VI - A Beleza da Solidão

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Para Carmen, enquanto ela desenhava Draco Malfoy, parecia surpreendente, mas sim, ele era a pessoa de olhos mais vazios e solitários que ela conhecia. Era estranho pensar que alguém rodeado sempre de pessoas, conquistador de muitas meninas, de sangue mais puro e nobre da história bruxa e de família altamente rica, era tão triste, tão só. Mas dinheiro e nobreza não compravam um lar, não compravam felicidade. Nos olhos de Draco, Carmen viu uma pessoa que assim como ela, sentia que não pertencia a esse mundo. Ela passou todo tempo, olhando mais detalhes no rosto de Draco. Nunca antes, Carmen fez isso, apenas na primeira vez que o viu.

| Flashback |

Carmen havia acabado de ser selecionada. Estava sentanda ao lado de uma garota de cabelos pretos e curtos, chamada Pansy, esperando pela seleção de Sophia, quando a professora Mcgonagall chamou por um nome: Draco Malfoy. O garoto que se sentou no banquinho, era lindo, o mais lindo que Carmen havia visto até agora. Seus cabelos eram tão claros quanto a neve e ele possuía um sorriso confiante. Nada era mais atraente do que a confiança. Quando ele por fim se sentou, bem próximo a ela, pois ambos foram selecionados para a mesma casa, Carmen pode notar mais de sua beleza, mas foi interrompida por ele, que logo perguntou o que a garota tanto olhava. De início, ele pareceu simpático, mas quando Carmen contou do quanto ficou surpresa por ser uma bruxa, Draco passou a xinga-la, humilha-la e destrata-la.

Dês de esse dia em diante, Carmen nunca mais reparou no rosto ou beleza do garoto, parecia que havia estado de olhos vendados por todo esse tempo, não enxergando o quão lindo aquele rapaz era. Agora, ela parecia extasiada com os fios claros como a neve, com os lábios, as maçãs do rosto, mas principalmente os olhos vazios e solitários. Como a dor e a solidão poderiam ser tão lindas? Como ela estava se sentindo tão atraída pelo cara mais babaca que conheceu? "Carmen, Carmen, saiba que isso não será nem um pouco bom pra sua saúde mental inesistente." Ela pensava. Porém, quanto mais tentava evitar, mais encantada por Draco ela ficava. Não era ele em si que estava a deixando tão fraca, eram seus olhos, eram sua alma e o quanto dela, ela enxergou neles.

A beleza da solidão a assombrou constantemente, mesmo depois de dias. Carmen olhava para o desenho que havia feito, suspirando encantada. Se pegava pensando em Draco quase que todo o tempo, pensando no que ele poderia estar sentindo naquela hora. O observava as vezes, durante os jantares, vendo como seus olhos sempre eram vazios. Aos poucos ela passou a olhar como a postura dele era perfeita, como ele ficava ainda mais atraente de cabelos bagunçados ou como ele agarrava a mesa com força, quando se empolgava com algo que ele contava. Se sentia quente ao imagina-lo segurando suas coxas assim. Como será que ele era, sem todas aquelas camadas de roupa? Por qual razão ela estava imaginando isso?

Carmen bateu as mãos na mesa, irritada consigo mesma, se levantando depressa. Draco, olhou para ela, de cima a baixo e riu, a chamando de louca, mas Mattheo foi atrás dela, querendo saber o que aconteceu. Carmen estava ficando vermelha, irritada, bufando e andando de um lado para o outro, enquanto o moreno lhe perguntava o que havia acontecido. Sua mente rodava imagens reais, de Draco sendo um completo babaca com ela, mas misturadas a imaginação da moça, com ele passando as mãos por seu corpo, a empurrando contra a parede... Aquilo tinha que parar. Então Carmen começou a chorar, como ela sempre fazia, quando estava com raiva de si mesma. Chorava de soluçar, batendo seus joelhos ao chão, colocando as mãos no rosto, para que Mattheo não a enxergasse naquele estado. O rapaz no entanto, a abraçou, a acolhendo, enquanto ela chorava.

Pessoas solitárias e sem lugar próprio no mundo, tem uma forma bastante peculiar de se apaixonar. Digo isto, pois esta que vos fala, compreende bem essa forma estranha. Não são elogios de como você parece interessante ou bonita que agradam pessoas assim. Não é apenas lhe tratar bem, ou lhe endeusar. Talvez, tamanha veneração, seja altamente irritante, ou talvez aumente o poder de manipulação que essa pessoa já possa possuir. Pessoas como Carmen, como Draco e muitos outros, gostam de conexões, gostam de encontar alguém estranhos e diferentes, gostam de sentir que existe alguém que se sente da mesma forma, saber que não está totalmente só no mundo.

