Faith

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Jamie não estava em casa. Eu estava sozinha quando tudo aconteceu.

Senti dores tomando conta do meu corpo, iniciando na região do meu ventre e logo se espalhando por todo o restante. O ar fugia dos meus pulmões a simples menção de qualquer movimento, mas eu não podia ficar parada ali, eu precisava alcançar o telefone.

O sangue manchou meu vestido e o suor aumentava, por conta da dor. Calafrios subiam em minha nuca e o pavor espalhava-se em meu peito. Jamie. Seu nome vinha frequentemente em minha mente, como um sinalizador aceso em meio ao turbilhão de pensamentos. Eu precisava alcançar o telefone.

Com muito esforço consegui caminhar até o hall de entrada, minha visão turva por conta da dificuldade em respirar. A cada inspiração eu sentia que minhas costelas estavam se quebrando. Tudo ia ficar bem, eu dizia a mim mesma, não entre em pânico.

Em determinado momento desisti de ficar em pé, sentei-me no chão, apoiada em meu cotovelo. Toquei entre minhas pernas e o sangue sujou minha mão. Eu estava prestes a cair no abismo do desespero, mas não podia, eu precisava alcançar o telefone.

Arrastei-me pela sala, chegando à mesinha de centro. Meu celular estava ali, peguei-o com as mãos tremulas e abri a agenda, ligando para meu marido. A dor estava insuportável e eu queria gritar, mas me contive, apertando meus dentes com força, enquanto o celular chamava. Ele atendeu, sua voz calma e profunda.

- Jamie, eu preciso de ajuda, tem algo muito errado comigo. Salve o nosso bebê.

Antes que ele pudesse me responder, minha consciência caiu em um vale profundo e só avistei a escuridão.

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Acordei algum tempo depois dentro do carro, já era noite e meu corpo todo doía, como se eu tivesse acabado de sofrer um atropelamento.

- Jamie – sussurrei, chamando minha âncora, minha segurança – Jamie.

- Fique calma meu amor, eu estou aqui – respondeu ele com urgência, do banco do motorista.

Conforme minha consciência ia retornando, eu entendia melhor minha posição atual. Estava deitada no banco traseiro, minha cabeça no colo de tia Bennet e Jamie dirigia, muito rápido, por alguma estrada.

Toquei minha barriga, preocupada com a vida de nossa filha. Senti que ela se movimentava e meu coração deu um pulo de alivio.

- Vocês vão ficar bem minha querida – Disse tia Bennet, sua voz sinalizando o contrário – Vai dar tudo certo. 

Uma contração me surpreendeu e gemi de dor, com medo do que estava por vir. Jamie parecia um louco ao volante, a sensação era de que os pneus nem encostavam no chão.

Tive alguns lapsos de inconsciência, tudo parecia um grande filme de terror. Quando retornei a mim, vi as luzes do grande corredor hospital e Jamie ao meu lado, com uma expressão desesperada.

- Salve o bebê – pedi a ele, com a pouca energia que me restava – Por favor.

Ele concordou consternado. Eu sentia muito, queria dizer isso a ele, mas não consegui.

A grande onda negra me levou novamente, para um vale desconhecido, onde não existia nada além de mim.  Eu queria gritar e pedir a Deus que nos ajudasse, entregar a Ele meu bem mais precioso, mas me via impotente, sem saber o que fazer.

Em poucos segundos minha vida passou em meus olhos, e eu soube que estava mais perto do fim. Vi o sorriso de meus pais, uma de minhas únicas memórias deles, depois me observei com tio Lamb, meu olhar triste após a perda. Revisitei meu apartamento, senti a solidão que tantas vezes vivenciei. Flashs passavam em minha frente, como se eu não fosse nada além do que um conjunto de memórias. Me vi dormindo no trem, batendo na porta dos Graham. Ouvi o som de minhas conversas com Jamie, o sorriso em meu rosto. Senti meu peito afundar de amor, ao ver o quanto ele era lindo em todos os momentos, seus olhos azuis prendendo minha atenção e me deixando entregue aos meus sentimentos. Relembrei a descoberta da gravidez e a alegria junto ao medo. Vi nosso casamento e nossas inúmeras noites de amor.

Uma longa jornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora