Cap. 23: Reencontros - Parte I

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― Por favor, Gohan... Volte para casa e deixe esses androides de lado...!

Chichi dizia essas palavras como uma súplica, enquanto abraçava um porta-retratos. Nele, estava a foto de uma família feliz: ela, Goku e Gohan – que, na época da fotografia, tinha três a quatro anos de idade. Olhou para aquela foto e suspirou com tristeza, parecia ter sido tirada em uma época tão longínqua.

Sentia muita falta de um momento igual ao do retrato que olhava, mas tal momento jamais se repetiria.

Goku estava morto e Gohan, ausente na maior parte do tempo. Só sabia que, naquele momento, Gohan estava passando alguns dias na Capital do Oeste para treinar Trunks. Sentia-se muito sozinha, embora seu pai aparecesse com frequência.

Uma lágrima brotou de seus olhos e caiu na fotografia, bem onde estava a imagem de Goku.

― Goku... Se você estivesse vivo... Se você estivesse aqui... Acho que eu não sofreria tanto... Sinto tanto a sua falta...

Abraçou o porta-retratos com mais força e começou a chorar, as lágrimas deslizavam pelo rosto sem nenhuma cerimônia. Mas, de repente, sentiu uma mão acariciar-lhe a face, numa tentativa de secá-la.

― Eu também, Chichi... – ela ouviu um sussurro entristecido. – Eu também sinto a sua falta.

Essa voz... Há muito tempo não a ouvia! Aliás, achava que jamais a ouviria novamente... Abriu os olhos e, incrédula, perguntou:

― Goku? É você mesmo?

Piscou os olhos e viu quem estava bem na sua frente. Aquele rosto, aquele sorriso tão doce... Passou a mão na face dele, como se quisesse ter certeza de que não era um sonho. Afastou-se um pouco dele e passou a vê-lo de cima a baixo, mas algo chamou sua atenção: ele tinha uma auréola por cima da cabeça.

Goku percebeu e disse com seu típico ar inocente:

― Ah... Isso aqui é uma auréola, Chichi. Significa que eu ainda estou morto, sabe?

Passaram-se alguns instantes de silêncio, um olhando para o outro. O saiyajin por fim retomou uma expressão mais séria e esclareceu sua aparição:

― Eu pedi para o Senhor Kaioh me ajudar a vir para cá, porque senti que você precisava de mim.

― Você... Sentiu?

Ele sinalizou que sim com a cabeça e disse:

― Eu sei, meio por alto, o que está acontecendo aqui na Terra... E sei que o Gohan está desafiando esses tais androides e deve ter se tornado um guerreiro bem poderoso.

Para Chichi, isso não importava. Não interessava se Gohan era forte ou não, queria apenas ver o filho ao seu lado, fora de qualquer situação de risco de vida. Não era isso que havia planejado para o futuro dele, sonhava em vê-lo como um grande cientista, um pesquisador e nada mais. Não queria que ele fosse um lutador, que vivesse arriscando a vida em combates insanos e selvagens.

Mas o destino não permitiu que seus sonhos em relação ao filho fossem realidade. Tudo havia saído às avessas, e bem às avessas.

Goku percebeu mais uma vez o ar de tristeza de sua esposa. Talvez fosse por isso que ela havia envelhecido um pouco mais rápido – ele observou – por conta dessa tristeza, das preocupações... Ele imaginava que Chichi sempre ficava muito angustiada quando Gohan saía de casa, assim como tinha certeza de que isso também ocorria enquanto ele estava vivo. Tinha quase certeza de que isso havia gerado boa parte das rugas que ela possuía.

De repente, o estômago de Goku roncou de forma bem selvagem, fazendo o saiyajin ficar bem constrangido:

― Desculpa... É que me deu fome! – passou a mão por trás da nuca, como de costume, e riu desajeitadamente.

Por um momento, Chichi esqueceu os problemas com os androides e começou a rir.

― Eu não acredito! Não sabia que você ainda tinha essa fome toda, depois de morto!

