T r e z e

2.8K 193 1
                                    

Meia hora depois, a morena estava conversando com sua conselheira amorosa, Gina Weasley. Não diria o nome de Malfoy, mas precisava conversar com alguém de confiança sobre sua atitude impulsiva, e ninguém se encaixava melhor como conselheira do que a ruiva. Hermione estava cansada de não se entender, já que havia reservado aquele ano para estudar ao máximo para os NIEMs e se esforçar para deter Voldemort antes mesmo que ele pudesse fazer algo muito mais grave do que já havia feito, mas, de repente, milhões de outras coisas aconteceram, transformando a visualização da menina em algo quase utópico.
--- ...Garotos só servem para confundir as pessoas! -- a mais velha concluiu após passar quase cinco minutos falando sem fazer mais que três pausas para respirar. -- Eu gostaria de saber como você consegue namorar e ser normal, tudo ao mesmo tempo!
--- Espere um pouquinho, Mione! -- Ginevra disse na tentativa de acalmar a amiga, que resfolegava nervosa enquanto mantinha os olhos quase tão arregalados quanto os de Luna Lovegood. -- Até agora, tudo o que sei é que eu estava almoçando e, de repente, você surgiu no Salão Principal me chamando feito uma doida e agora não está falando coisa com coisa. Como quer ajuda se nem me explica decentemente o que aconteceu?
--- Eu... -- a morena suspirou tomando coragem. -- Acabei de beijar um garoto. Não foi seu irmão! -- se prontificou ao ver a pergunta surgir no olhar da ruiva. -- Mas também é meu amigo... E comprometido.
--- Eu o conheço? Quem foi? Você gosta dele, não? -- a outra tagarelou.
--- Acalme-se! Provavelmente você o conhece, mas não vou falar seu nome. Não quero que ninguém saiba, e acho que ele também não. Eu não sei se tenho um sentimento real por ele ou se foi apenas pelo calor do momento, apenas fiz a primeira coisa que me veio à cabeça. Eu tinha acabado de rejeitá-lo e ele ficou tão... Digamos... Constrangido, que tive que me redimir...
--- E o único meio que você encontrou foi beijá-lo, sabendo da existência de uma outra na vida dele. -- Gina completou com ar cético.
--- Bem... É. -- Hermione baixou o olhar e passou a brincar com os dedos das mãos.
--- Me explique como foi a sensação? Ele beija bem? -- a quintanista estava cada vez mais curiosa, sentou-se em sua cama, ao lado da amiga e passou a fazer tranças em seus próprios cabelos.
--- Não. Quer dizer... Na verdade, não foi um beijo como o que dei em Rony ou os muitos que dei em Vítor Krum... -- a mais velha sorriu ao lembrar-se do búlgaro.
--- Ah! Entendi. Então acho que você está fazendo parecer ser mais do que realmente é.
--- Não, não estou. Nossa amizade é um tanto tumultuada, se é que me entende. Não sei se ele vai reagir bem, além disso, estou com vergonha de vê-lo. E se ele estiver com raiva? Ou pior, e se ele rir de mim? Não sei se aguentaria essa humilhação.
--- Não é tão humilhante ser rejeitada. Mas, se melhorar um pouco seu ego, pode conseguir outro rapaz. -- as duas sorriram com a idéia. -- Por falar nisso, com quem você vai na festa de Natal?
--- Ainda não sei. Tentei chamar o Uón-uón, mas Brown se intrometeu.
--- Que pena. Não gosto dela. Essa garota me trata como criança, só não é pior do que a Fleuma. -- a ruiva torceu o nariz.
--- Sabe de alguém que eu possa convidar? Não quero ir sozinha. -- a outra retomou o assunto.
--- Duas opções: você poderia chamar o garoto que você "beijou", ou então poderia convidar Córmaco McLaggen. Estou sabendo que ele morre de amores por você. E, na minha opinião, é muito lindo. Se eu não estivesse com Dino... -- Gina encarou a parede, sonhadora, imaginando como seria um relacionamento com McLaggen.
--- Tenho certeza de que não seria ele quem você buscaria se estivesse solteira, não? -- Hermione provocou, rindo quando o sorriso da amiga aumentou mais ainda.
--- Voltando ao assunto, -- a ruiva disse despertando. -- você realmente não vai me contar quem é esse seu amigo?
--- Desculpe, mas não. Prometemos um ao outro que não falaríamos sobre nossa amizade para ninguém.
--- Mas ele é da Grifinória?
--- Você não cansa de fazer perguntas?
--- Você não cansa de me deixar curiosa?
Hermione riu. Adorava falar com Gina, uma amizade verdadeira e que ela sabia que perduraria por muitos anos. Com certeza teria ficado mais tempo com a ruiva, mas seu relógio a impediu.
--- Oh não! -- a morena exclamou. -- Preciso ir. Já perdi todas as aulas da manhã enquanto dormia, não posso faltar mais nenhuma.
--- Eu bem que gostaria de faltar algumas aulas, beijar alguns garotos... -- a outra suspirou, mas continuou a falar rapidamente ao perceber o olhar da amiga. -- pena que o conteúdo que eu perderia seria importante para os NOMs... Mesmo assim, foi bom falar com você. Se precisar conversar, estarei ao seu dispor.
--- Obrigada, Gina.
--- Fale com Córmaco, tenho certeza de que ele vai adorar seu convite.
