.- Faço uma pausa e respiro fundo para impedir as lágrimas de caírem.- Parece que esse pedido ofendeu meus avós porque no segundo seguinte meu avô estava me puxando até meu quarto dizendo o quanto eu era estúpida por achar que merecia ter uma festa de aniversário sendo que não deveria nem ter nascido, e depois ele me bateu, bateu tanto…- a esse ponto eu já não segurava mais as lágrimas.- e eu lembro disso toda vez que faço aniversário, só que nessa última vez eu cansei sabe, se eu não deveria existir, então acabaria com aquilo de uma vez.
Coloco minhas mãos em meu rosto, envergonhada por chorar na frente do Dr. Hazel.
-Tudo bem Kelly.- ouço ele se movendo de sua poltrona e logo em seguida suas mãos em meu ombro.- Lembre-se, o passado é só uma lembrança, ele só vai te machucar se você deixar.- diz me acolhendo em um abraço.
Suspiro e fecho os olhos aproveitando o abraço, pode parecer impossível, mas é a primeira vez que abraço um homem e me sinto protegida.
O abraço dura apenas alguns segundos até ele se separar e voltar para o seu lugar. Ele me oferece um pacote de lencinhos e eu aceito enxugando as minhas lágrimas.
-E seu pai verdadeiro?- pergunta retomando a terapia após esperar alguns segundos para me recompor.
-Não conheço.- digo simplesmente.- Não deve saber nem da minha existência.
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Your meds, Kelly? •Filha do Tony Stark.
FanfictionKelly foi abandonada pela mãe quando ainda era apenas uma criança, sozinha, ela cresceu achando que ninguém nunca quis ela, que era um fardo e que era melhor nunca ter nascido. Por conta disso, em seu aniversário de 15 anos ela resolve que desistir...