Sophia por exemplo, é para Carmen, sua alma gêmea. Não que almas gêmeas sejam necessariamente um casal, mas apenas amigos inseparáveis! Sophia é para Carmen, sua amiga inseparável, sua irmã de alma. Quando Carmen encontrou Sophia, ela encontrou uma parte perdida de si própria: a parte que confia nas pessoas, que tem fé na real amizade, a parte que lhe trazia risadas e sonhos brilhantes e malucos, quase impossíveis, mas tão possíveis, ao mesmo tempo. Sophia era para Carmen, o que são as palavras para a poesia, as notas para a melodia, Sophia era como uma necessidade. Ela sempre precisou de uma amiga como aquela e só soube disso, quando por fim a encontrou, como se fosse seu destino, se sentar com ela em qualquer lugar e dar risada de coisas aleatórias.

Mas por que digo tudo isso? Porque no instante em que Carmen chorava, abraçada a Matteo, agora não mais por raiva, mas por dor, por tudo o que passou não só com Draco, mas com seus pais, pensando em que se seus pensamentos se seguissem em Draco Malfoy, ela teria mais alguém pra a ferir, como seus pais faziam. Nesse momento, Draco passou por ela. Quando olhou e a viu chorando, dizendo não aguentar mais, dizendo que sentia que não era uma alma pertencente à aquele mundo, Draco se encontrou nela. Pela primeira vez em sua vida, ele conheceu alguém que era tão excluído quanto ele. Seus olhos se demoraram no rosto inundado de lágrimas, da garota. Ele sempre achou Carmen linda, encantadora, mas nunca notou que aquela menina poderia ser ainda muito mais do que seu rosto bonito e lábios carnudos. Carmen, assim como ele, era vista apenas por sua beleza, mas poucos a enxergavam de verdade e notavam o ser triste que ela era. Draco se viu nela. Se sentiu conectado, pela primeira vez em sua vida, tomando a decisão de nunca mais importunar Carmen.

O problema seria que ela importunaria sua mente. A feição de dor, os soluços de quem estava se segurando muito para não gritar, os olhos azuis, carregados de dor... Aquela imagem nunca saiu de Draco. Era como se Carmen tivesse despido sua alma para ele, mesmo que não fosse ele a acolhendo em um abraço, a acalmando e dizendo que estava tudo bem, pois ele estava com ela. E quanta raiva Draco sentiu de seu primo e de si mesmo, quando pensava nisso, quando pensava que não era ele abraçando a menina, afagando-lhe os cabelos e dizendo que ele estava ali por ela. E como Mattheo poderia dizer que estava com ela, se visivelmente ele não sabia o que ela sentia? Draco sabia que as palavras dele nunca surtiriam efeito nela, pois ele não a entendia de verdade. Draco sabia que apenas ele seria capaz de consolar verdadeiramente a garota, ficando com raiva, com ciúmes, por ser Mattheo em seu lugar.

Tentou por muitas vezes, retirar seus pensamentos dela, assim como ela tentava o retirar dos seus. Mas era inevitável! Sempre que Draco fechava os olhos, era ela que vinha em sua mente. Inicialmente eram os choros, era a dor que ela carregava, depois se tornou seus lábios. Na comunal, ele as vezes a pegava o olhando, pensando em quais motivos poderiam ser, por qual razão ela o olharia. Aos poucos, ele passou a imaginar que ela o olhava porque de alguma forma, ele a atraia. Então ele a observava andar, como sua saia se balançava de forma tão bonita, com o andado da garota. Olhava em como ela mordia os lábios quando estava concentrada, como seu rosto ficava ainda mais melancólico quando ela sorria ou como ela parecia adorar olhar a natureza ao seu redor, quando estava ao ar livre.

Pela primeira vez, ele notou que Carmen adorava ver o Lago Negro e que parecia "conversar" com algumas das criaturas que nele viviam. Percebeu que ela costumava pegar os mesmos livros que ele gostava de ler, na biblioteca de Hogwarts. Viu que ela odiava totalmente quando Sophia vinha lhe falando de alguém que parecia estar interessado nela e percebeu algo que Sophia e Pansy também percebiam: que Carmen não acreditava que alguém poderia estar se sentido atraído por ela, pois ela não se achava o suficiente.

Isso irritava Draco. Claro que Carmen era suficiente, que era atraente. Ela era bonita e inteligente, de personalidade única, totalmente encantadora. Então por qual razão, ela não se sentia o suficiente? Alguém havia feito isso com ela, e Draco ficou chateado por perceber que ele era uma dessas pessoas. E sim, ele as vezes ficava irritado por se importar tanto com ela, por passar o dia a olhando ou pensando nela. Se achava um imbecil por se arrepender de a humilhar e por ter parado com isso. Ela era uma sangue ruim, merecia esse tipo de tratamento. Mas ele não conseguia. Não agora que ele viu a alma dela, que ele se viu nela.

Sim, Draco Malfoy, estava se apaixonando por Carmen.

Oblivion - Draco vs Lucius MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora