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As semanas passaram rápido e, no que pareceram dias, dezembro chegou, frio e branco pela neve de meio de inverno. O teto do Salão de Jantar de Hogwarts estava sempre espelhando um céu cinzento e não haviam mais folhas nas árvores do jardim, apenas os pinheiros resistiam firmes durante aquela estação.
O inverno era a estação do ano favorita de Hermione, pois ele parecia ser um tipo de teste natural que selecionava apenas os mais fortes, que tinham capacidade de sobreviver durante todos os dias do ano, por muitos anos.
A garota olhava para o horizonte branco pela janela da sala de Estudo das Runas Antigas, se perguntando o que ela era: uma plantinha como qualquer outra, ou um pinheiro forte, que aguentaria até as provações mais difíceis.
Algum tempo atrás, ela não exitaria em se convencer de que era forte, mas, depois do dia em que Rony pediu Lilá em namoro, sempre que os dois estavam se beijando, ela se flagrava relembrando da sensação de ter sentido aqueles lábios macios e pálidos junto aos seus.

Hermione estava sempre com Harry ou com Draco, mas nunca com os dois ao mesmo tempo, é claro. Draco era um rapaz maravilhoso com ela: atencioso, engraçado e interessante, mesmo que ainda fosse misterioso e frio, pois isso era algo onipresente em sua personalidade, mas todo aquele mistério e frieza deixavam a garota sempre curiosa para estar perto dele, já que nunca sabia o que esperar de sua parte.
Harry estava tendo aulas particulares com Dumbledore aos sábados à noite, e sempre contava detalhadamente o que ele e o diretor faziam na sala, que se resumia em assistir memórias que poderiam vir a ser importantes no combate a Voldemort. Os únicos momentos em que Hermione e Rony estavam relativamente próximos eram esses, quando se tratava de Harry ou, por serem monitores, durante reuniões nas quais eram obrigados a dialogar, fora isso, eles se evitavam, quer dizer, ela o evitava enquanto ele tentava retomar a amizade, mas ela jurou para si mesma que só voltaria a falar com o garoto quando ele se mostrasse merecedor, o que, em sua opinião, não poderia acontecer enquanto ele namorasse Lilá Brown.
--- Senhorita Granger? -- a professora chamou, fazendo a menina despertar dos devaneios. -- Você esteve avoada a aula toda. Só não tirei pontos da Grifinória porque você é minha melhor aluna.
--- Sinto muito, professora Babbling, não vai voltar a acontecer.
--- Assim espero. Tenha uma boa noite.
A garota recolheu os materiais e os colocou na mochila, saindo da sala logo em seguida e andando calmamente pelo corredor, até alcançar o Salão Principal, onde praticamente todos os alunos já jantavam, produzindo sons altos com suas conversas. Hermione olhou para a mesa da Sonserina a procura de Draco, que fingia ouvir Pansy Parkinson e Vincent Crabbe conversar. Quando ele a viu, deu um sorriso discreto, que foi logo devolvido por ela.
Hermione voltou seu olhar para a Grifinória, procurando por Harry, Gina ou mesmo Neville, mas a ruiva estava entretida demais com as amigas do quarto ano enquanto os garotos estavam sentados ao lado de Rony e Lilá, ou seja, Hermione acabou por se sentar sozinha em um lugar mais afastado e jantou na companhia dos seus deveres, que a acompanharam até o Salão Comunal, onde preencheram todo o seu tempo, até o momento em que ela decidiu se deitar.

Draco se levantou e olhou para o relógio, apenas os fantasmas poderiam estar acordados àquela hora. Ele poderia trabalhar sem interrupções. Levantou-se silenciosamente e pegou uma maçã sobre o criado mudo.
Sua maior dificuldade foi sair do dormitório sem que Blaise ou Gregory Goyle acordassem, já que ambos tinham sono leve, diferente de Vincent, que era uma pedra quando dormia.
Passear pelos corredores de Hogwarts às quatro da manhã era completamente diferente de caminhar por eles durante o dia, quando ainda era possível enxergar algo e os sons não deixavam as pessoas tão desconfiadas de que alguém as estava vendo, mas ninguém cruzou o caminho do rapaz durante o percurso até a Sala Precisa, que foi onde ele entrou, seguindo diretamente para o já tão conhecido Armário Sumidouro.
--- Armonia Nectere Passus. -- Ele disse após colocar a maçã dentro do armário.
Na primeira vez que ele pronunciou aquele feitiço, nada havia acontecido, mas agora, quase um mês depois, já era quase instantâneo que qualquer coisa que ele colocasse dentro do armário sumisse no segundo que a última sílaba saía de sua boca, então ele estava confiante de que, daquela vez, a fruta teria desaparecido, como já havia acontecido com um passarinho que ele capturara no jardim e com uma folha de papel, que retornou rasgada ao meio. Ele sabia o porque de o vendedor da Borgin e Burkes ter rasgado, já que, quando o garoto virou a folha pelo outro lado, encontrou uma carta que ele uma vez escreveu e cogitou entregar para Hermione, não diretamente, é claro, pois ele ainda era um Malfoy.
O problema foi que, ao abrir o armário, a maçã continuava intacta. O loiro tentou fazer o feitiço funcionar várias e várias vezes, mas nada acontecia, e isso o deixou preocupado, já que, se não conseguisse que a invasão fosse bem sucedida, seu pai iria pagar.
Ele sabia que, para fazer qualquer feitiço, era necessário querer exercê-lo, mas ele queria que os Comensais invadissem a escola, não queria? Ele queria que o Lord das Trevas reinasse novamente, não é? Ele queria que os nascidos trouxas fossem exterminados...
Ele exitou ao se fazer essa pergunta, graças a um rosto que surgiu em sua mente.
E lá se veio um dilema que ele sabia que o acompanharia por um longo tempo, torturando sua mente com a culpa de ter que escolher se salvaria seu pai ou Hermione.

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