C a t o r z e

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Draco sentia uma raiva descomunal de Hermione. Ele era o Comensal! Ele deveria machucar as pessoas! Não uma garota metida a heroína que estava sempre do lado de seu grande inimigo! Ela havia trocado os papéis, e o loiro não gostava da parte com que ficou. Já havia se acostumado com a idéia de ferir os outros, mas não imaginava que as garotas com quem ele se divertia sentiam tanta dor assim quando eram substituídas. Ele nunca havia sentido ciúmes na vida... Quer dizer, não daquele modo. Afinal, ela havia acabado de mostrar que sentia algo por ele também, não? Então, por que, no segundo seguinte, ela estava com aquele gigante da Grifinória? Claro, ele admitia que havia beijado Pansy Chata assim que pôde, mas não era a mesma coisa, pois ele podia fazer algo assim, Hermione não. Se fizesse, ela deixaria de ser a Sangue-Ruim meiga que ele conhecia tão bem!
A Marca Negra ardeu no antebraço do garoto, que queria muito ignorá-la, mas o fato de que seu pai poderia ser assassinado a qualquer instante o fez decidir que tentaria descobrir o que precisava fazer. Não se preocupava em faltar aulas, já que, se tudo funcionasse perfeitamente, ele poderia estar mandando na escola em alguns meses, mas, por enquanto, ainda precisava fugir de Filch e sua gata pulguenta, o que só dificultava suas missões.
Ele já havia aprendido o modo de comunicação da Marca: o Lorde tinha uma tarefa para determinado Comensal, então fazia com que a Marca ardesse, fazendo com que a dor no braço do bruxo aumentasse quando o mesmo estava longe do local onde sua tarefa se localizava. Era simples e eficaz, pois também servia como punição caso os resultados não fossem satisfatórios. Draco ainda se lembrava de seu pai agonizando no chão de sua casa quando permitiu que Potter destruísse algo no segundo ano.
As vezes era necessário rondar pela escola durante horas até encontrar seu objetivo, mas Draco teve apenas dez minutos para tentar parar de pensar em Granger, a qual ele queria ser indiferente, mas não conseguia, e raciocinar sobre o que precisava fazer. Esse pouco tempo se deveu ao fato de que ele já tinha uma idéia de onde talvez precisasse ir: a Sala Precisa. Por onde mais poderiam enviar algum objeto para ele além do correio?
Graças a ele, o armário havia sido completamente restaurado, podendo transportar qualquer coisa da Borgin & Burkes para Hogwarts, porém, aparentemente, haveria uma data exata na qual ele precisaria transportar a todos para dentro da escola, e também matar o diretor. Mas não seria naquele dia. Dentro do armário, haviam uma caixa de veludo e uma garrafa de hidromel. Ao pegar os objetos, o ardor na Marca cessou automaticamente e ele soube que estava fazendo o certo.
Ao abrir a caixa de veludo, Draco quase deu um grito, pois, dentro da mesma se encontrava um colar no qual a alma de um assassino havia sido presa. Mercadoria da loja na qual o outro armário estava. O hidromel com certeza estava envenenado, mas ele não o experimentaria para descobrir.
Seu raciocínio o levou até o professor Dumbledore e o loiro soube que aqueles objetos serviriam para assassiná-lo. Mas como? Não poderia aparecer na sala do diretor e lhe entregar o colar e a garrafa. Ele não. Mas se alguém fizesse em seu lugar...
O rapaz correu para fora da Sala Precisa assim que uma idéia lhe ocorreu. Desceu dois lances de escadas e caminhou apressado pelos corredores, a caixa e a garrafa escondidos por baixo do uniforme, e entrou no primeiro banheiro vazio que viu, colocando o pacote com o colar sobre a pia e se escondendo em um dos boxes. Só precisaria lançar a maldição Imperius na primeira pessoa que entrasse lá e fazê-la entregar a jóia ao diretor. A porta se abriu e uma garota entrou no local. Ele a conhecia, pois ela jogava no time de quadribol da Grifinória. Seu nome era Cátia Bell.
--- Imperio! -- ele murmurou e observou o olhar da moça se tornar vidrado e seu rosto perder a emoção.
Ao comando de Draco, Cátia pegou o embrulho deixado em cima da pia e saiu do banheiro.
Se o garoto se retirasse junto com ela, as pessoas estranhariam, e ele não queria brigar com Pansy, por mais que não quisesse mais ficar com ela. Por isso, ele ficou escondido no banheiro por cerca de dez minutos, quando teve certeza de que poderia sair. Ele sentia muito orgulho de si mesmo por ter feito algo que o Lorde julgaria correto, algo que poderia salvar seu pai...
Foi quando os gritos começaram. Longe dele, em um outro corredor, uma voz feminina berrava, mas não gritos conscientes, ela parecia estar sendo possuída, e foi quando Draco percebeu que precisava correr. Graças àquela garota estúpida, ele falhara em sua missão.
O menino disparou com raiva até os calabouços, disse a senha - imponência - e a parede de pedras se abriu, revelando a luxuosa sala comunal, onde ele ficaria até o fim do dia, se torturando com a lembrança de Hermione convidando aquele rapaz enorme para o baile.
Draco adormeceu em pouco tempo, após derramar uma única lágrima que o sufocava. Essa lágrima se devia à bagunça que ele havia tornado sua vida, e os sonhos que se seguiram o assustaram tanto quanto quando o obrigaram a se tornar um Comensal.
Imagens de Hermione o encarando com ódio, raiva ou nojo se misturavam com os gritos torturantes da garota que ele havia enfeitiçado, tudo isso enquanto ele revivia os momentos nos quais foi marcado como um seguidor do Lorde das Trevas, assistiu seu pai se contorcer com a maldição Cruciatus por ter falhado em sua tarefa no Ministério da Magia, além das inúmeras vezes nas quais viu sua mãe chorando assustada, encolhida em algum canto de sua casa, a qual sua família foi obrigada a ceder para Lord Voldemort. A dor que ele sentiu no segundo em que aquela marca idiota foi estampada em seu braço, e que o fez perder as sete primeiras semanas de aula, retornou ao seu corpo, para, enfim, a cena mudar. Ele estava em uma aldeia destruída, a Marca Negra resplandecia no céu. O loiro sentiu pena das pessoas que habitavam aquele lugar antes do ataque. Após avançar alguns passos, o rapaz avistou um vulto no meio da fumaça que provinha de alguma casa em chamas nas proximidades. Não haviam dúvidas de que aquela pessoa, seja lá quem fosse, era um Comensal, mas ele queria saber quem. Como que, atendendo ao seu desejo, a pessoa se virou para ele, sorrindo abertamente, e ele quase caiu com o susto que levou, pois reconheceria aqueles cabelos longos, castanhos e revoltos em qualquer lugar...
--- Mas até que poderia dar certo... -- ele murmurou acordando e saiu da cama.
Talvez não precisasse escolher entre a vida de seu pai e sua própria razão de viver. Pois, por mais que ela o tivesse machucado, precisava mantê-la viva, nem que isso significasse levá-la para as trevas.

Deathly LoversOnde histórias criam vida. Descubra agora