Kamylla
Embaixo da água minha visão fica limitada.
Posso ficar aqui por longos trinta minutos mas vejo tudo turvo.
Consigo distinguir um vulto se agachando para tocar na água, ele parece se desfazer da parte de cima de sua roupa, então novamente procura contato com a água e se refresca.
Pela posição que se encontra, só pode estar sentado a beira da água. Ou de cócoras! Era só o que me faltava.
Não entre em pânico Kauanne! Você tem meia hora até parar de respirar totalmente, tento me acalmar.Nado para longe, o mais distante possível, em alguns momentos olho em direção ao meu alvo, mas ele está a cada segundo mais indistinguível, uma borrão em minha visão, nado até o tronco de uma árvore que caiu próxima ao leito do rio uns seis meses atrás, e lá me escondo para emergir e tomar ar, lentamente para não ser descoberta com alguns barulho tomo posição e me encaixo na fresta pra vigiar o visitante, não o conheço, não é elfo, tem o cabelo preto, é forte, e a todo o momento olha de um lado pro outro, demonstrando que sabe que não está em um lugar seguro, mas o que o faz chegar tão perto de nossa divisa?
Mas o que eu estou pensando? Ele está tão errado quanto eu. O que EU faço tão perto da divisa também? Como posso julgar? Não posso. Enquanto tento descobrir quem ele é ou o que faz aqui com minhas suposições, ele se levanta com alguma coisa em suas mãos, e essa sua simples mudança freia meus pensamentos, e atrai novamente minha atenção, ele veste uma camisa preta, que estava jogada na grama, e olha para o céu, respirando intensamente, de onde estou percebo seu tórax subir e descer lentamente, porém intensamente. Ele passa as mãos pelos cabelos negros, pega sua espada que até este momento eu não tinha visto, e a prende em suas costas, nesse momento minha ficha cai e eu sou tomada por um esclarecimento, uma fada. Ele é uma fada. E está aqui na divisa, e quero matar ele.Assim que o homem fada se distancia do leito, desaparecendo do meu campo de visão, espero alguns minutos para que eu possa parar de ouvi-lo e saio da água, corro em direção à pedra que esconde minhas roupas e visto-me.
Não estou armada, droga!
Como posso combatê-lo?
Não posso.
O que faço?
"Pensa Kamylla, Pensa Kamylla"
Tento forçar uma atitude rápida e segura, mas nada vem. Desisto.
Não sou de desistir, jamais.
O que tá acontecendo comigo?
Preciso conversar com alguém, nem pensar na gêmea, já sei, Amanda.
Preciso encontrar ela.
Provavelmente está com Rarin, ache Rarin e você acha Amanda, ou vice-versa.Deixo o rio e me direciono ao Pátio principal, lá estão a maioria dos guerreiros e seus familiares, ainda não chegou a hora de partir então não está abarrotado de elfos por enquanto, nada de Rarin, onde ele se meteu?
Kauanne está agarrada no pescoço de Hilton, parece até um adorno, um colar provavelmente, (Risos) que maldade a minha, se ela soubesse que estou pensando isso dela, provavelmente eu não terei outra chance pra esse tipo de pensamento.
Bem, aqui no pátio eles não estão, o jeito é bater nos aposentos deles dois, vamos lá, alguém precisa saber da aproximação das fadas.No caminho eu tento ser o mais invisível possível, não desejo chamar atenção desnecessária, o guerreiro de hoje cedo está no meio do corredor que dá acesso a ala do meu destino, ele com mais dois outros amigos, não diminuo meus passos, pelo contrário, passos firmes e designados, essa sou eu.
Me aproximo e eles param de conversar, todos viram as cabeça em minha direção, e por um segundo me sinto envergonhada, mas não vacilo; 'continue Kamylla', me encorajo.Passo por eles e o silêncio reina, até que um deles susurra para o malfadado trio.
"Se existe alguém que você não conhece aqui, é só perguntar pras gêmeas que elas com certeza vão conhecer!"
E o outro completa:
"Principalmente se for homem!"
E todos caem na risada. E eu paraliso.
Paro de andar. Não posso deixar os distintos senhores sem uma resposta, viro lentamente e os encaro, eles estão se divertindo tanto as minhas custas que mal perceberam que eu ainda estou ali, um deles abre os olhos depois da crise de riso e dá uma cotovelada no amigo a esquerda, que faz o mesmo gesto até que todos os três estão me encarando ainda com o sorriso torto em seus lábios, um deles quebra o silêncio.
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30 Noites
FantasyA liberdade tão aguardada por Rarin, é o início de sua nova prisão. Após cinco anos, Amanda retorna para seu novo e definitivo lar, a felicidade de sua volta é interrompida pela ameça de uma guerra que pode custar muitas vidas. Imaginar seus...