N o v e

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Ela se levantou de um salto, tentando, inutilmente, secar as lágrimas. A coisa que menos precisava era dos comentários de Malfoy.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou entre soluços.

—- Eu é quem pergunto. Por que está chorando?

Lembrar do motivo apenas a fez chorar mais.

—- Ei, acalme-se. — Draco se aproximou e pegou sua mão. — Nossa! Você está fria!

Draco não conseguia se entender. Deveria estar com raiva de Hermione por ter beijado aquele traidor de sangue, mas isso não o impediu de abraçar ela, muito menos de deixá-la afundar o rosto em sua blusa, ou ainda de acariciar os cabelos dela para que ela se acalmasse. Poderia deixar a raiva para depois.

"O amor te enfraquece demais! Ela acabou de beijar o traidor de sangue! Agora você deveria deixá-la aí sozinha para que perceba que foi tolice." Uma voz disse em sua cabeça, mas foi ignorada pelo rapaz, que tinha a leve sensação de que o sofrimento da menina em sua frente era causado exatamente pelo Weasley.

Ele a levou para a parede, onde se sentaram com as costas apoiadas, e ficou calado pelo tempo necessário para que Hermione se acalmasse, ainda com o braço ao redor de seus ombros. Ele queria fazer perguntas, mas um instinto o dizia para ficar calado até que a garota se sentisse confortável para falar qualquer coisa. Ele podia não saber, mas aquelas foram as melhores coisas que Hermione poderia receber de alguém naquele momento: carinho e tempo.

Mesmo depois de ter parado de chorar, Hermione continuou com a cabeça apoiada no ombro de Draco enquanto a mão dele fazia carícias nos cabelos dela. Ele não disse nada, ficou apenas olhando para a parede do outro lado do corredor. De tantas pessoas que poderiam ter encontrado Hermione naquele momento de vulnerabilidade, ela estava satisfeita de ter sido Draco Malfoy quem o fez. Ele estava mostrando um lado diferente, que ele nunca havia deixado transparecer.

—- Eu... — Draco começou meio sem jeito. Era tarde da noite e estava tudo escuro, as probabilidades de os dois serem pegos eram enormes, mas valia a pena correr o risco, até porque, a garota não tinha a mínima vontade de retornar à Grifinória naquele momento. — Queria saber o que aconteceu.

—- Ah! — a garota sabia que aquele momento seria inevitável, Draco continuava sendo humano, com suas curiosidades e pensamentos. — Eu... É muito íntimo...

—- Mais íntimo do que seu beijo com Weasley? — o garoto deixou a amargura transparecer mais do que gostaria. Hermione sentiu as bochechas molhadas esquentarem.

—- Como você...

—- Eu vi. Mas pode ficar calma, não contarei a ninguém.

—- Ainda bem... Se você realmente quer saber, eu fui usada.

—- Como assim? — ele virou o rosto para encará-la.

—- Rony me beijou, e, no minuto que virei as costas, ele confirmou um encontro com Lilá Brown.

—- Eu não conheço essa garota, mas posso garantir que o traidor de sangue...

—- Rony. — a garota o cortou, pois, ainda que tivesse feito aquilo, Rony continuava sendo importante para ela.

—- ... Rony, — Draco revirou os olhos. — foi pior do que eu fui durante todos esses anos.

Os dois ficaram sem falar por  um tempo, apenas encarando a parede e pensando. Até que Hermione quebrou o silêncio.

—- E você? O que estava fazendo passeando pelos corredores à noite?

—- Perdi a hora. Estava pensando nos meus problemas. — ele deu de ombros.

—- Problemas?

—- É muito íntimo. — ele repetiu a frase da garota e os dois deram um sorriso fraco.

—- Por que será — Hermione disse depois de mais silêncio. — que eu tenho a sensação se que algo vai dar errado?

—- E por que isso aconteceria? — ele perguntou virando o rosto para encará-la.

—- Porque você sempre se mostra carinhoso e prestativo, até que volta a ser o Draco que eu conheci durante anos. Tenho quase certeza de que isso vai acontecer outra vez. Acho que você não aguentaria uma semana mostrando sempre o seu lado bom. — ela provocou dando de ombros.

—- Vamos apostar?

—- O que apostaríamos? — Hermione riu.

—- Bom... Que tal... — o garoto pensou um pouco. — Um beijo?

—- Como? — a menina quase engasgou ao ouvir aquilo.

—- Se eu manter esse tal de "lado bom" por uma semana, você me beija. — o rapaz sorriu ao imaginar os lábios da garota colados aos dele. Isso até lembrar que aqueles mesmos lábios haviam acabado de beijar o Weasley.

—- E se você não conseguir? — ela perguntou divertida.

—- Você escolhe alguma coisa. Mas vou avisando: detesto beijar garotas de batom.

Os dois riram, mas a aposta não se confirmou. Para Hermione, aquela não passava de uma brincadeira que ela poderia estar tento com Harry ou... Rony.

Ela estava adorando falar com Draco. Nunca pensou que isso poderia ser possível. Mas ela ainda era a Hermione que se preocupava mais com a escola do que com a própria vida, e mais uma detenção poderia ser muito ruim para ela, além disso, as lágrimas já secas em seu rosto começavam a fazê-la sentir-se cansada.

—- Acho melhor voltar para a Grifinória. Você também deveria voltar para a sua Casa. — ela disse após um suspiro.

—- Ah! — o garoto despertou dos devaneios, todos relacionados à Hermione. — Claro.

Eles se levantaram calmamente e Draco estendeu a mão para que ela apertasse.

—- Ahn... Amigos? — ele perguntou sem jeito, ainda com a mão estendida.

A menina ficou em silêncio por um curto tempo, relembrando todos os acontecimentos daquele dia, percebendo, então, que todos os pontos altos foram quando Draco estava presente. Foi pensando nisso que ela reagiu finalmente.

—- Amigos. — a ação de Hermione deixou-o totalmente surpreso. Ela o abraçou.

Não um abraço qualquer, mas o abraço que ela daria em algum grande amigo. Ela também não estava entendendo o que fez, apenas agiu como lhe parecia coerente, mas, mesmo que não soubessem, aquele abraço definiria uma grande parte de suas vidas.

Deathly LoversOnde histórias criam vida. Descubra agora