RARIN
Acordo às 5h00, constato que tudo está seguindo o plano que tivemos de nos separarmos para atacar pelos flancos. Acampamos a noite toda entre revesamento de soldados para fazer a vigília, não podemos perder tempo, a guerra começa esta noite, mas tudo deve estar preparado até lá, a primeira coisa a fazer é levantar acampamento. Cada um sabe de suas obrigações e logo me ponho a postos para ajuda-los, varro com os olhos toda a extensão de nossa terra procurando algum sinal de ameaça, mas tudo está tranquilo, preciso relaxar um pouco, as fadas não atacarão antes da hora, isso foi um acordo feito os dois generais.
Às 7h00 estamos todos ao redor de um imenso caule de árvore caído ao chão que está improvisado como mesa, alguns comem ou já terminaram sua refeição e estão jogando conversa fora, outros como eu, procuram uma brecha pra se sentar e tentar colocar algo no estômago, finalmente consigo um lugar e sento-me. Acabo a refeição e a saudade de Amanda me invade, como ela estará? Será que já acordou? Como eu daria tudo para não ter guerra, tantos anos em paz, tantos anos pra vivermos e logo quando a tenho definitivamente ao meu lado, preciso partir. Não poderia ficar no reino, minha honra está aqui, e é aqui o meu lugar. Distraio-me com um dos arqueiros organizando suas armas, ele limpa uma a uma, e já mergulha as pontas de suas flechas em um líquido venenoso, as penas de nossas flechas são amarelas, mas cada arqueiro precisa levar uma flecha com penugem branca e uma vermelha, presa rente ao corpo, caso precise se comunicar.
A penugem vermelha significa que o perigo está próximo, na prática acontece assim: algum arqueiro fica na copa da árvore mais alta e ele é os olhos do pelotão que segue por terra, então ao avistar o perigo se aproximando, ele atira a flecha vermelha para o solo perto de algum soldado que deve imediatamente correr e avisar ao seu superior mais próximo. Já a penugem branca quase nunca é usada, mas igualmente importante, significa rendição.
Quando um dos lados perde e pretendem se render não podem simplesmente cruzar a fronteira em busca de piedade, isso seria muito arriscado para o contingente que sobrevive, o mais seguro é a flecha branca, que é mirada ao chão do território inimigo. Basicamente essas são as duas regras mais importantes de uma guerra em nosso mundo. E nenhum lado pode ignorar a flecha branca. Uma vez atirada a guerra é finalizada não importando o número de mortos ou vivos. Estava perdido em emus pensamentos quando um tumulto desvia minha atenção do arqueiro a minha frente, em meu flanco direito alguns soldados se aglomeram, uma correria de outros mais para o mesmo lugar, levanto-me, preciso saber o que está acontecendo aqui, entre empurrões tento abrir caminho, em alguns momentos não tenho muito sucesso, e avançar se torna impossível, escuto palavras como 'covardes' 'precisam pagar' 'isso não vai ficar assim', até que chego ao motivo de tanto ódio.
Um soldado, que pertence a outro pelotão está deitado no chão, com uma flecha vermelha na mão, e acaba de cair sem vida. Uma coisa é certa, ele se arrastou floresta a dentro pra vir nos alertar do perigo, mas onde está o pelotão dele?
Sisórium grita para que abram passagem para ele e vejo a raiva crescente em seu rosto assim que seus olhos acham o elfo sem nenhum feixe de vida correndo em suas veias. Nossos olhares se encontram e se perdem no mesmo instante que o cabo Arlo grita algo no meio do acampamento, estamos longe e não conseguimos distinguir o que ele fala, corremos em sua direção para uma aproximação rápida, e só então o que ele diz se torna compreensível "fogo" "fogo" "fogo", ele aponta para o céu, sinto o pavor me invadir pois a fumaça preta está vindo da direção do acampamento do 'pelotão águia' de nosso reino.
A lembrança da estratégia de nos separarmos na noite anterior me invade.
Rapidamente me armo com o arco, esqueço as flechas obrigatórias, que se danem as flechas brancas, no mesmo instante Sisórium me nomeia o líder de um pequeno contingente que irá até o acampamento vizinho ver o que aconteceu.
Não perco tempo e escolho dez homens que devem vir comigo, corremos floresta adentro na direção nordeste, ao nos aproximarmos ergo o ante-braço para que diminuam o ritmo, de longe vemos o fogo e a fumaça escura já toma todo o céu, não sabemos ao certo o que aconteceu, mas claramente eles foram atacados, e agora queimam nas chamas do que parece ser uma enorme fogueira, mas não é! Ali nas chamas existem irmãos de linhagem. Cuidadosamente nos aproximamos do acampamento, passo a passo, lentamente sendo dado, virando-nos e olhando em todas as direções, mas o inimigo já não se encontra mais ali, tenho certeza. Detenho-me na cena em minha frente. É horrível, triste, caótica, desumana e inominável, alguns elfos já estão carbonizados, outros estão parcialmente queimados foram todos empilhados em uma única e enorme fogueira, o acampamento ainda não queimou todo, algumas tendas ainda estão queimadas pela metade, consigo reconhecer alguns objetos, dirijo-me na tenda dos arqueiros, e encontro flechas cravadas em alguns corpos, outros ainda jazem com suas armas em punho, algumas flechas brancas em mãos que não conseguiram ser disparadas, e muitas flechas verdes no chão, flechas das fadas.
O ódio é crescente dentro do meu peito, meus amigos foram pegos de surpresa, com certeza não tiveram tempo nem de se preparar, foi um ato de covardia, como eu me enganei com as fadas, agora, mais do que nunca, eu preciso tirar o brilho que os olhos deles devem conter nesse instante, matar.
Vingar a vida ceifada de cada um dos meus nesse acampamento.
Arlo que me acompanhou nessa busca vem em minha direção, seu machado abaixado na mão direita e na esquerda um papel esverdeado, ele me entrega e constato que não é papel, é uma folha enorme, retirada com certeza de alguma árvore que ronda o local, em seu centro uma frase está escrita em tom ameaçador:
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30 Noites
FantasyA liberdade tão aguardada por Rarin, é o início de sua nova prisão. Após cinco anos, Amanda retorna para seu novo e definitivo lar, a felicidade de sua volta é interrompida pela ameça de uma guerra que pode custar muitas vidas. Imaginar seus...