Entro no carro vendo o garoto usando uma calça moletom e um suéter preto, eu usava literalmente o mesmo conjunto, ele sorriu assim que me viu e eu retribui o sorriso. Eu nunca achei o Felipe bonito, esteticamente falando, mas, nos últimos tempos, tenho notado alguns fragmentos de beleza no seu físico.
A forma como seus dedos tocam no volante e passam a marcha, sua mania de arrumar o cabelo para trás, sorrisos espontâneos, a forma como ele morde o lábio inferior e aperta o piercing contra a arcádia dentária superior.
Os seus olhos castanho escuro fitam-me pelo retrovisor desde o momento em que entrei no carro, aquilo causava um frio na barriga desconfortável e uma sensação de curiosidades na área abaixo do meu estômago, aquilo me trazia muitas perguntas sobre o meu corpo, mesmo que eu tentasse ignorar.
⸻ Você... Eu não tenho assunto. - Eu ri baixo. - Você quer ir no show do big time rush?
⸻ Muito caro, tá achando que dinheiro cai de árvore? - Ele riu baixo.
Minhas mãos estavam em cima da minha coxa, a sua mão toca a minha, entrelaçando nossos dedos e fazendo a cabeça dos seus dedos tocarem a região gelada da minha coxa, ocasionando arrepios curiosos no meu corpo.
A sensação era boa e nova, relaxante e confortável, considerando que agora ele estava batucando com a ponta dos seus dedos na minha coxa, cheguei na conclusão de que eu gostava daquele toque, mesmo que uma parte de mim sentisse vontade de gritar e brigar com o lado de que estava permitindo tanto contato.
⸻ Você ainda namora? - Ele perguntou, eu confirmei com a cabeça.
⸻ E você?
⸻ Você sabe que não.
⸻ Por que não? - Deixei minha curiosidade me levar.
⸻ Digamos que eu gosto da pessoa errada.
Ele gostava de alguém. Podia ser eu, não podia? É, podia ser eu, provavelmente não era, mas podia ser, eu acho.
⸻ Ela sabe que você gosta dela?
⸻ Suponho que ela desconfie, mas não acho que ela está emocionalmente disponível para mim e, mesmo que estivesse, a situação é meio complicada. - Concordei com a cabeça.
A sua mão que me tocava volta para o volante, senti meu coração bater ainda mais forte pela falta do contato, ele era tão lindo que eu podia morrer enquanto olhava ele.
Merda. Era errado me sentir assim, eu tinha namorado.
⸻ Você tá bem? - Concordei com a cabeça. - Você tá meio estranha.
⸻ Eu não estou estranha. - Respondi.
Eu sabia que eu estava estranha, a minha cabeça gritava, um lado dizia que eu era um monstro por estar sentindo aquilo enquanto o outro dizia que eu não tinha culpa.
Eu nem conseguia identificar o motivo pelo qual aquela atração de iniciou.
⸻ Você é estranha em um bom sentido. - Eu ri.
⸻ Você definitivamente não sabe como elogiar alguém. - Ele riu.
⸻ Eu não to acostumado a fazer isso.
⸻ Elogiar as pessoas? - Ele concordou com a cabeça.
⸻ E conversar com elas como tenho feito com você. - Relutante com a razão, deixei um sorriso transparecer no meu rosto. - Odeio quando você sorri assim para mim.
⸻ Assim como?
⸻ Não sei explicar, mas toda vez que você sorri assim, eu fico sentindo um negócio estranho. - Eu ri mais uma vez. - Soou estranho, mas eu não sei explicar o que eu sinto.
⸻ Irei parar de sorrir então.
⸻ Digamos que eu gosto de quando você sorri, eu gosto tanto que eu preciso odiar para não amar, você entende?
Deus, talvez ele realmente estivesse gostando de mim.
⸻ Acho que sim, não sei.
E se ele estivesse gostando de mim? O que eu devia fazer? Largar o Gustavo? Parar de falar com o Felipe? Contar para a Gabriela?
⸻ Você quer que eu te deixe em casa de novo? - Nego com a cabeça.
⸻ Eu gosto de andar de carro com você. - Ele sorriu um pouco bobo com o que eu falei. - Não se vanglorie, Felipe.
⸻ Não tem como não me vangloriar, Loirinha. - Eu ri e abracei as minhas pernas, deitando a minha cabeça no banco.
⸻ Por que você me chama de "Loirinha"? - Ele deu os ombros.
⸻ Você é loira e mais nova que eu, não é? - Concordei com a cabeça. - Loirinha. Quer um apelido novo?
⸻ Não, já estou acostumada com esse.
Ele faz uma curva com o carro, mas a minha mente estava concentrada nele e apenas nele, não conseguia me importar com inércia, força normal e outras merdas da física que eu provavelmente pensaria caso não estivesse tão concentrada nele.
⸻ Você prefere ver série ou filme? - Ele perguntou.
⸻ Filme, e você?
⸻ Também.
⸻ O Gustavo prefere série, sabia?
⸻ Qual é a série favorita dele?
⸻ Big Bang Theory. - Murmurei rindo.
⸻ E qual é o seu filme favorito?
⸻ Acho que "Shiva Baby", e o seu?
⸻ Talvez "The Social Network". - Eu segurei o riso, mas ele acabou escapando.
⸻ O filme do Mark Zuckerberg? - Eu explodi, disparando uma risada alta e ele me mostrou o dedo do meio.
⸻ É um filme muito bem feito, tá bem?
⸻ Eu sei disso, eu adoro esse filme, o Jesse Eisenberg está nele.
⸻ É um bom filme.
⸻ Nunca disse que não era.
⸻ Que horas são?
Eram quatro da manhã. Meu deus, já são quatro da manhã?
⸻ Quatro horas.
⸻ Ta na sua hora de ir para casa. - Concordei com a cabeça.
Ficamos em silêncio enquanto ele dava a última volta no quarteirão para que eu chegasse na porta do prédio novamente.
⸻ Chegamos. - Ele diz sem demonstrar nenhuma emoção.
Eu olhei para os meus pés, estava frio para caralho, aperto o botão que libera o cinto, ele me observava em silêncio, tocava "Juliet" do Cavetown no carro, o som do cinto batendo contra a parede do carro ecoa nos meus ouvidos, mas meus olhos vão em direção do Felipe.
⸻ Até outro dia? - Ele perguntou, seus olhos prendia-me.
⸻ Até, eu acho. - Ele concordou com a cabeça.
Ele ficou em silêncio. Eu também. Ele continuo olhando para mim e sorriu sem dentes. Eu não desviei o meu olhar. Ele começou a se aproximar de mim. Eu permiti e também me aproximei dele. Um beijo foi deixado no meu nariz, seus dedos tocaram o meu rosto, eu senti um arrepio percorrer pelo meu corpo.
Juntei forças do fundo da minha alma e me afastei, ele pareceu um pouco assustado, mas entendeu o recado.
⸻ Desculpa. - Ele disse rápido e eu concordei com a cabeça.
⸻ Pelo que?
⸻ Esquece. - Concordei com a cabeça.