05- Circo

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No outro dia, saí para caminhar com minha mãe, como fazíamos no "passado". Esse hábito sempre foi uma rotina importante para nós, uma forma de nos conectarmos e relaxarmos juntas. O sol estava começando a se erguer no horizonte, tingindo o céu com tons de rosa e laranja, e o ar fresco da manhã preenchia nossos pulmões.

— Solte-as — escuto novamente minha voz dizer após passarmos em frente a uma casa com cachorros presos em um cercado. O som das correntes e o latido baixo dos cães era perturbador.

— Solte-as! — a voz se intensifica, ecoando na minha mente como um comando impossível de ignorar.

— Está escutando isso também? — minha mãe pergunta, seu rosto mostrando uma mistura de curiosidade e preocupação.

— Estou. Vamos ignorar. — digo, tentando afastar a sensação estranha, e continuamos nossa caminhada em silêncio, tentando ignorar o incômodo.

Após voltarmos para casa e tomar um banho refrescante, deitei na minha cama, esperando encontrar um pouco de paz. Porém, esse descanso não durou tanto tempo.

— Solte-as! — escuto a voz mais forte que antes, quase como um grito dentro da minha cabeça.

Levanto da minha cama, coloco um calçado e um casaco rapidamente, e pego minha bicicleta. Pedalo apressadamente até a "casa dos cachorros". Chegando lá, me deparo com minha mãe, já esperando.

— A voz? — minha mãe pergunta, seus olhos refletindo a mesma confusão que eu sentia.

— Sim. — digo, olhando para o cercado onde os cachorros estavam presos, seus olhos brilhando na escuridão. Logo avistamos um carro se aproximando. Era tio Ben. Ele estaciona perto e sai do carro, parecendo tão perturbado quanto nós.

— Solte-as — ele diz, seus olhos arregalados. — Estou ouvindo isso desde que passei por aqui hoje de tarde.

— Você disse que eu estava ficando louca, Ben. Por que mentiu? — minha mãe pergunta, a frustração evidente na sua voz.

— Porque não quero ser uma aberração de circo! — tio Ben exclama, sua voz tremendo de emoção.

— Bom, isso aqui nem é circo, mas já está ficando uma palhaçada! Vamos falar menos e fazer mais. — digo, surpreendendo a todos com minha determinação. Minha mãe arregala os olhos, mas não discorda. Tio Ben vai até o carro e pega uma ferramenta para abrir o portão.

— Só pra esclarecer, isso aqui é um crime. — tio Ben diz, hesitando por um momento.

— É, sou policial. Sei bem o que é crime ou não. — minha mãe diz, assumindo uma postura resoluta. — E se nos atacarem?

— Esse é o trabalho deles. — tio Ben diz, começando a forçar o portão.

Depois de um momento de tensão, o portão se abre e os cachorros saem correndo, suas caudas abanando alegremente.

— Isso foi bizarro. — mamãe diz, tentando processar o que acabara de acontecer.

— Jura? — tio Ben diz, sendo irônico, mas claramente abalado.

— E agora? — pergunto, sentindo a adrenalina começar a diminuir.

— Eu não sei. — tio Ben responde, balançando a cabeça. — Mas ouvir uma voz na sua cabeça é acaso. Três?

— Não é acaso. — minha mãe afirma, com uma certeza que me arrepiou.

No outro dia, durante o café da manhã, recebi uma ótima notícia. Depois de dias, e anos para papai, irei revê-lo. O sol brilhava pela janela da cozinha, enchendo o ambiente de uma luz acolhedora.

— Que horas ele virá? — pergunto, dando uma última mordida na panqueca que havia preparado.

— Ainda não sabemos, mas se prepare, ele pode chegar a qualquer momento. — tia Grace diz, enquanto ajeitava a mesa.

A campainha toca de repente, interrompendo nossa conversa.

— Coincidência? — pergunto, sentindo meu coração acelerar.

— Adivinha quem chegou. — minha mãe diz, um sorriso se formando em seus lábios.

— Papai? — pergunto, quase sem acreditar.

— Oi, filhota! — meu pai diz, entrando pela porta com um sorriso largo. Eu dou um pulo rápido em seu colo, abraçando-o com força. — Me perdoe não conseguir ver você antes, está tudo tão corrido.

— Fique tranquilo, pai. — digo, sentindo um alívio imenso.

— Papai vai reservar um dia para passearmos, mas antes preciso conversar com sua mãe rapidinho. — ele diz, acariciando meu cabelo.

— E não ouse ouvir por trás. — minha mãe alerta, brincando. — Acredita nisso, Jared?! Temos uma mini espiã em casa. — todos riem, aliviando a tensão.

— Voltando para o assunto do nosso dia juntos, onde vamos? — pergunto, ansiosa.

— O que acha de irmos ao parque de diversões? — papai pergunta, seus olhos brilhando de empolgação.

— Mamãe pode ir junto? — pergunto, querendo que toda a família estivesse reunida.

— Vamos ver. — ele diz, com um sorriso.

— Ótimo! Estão liberados. — digo.

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