Nosso retorno a Escócia foi tranquilo e logo restabelecemos nossa rotina, com Jamie e eu trabalhando muito e a destilaria produzindo cada vez mais.
Os Graham já estavam planejando sua próxima viagem, alegres como dois jovens recém-casados e eu não podia deixar de admirar o quanto o amor deles parecia recente mesmo após 52 anos de casados. Eu os adorava, como meus próprios pais e podia ver o quanto o sentimento era mútuo em cada gesto que faziam para me agradar.
Em um dos dias acordei disposta a preparar um jantar surpresa especial para os três, como forma de agradecimento por tudo o que estavam fazendo por mim. Aproveitei minha ida a cidade por compromissos no cartório e procurei um presente para cada um deles, queria algo que os deixasse contentes e que fosse marcante.
Ao passar em uma das lojas me deparei com uma plaquinha dizendo “personalize seu globo de neve aqui” e fiquei super curiosa, me lembrei imediatamente de Tio Matt.
Flashback on:
Estávamos almoçando na mesa externa em um dos raros dias de sol escocês. Tio Matt contava lembranças de sua vida animadamente:
- Quando eu era apenas um menino travesso, gostava de cavalgar em Donas, principalmente nos dias de neve. – Disse enquanto bebericava sua taça de vinho – Ele era um cavalo especial aquele... bravo como um leão e teimoso como uma mula, se querem saber. Mas possuía um coração mole que valia a pena ser conquistado.
- É meu velho – disse tia Bennet, dando tapinhas em seu ombro – O tempo passou tão rápido para nós! Mas me lembro de você jovem e o quanto gostava desses animais.
- É verdade meu bem – respondeu ele – tudo começou com Donas. Meus pais tinham medo de nossa proximidade pois o achavam traiçoeiro, mas depois que consegui sua confiança nos tornamos inseparáveis. E todos os dias nas primeiras horas da manhã, eu escapulia sorrateiramente para o estábulo, para encontra-lo.
Flashback off.
Sim, essa com certeza seria uma boa escolha para ele!!
Alegre por ter encontrado o primeiro dos presentes, segui caminhando por Inverness, desbravando diversas lojas.
Após algumas horas eu já estava cansada e frustrada por não ter encontrado mais nada, então comecei a pensar em tudo o que sabia sobre tia Bennet e só me via a mente as diversas declarações de amor que ela fazia sobre Jamie. Então optei por comprar uma coisa que a faria se lembrar dele sempre, onde estivesse.
Mais um item da lista riscado!! Agora é a vez de Jamie.
Um grande desafio, pois ele sempre pareceu muito desapegado em relação a coisas materiais... precisava de algo que se tornasse uma memória afetiva.
Voltei para o carro e comecei e relembrar tudo o que eu sabia sobre ele. Após alguns instantes me lembrei de uma conversa noturna que tivéssemos embaixo das cobertas. Nela, ele me contou o quanto gostaria de ter um retrato com seus pais, já que só possuía fotos de bebê.
Então tive uma ideia, rezando para dar certo joguei no mapa “pinturas personalizadas” e vi que havia um estabelecimento há 05 km dali, “é para já” pensei e me dirigi até lá.
Com todas as encomendas realizadas, retornei a mansão com o coração quentinho e ansioso para o próximo dia.
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Ao anoitecer me senti inquieta, incapaz de ficar parada tamanha a minha ansiedade para o jantar surpresa. Jamie havia passado o dia fora apresentando whisky para novos clientes e não havia chegado ainda, sendo assim, não podia contar sua presença para me distrair.
Com milhares de pensamentos vindo à tona, optei por planejar o que faria amanhã. Decidi que me arriscaria a fazer um assado de porco com batatas, acompanhado de pãezinhos folhados. Fiz uma listinha com os ingredientes necessários e anotei alguns itens de decoração como leds para deixar tudo ainda mais bonito.
Ainda estava concentrada em minhas anotações quando passos pesados no corredor me fizeram perceber que já era tarde, olhei o relógio que marcava 20h45. A porta abriu-se e Jamie entrou.
Ele sorriu vagamente em minha direção, entrou e depois ficou parado imóvel junto a mesinha de canto, pensativo como se estivesse tentando lembrar de alguma coisa.
Tirou sua camisa e dobrou-a colocando-a com todo cuidado aos pés da cama, empertigou-se e marchou até a outra poltrona, sentou-se com precisão e cerrou os olhos. Eu observava a cena com as sobrancelhas erguidas, me divertindo, as anotações esquecidas em meu colo.
Após alguns instantes, ele abriu os olhos e sorriu para mim, mas não disse nada. Inclinou-se para a frente e examinou meu rosto com muita atenção, como se não me visse há semanas.
Finalmente, uma expressão de profunda revelação atravessou seu rosto e ele relaxou, os ombros curvando-se enquanto apoiava os cotovelos nos joelhos.
- Whisky – disse ele, com imensa satisfação.
- Entendo – disse cautelosamente – Muito?
Ele balançou a cabeça devagar, antes de responder.
- Eu, não – disse, me avaliando – você.
- Eu? – perguntei, confusa.
- Seus olhos – respondeu, com um sorriso de felicidade – a cor deles é igual a whisky! estive avaliando para saber se pareciam mais com xerez ou conhaque, mas não, essa é exatamente a cor.
Não pude deixar de rir, que conversa aleatória!
- Jamie, você está muito bêbado – disse, enquanto o cutucava com meu pé esticado.
Seu rosto alterou-se, assumindo uma expressão ligeiramente carrancuda.
- Não estou bêbado Sassenach – defendeu-se enquanto se levantava – quer dizer, posso estar um pouco, mas ainda consigo ficar em pé. Vou tomar um banho, me sinto sujo.
- Seria bom mesmo, você está suado e cheirando a álcool.
Ele caminhou com a postura extremamente reta para o banho e ouvi sua voz cantando algo incompreensível em meio ao som do chuveiro. Sorri e desci para buscar uma xicara de café para ele.
Ao retornar ao quarto, o encontrei dormindo. Deitei-me ao seu lado achando que ele não perceberia, mais seu braço quente me envolveu puxando-me para mais perto.
- Senti sua falta hoje minha Sassenach – sussurrou – nem bêbado eu consigo deixar de desejá-la, ficar longe de você foi difícil. Mas pelo menos vendi todo o whisky que planejei para hoje e o resto da semana.
E antes que eu pudesse responder, ele adormeceu novamente.
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Uma longa jornada
RomanceClaire é advogada em uma empresa renomada em Londres, mas se vê infeliz com sua vida. Até que toma uma decisão por impulso e vai parar em um trem sem saber o seu destino. O que será o futuro lhe reserva? Essa é uma história sobre como escolhas refl...