Ambas saíram do dormitório da ruiva, descendo as escadas e seguindo em direção à passagem do quadro. Hermione cogitava a idéia de convidar McLaggen. Nunca havia trocado mais de dez palavras com ele, então como Gina poderia estar tão segura de seu argumento sobre os sentimentos do rapaz para com ela? Por outro lado, talvez fosse muito mais fácil convidar alguém com quem ela não possuía muita intimidade do que tentar chamar um de seus melhores amigos.
"Gostaria de entender por que foi tão fácil com Vítor." Pensou a menina no meio de um suspiro enquanto terminava de descer as escadas com a mochila nas costas.
Sua primeira aula da tarde era Herbologia, o que indicava que teria que enfrentar o frio absurdo que fazia do lado de fora das paredes, que, mesmo sendo pedra, preservavam o calor presente dentro do castelo.
Ao imaginar o frio cortante penetrar seu casaco, a garota estremeceu.
--- Oi, Hermione! -- uma voz pouco conhecida pelos ouvidos da menina a chamou.
--- Ah, olá Córmaco! Tudo bem? -- ele sorriu ao saber que a morena sabia seu nome.
--- Tudo! Está indo para a aula de Herbologia, não é?
--- Sim... Você também? -- ela respondeu, sorrindo mais por se lembrar de como as estufas eram aquecidas do que por estar na companhia do rapaz.
--- Sim... -- seu sorriso se tornou tímido. -- Fazemos Herbologia Avançada juntos desde o começo do ano. Você não sabia?
--- Claro que sabia! -- Hermione sentiu as bochechas esquentarem. Nunca antes ela havia ao menos notado a presença de Córmaco nas aulas de Herbologia Avançada, apenas conversava com Neville e olhava muito mais para a professora Sprout e para as plantas do que para seus colegas. -- Mas não tinha certeza se você estava indo para lá agora, entende?
--- Ah, claro! -- o casal alcançou o Grande Salão. A menina já imaginou a neve entrando em contato com sua pele por sob o casaco, o que a fez tremer novamente.
--- Está frio, não? -- o loiro perguntou, mantendo no rosto um sorriso que poderia aquecer completamente a escola inteira.
--- É... Mas você não parece com frio, parece bem quente na verdade. -- a moça comentou, distraída demais para notar o que havia acabado de dizer.
Lá estava ele. Seus cabelos muito loiros se destacavam das pedras da parede, as quais ele encarava pensativo.
"Deve estar pensando no quão tola você foi." Acusou a voz mental da menina.
--- Hermione? -- Córmaco estalava os dedos em frente ao rosto distraído da garota, fazendo com que ela voltasse a prestar atenção nele.
--- Desculpe. Estou um pouco cansada ainda. Você dizia?
--- Perguntei se você quer meu casaco. Realmente não estou com frio no momento. -- ele mantinha o sorriso estampado na face pálida.
--- Nossa... Obrigada! -- ela disse surpresa e o rapaz a ajudou a vestir o casaco.
Naquele momento, Draco, que já havia notado a presença dos dois, ergueu os olhos, seus ouvidos atentos captavam cada palavra da conversa enquanto os dois grifinórios avançavam em direção às portas para que fossem escoltados por Hagrid até as estufas aquecidas, não sem antes trilharem pelo descampado coberto de neve.
Hermione percebeu que o sonserino a encarava e desviou o olhar, por mais que quisesse uma confirmação de que ainda era bem vinda no mundo sombrio, porém intrigante, de Draco, a vergonha por sua atitude mais que precipitada há quase una hora a venceu.
Foi então que Pansy Parkinson alcançou o Salão Principal e seguiu em direção a Malfoy. Eles conversaram por pouquíssimos segundos para, então, beijarem-se vorazmente, o que fez com que Granger paralisasse em frente às portas, sem poder desviar o olhar.
--- Mione? O que houve? -- a voz preocupada de McLaggen alcançou os ouvidos da garota.
A raiva a atingiu de tal modo que a única coisa que transparecia em sua mente era o desejo de vingança, de provocar ciúmes em Malfoy... E até mesmo em Rony, ou, como uma certa loira gostava de dizer, Uón-uón. Não queria ser boazinha, e não se importava nem um pouco com o fato de que provavelmente poderia magoar Córmaco ao usá-lo do jeito que faria, queria apenas que os dois garotos que realmente importavam para ela sentissem a mesma coisa que ela. Foi com esse sentimento de raiva, que Hermione apertou o casaco contra seu corpo e encarou o garoto alto e forte em sua frente.
--- Bem... -- ela deu um sorriso, tomando cuidado para que sua voz soasse alta o bastante para ser ouvida por Draco. -- Eu estive pensando se você não gostaria de me acompanhar na festa de Natal.
--- Isso seria maravilhoso! -- ele disse radiante.
Pela visão periférica, a morena pôde ver um vulto de roupas negras e cabelos de um loiro muito claro abandonarem o Salão, aparentemente com raiva. Ela estava fazendo uma jogada perigosa, e não se sentia confiante o bastante para arriscar daquele modo, mas sentia raiva. Ela se negava a perder aqueles dois garotos para meninas fúteis e superficiais como Lilá e Pansy , e não iria perder.
"Sua vez, Draquinho." Pensou enquanto mantinha o sorriso para Córmaco e sentia satisfação com o olhar da namorada do garoto que deixara o recinto queimando em suas costas.
E então ela percebeu que, talvez, apenas talvez, aquele selar de lábios que ela dera em Draco poderia não ter sido tão impensado, ou indesejado, quanto ela imaginou.

Deathly LoversOnde histórias criam vida. Descubra agora