― Acredite, eu também não sabia que continuaria assim.

Chichi já ia até a cozinha, quando Goku a deteve:

― Aonde você vai?

― Preparar um lanche pra você. Não é muito que tenho, mas posso fazer alguma coisa gostosa.

― Ah, obrigado... Eu acho.

Assim, ele a deixou ir preparar o lanche. Chichi logo o chamou e ele foi se sentar à mesa, diante de sete sanduíches generosos. Os sandubas, como previsto, foram devorados em menos de dois minutos.

Ela o admirava, enquanto ele estava apreciando os lanches, aos quais elogiava sem parar, afirmando que eram mais deliciosos do que as coisas que comia no outro mundo. Comparava, em sua mente, o apetite dele com o apetite de Gohan, constatando que semelhanças eram enormes entre pai e filho. Deixou escapar um comentário:

― O Gohan se parece tanto com você agora...

― Ah, é?

― Só falta ter o cabelo igual.

Goku riu:

― É sério?

Chichi, sorridente, assentiu que sim com a cabeça. Estava sentada à mesa na frente dele, com o rosto apoiado em uma das mãos. Contemplava longamente o seu marido enquanto este comia.

"Ai, Goku...", ela pensou. "É por isso que gosto tanto de você!"

Ele terminou de comer e disse:

― Ahhh... Tava uma delícia...! Já estava morrendo de saudade da sua comida!

― Só da minha comida? – ela ralhou com ele num tom brincalhão.

― Ah, é claro que não, Chichi... Não me leve a mal, eu sinto falta de você, não só da comida que você prepara. Além disso, não sei se já te disse que gosto do seu sorriso.

Chichi se derreteu toda.

― Ah, Goku... Você sempre é um amor!

Ele ficou vermelho:

― Ah, que é isso... Só tô falando a verdade!

Assim, eles se entreolharam mais uma vez, até que Goku disse:

― Chichi, eu preciso ir.

― Já?

― Sim, é que eu não tenho muito tempo aqui na Terra. – ele disse com uma pontinha de tristeza na voz. – E preciso ver a Bulma e o Gohan. Logo, logo, eu tenho que voltar ao outro mundo.

― É uma pena... – ela abaixou um pouco a cabeça. – Eu queria ficar mais tempo com você.

― Eu também, mas... Bem... – ele sorriu um pouco desajeitado. – O importante é que eu estou aí, no seu coração, e sei que você nunca me esqueceu e nunca vai me esquecer.

Ela não falou nada e o abraçou. Não entre lágrimas, mas com um sorriso no rosto. Não precisava chorar, pois, apesar de breve, esse reencontro a deixava feliz. Ele retribuiu-lhe o abraço cheio de amor e afeto da esposa. Acabou surpreendido por um beijo dela, e correspondeu.

Depois de alguns instantes, se separaram. A hora da despedida doía para ambos, mas não era preciso chorar por conta disso, já que um jamais se esqueceria do outro.

― Agora eu preciso mesmo ir, Chichi.

― Então isso é um "adeus", Goku?

― Prefiro pensar que é um "até logo" – ele disse com um sorriso no rosto. – Pode ser que um dia a gente acabe se encontrando de novo.

Os dois se abraçaram novamente e, em seguida, Goku levou dois dedos à testa. Localizou dois kis – um mais fraco e um mais forte – a fim de se teleportar.

― Então... – Chichi disse. – Até logo, Goku!

― Até logo, Chichi! Um dia a gente se encontra!

Assim, após olhá-la mais uma vez, ele desapareceu com o teletransporte, deixando Chichi sozinha novamente. Mas isso já não lhe importava, porque sabia que seu querido Goku estaria sempre com ela. Não fisicamente, mas em seu coração.

E isso era o bastante para iluminar por algunsinstantes seu rosto cansado e para lhe trazer doces recordações.

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⏰ Última atualização: Dec 03, 2022 ⏰

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Crônicas do Futuro: A história de Son GohanOnde histórias criam vida. Descubra agora