Prólogo

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Acordo com o sol praticamente me cegando.
Essa persiana quebrada não me deixou dormir até tarde.
Me nego a levantar da cama. Quero ficar aqui um pouco mais.
Lembro-me que minhas melhores amigas, Paulinha e Inês foram com papai me buscar no aeroporto ontem a noite, e agora uma está dormindo no colchão no chão do meu quarto, e a outra na rede.
Fomos dormir as 4h da manhã.
Contei tudo que consegui lembrar sobre Rarin, e elas quase morrem de susto quando digo que estou noiva. 
Neste exatomomento Paulinha tá com baba escorrendo no canto direito da boca, não resisto e tiro uma foto, vou zoar com ela mais tarde.
Não resisto e vou até a rede onde está Inês, preciso pegá-la também. Infelizmente ela está impecavelmente uma lady.
Como eu estava com saudade dessas doidas!
Volto pra cama e me estico toda nela. Meu pensamento vai longe. E perco-me nele.

48h antes, eu me acabava em lágrimas ao terminar de ler a carta de Rarin.
Estava quase voltando pra o portal quando as gêmeas atrasadas, chegaram soltando gracinhas e deboches.

- Ihhhh gêmea eu odeio despedidas, olha só, borra toda a maquiagem!

- Ah sim! Mas isso se ela gostasse de usar maquiagem né?!

Elas riram as minhas custas. Nem liguei, no estado em que eu estava, nada, nem ninguém me importava mais do que um par de olhos azuis que estavam lá dentro. Decidida me levantei e fui em direção a entrada do reino.
Senti duas mãos me agarrarem e me impedirem de seguir em frente com meus planos. Virei pra fuzilar quem estava me interrompendo, e dei de cara com uma Kamylla igualmente decidida.

- O que danado acha que está fazendo? - me perguntou.

- Me largue Kamylla! Estou voltando pra ele. - ela não me larga e nem sequer afrouxa sua pegada em meu braço.

- Vai voltar pra quê? Por que ele escreveu essa cartinha provavelmente dizendo que te ama e blá blá blá... você vai ser burra o bastante pra ficar enterrada aí dentro?

- Mas o quê você está falando? Não estou com cabeça pra adivinhações Kamylla! - mas foi Kauanne quem respondeu. Ela estava sentada no mesmo tronco que outrora eu me encontrava.

- O que minha querida e idolatrada irmã tá querendo dizer é que se você voltar aí pra dentro, o acordo com o rei será cancelado! E ele não te dará uma segunda chance de sair assim tão fácil. Pode acreditar.

Fiquei pensativa entre lágrimas. Não quero abandonar meus sonhos e objetivos mais também não quero deixar Rarin nessa tristeza que o está consumindo. Kamylla soltou-me, e com uma tentativa de encerrar sua participação naquela conversa, proferiu:

- Não seja burra garota. Aqui a sorte não sorri duas vezes pra mesma pessoa quando se trata do nosso rei! Ela é toda sua gêmea. Não tenho paciência. - piscou pra irmã e saltou pra copa de uma árvore, percebi seu afastamento por conta dos movimentos de cada uma delas assim que ela aterrisava e mudava seu caminho.

- Vocês são sempre tão sinceras assim? - perguntei, mais pra me deter ali parada do que por curiosidade.

- Sinceridade acima de tudo! E vocês? Quando se apaixonam se tornam idiotas sempre? Além de ficarem melosos e pagajosos. Argh! Sinceramente não sei pra quê se apegar dessa maneira. Se a outra pessoa te trata mal, você sofre, se ela faz uma coisa que você não gosta, você sofre, precisa sair pra ir ali viver a vida um pouco, mais sofrimento! Nossa! O bom é não ter compromisso, você tem um bom prazer sem ter que dar satisfações. Sem ficar pensando na melhor maneira de tomar todas as decisões sem machucar a outra parte. E se isso se chama amor, isso que vocês dois sentem, não era pra ele estar feliz em ver que você busca seu amadurecimento profissional? O que ele fala na carta? Pede pra você ficar não é? Aposto que é!

- Não, ele não pede. Ele só pede que eu não o esqueça, que eu não desista de nós. Só isso!

- Oowwnn, ecaaa! - ela segura a garganta com as duas mãos num gesto como se quisesse vomitar. - Isso me enoja. Esse lengalenga de amor não me deixe, amor serei seu para a eternidade, amor, amor, amor... Argh!

- Kauanne você definitivamente não tem jeito!!!

Rimos e dei meia volta. Mesmo não tendo as melhores palavras que deveriam ser medidas por conta do meu estado, ela me ajudou a ficar firme em minha decisão e me levou a pousada. Liguei para o meu pai e ele providenciou de lá de Recife a troca da data da minha passagem.

E assim cá estou. Volto para minha realidade no mesmo instante que alguém bate a porta. Dou um salto da cama ao chão e abro-a num movimento perfeito e gracioso. Até "Neo" de Matrix ficaria com inveja se visse o que acabei de fazer e sem ajuda de programas de computadores. Era o o meu pai na porta.

- Bom dia bela adormecida, o café está na mesa, Jussara está louca pra te ver.

- Tudo bem pai, vou acordar as meninas e já nos juntamos ao senhor.

- Não demorem!

Ok! Ok! Ok!
Papai estava praticamente dando uma intimação, ele devia estar com muita fome, olhei pra meninas e pulei em cima da minha primeira vítima que estava deitada no chão, gritando:

"ATACAAAAR"

Vinte minutos depois estávamos, devidamente apresentáveis para um café da manhã. Jussara ao me ver, deu-me um abraço de urso, quase fico sem fôlego, ou melhor, fiquei sem fôlego.

- uffaa Jussara quase me mata asfixiada! Também estava com saudade. - fiz meu melhor sorriso.

- Aah menina Amanda é que faz tanto tempo que não lhe vejo!

- Calma aí, eu saí faz pouco mais de 30 dias. Deixe de ser exagerada.
rsrsrsrsr.

- Pois é, mais parece que foi mais tempo. Nesses trinta dias aconteceram tantas coisas com você!

- Você não imagina o quanto Jussi! - lembrei-me na hora dos elfos, do acidente que perdi minha mãe, da minha separação do meu amor. a melancolia já queria me pegar e Paulinha percebeu.

- Tudo muito bem! Tudo muito bom! Mais EU estou faminta! Vamos comer Amanda. Bom dia Jussara. Huuummm esse bolinho tá cheirando! É bolo de quê mesmo Jussi?

- De cenoura! Com cobertura de chocolate como a minha menina gosta!

Pronto! Falou na comida dela, ela ficava toda orgulhosa. A Jussara trabalhava na minha casa desde que nasci. Ela que praticamente me criou. Sabe tudo o que eu gosto. E a trato como se ela fosse da família, porque pra mim ela realmente é.
As meninas estavam fazendo a maior bagunça se servindo e conversando, dando alegria a uma casa silenciosa, e eu não fiaquei pra trás entrei na bagunça. Papai estava sentado na cabeceira da mesa rindo com as coisas que a Inês falava. Eu estava na outra ponta da mesa, e as meninas uma de cada lado. O café da manhã hoje foi posto na mesa do jardim. O sol estava lindo, e já estávamos quase na hora da escola. Ao me servir de uma fatia generosa de bolo de cenoura, que comeria com meu chocolate quente papai fala interrompendo nossa bagunça.

- Filha!

- Sim Papai?

- É MUITO BOM TE TER DE VOLTA!!!


30 NoitesWhere stories live. Discover now