Regras

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Nos primeiros 5 minutos tudo aquilo pareceu surreal, eu estava no meu novo quarto, meu, e de mais uma pessoa desconhecida. Parecia tudo o que eu queria, meus pais não estavam mais comigo, estavam provavelmente indo pro carro pra pegar a estrada de volta pra casa.

Mas depois eu percebi que não havia nada de mágico naquilo, e lembro de que minha mãe sempre me disse pra arrumar algo de útil para fazer, ela disse isso logo depois que eu quebrei seu jogo de chá quando minha avó, ainda viva na época, foi nos visitar.

Então, como um leão faminto, eu resolvi que iria me aventurar por fora das paredes da minha prisão estudantil.

Lá fora tudo parecia lindo, as árvores com flocos de neve caindo de suas folhas, alunos correndo e fazendo brincadeiras estúpidas, adultos, provavelmente professores, se despedindo dos alunos que estavam indo embora do campus por conta do Natal.

Mas aí você me pergunta, "por que ir ao campus no natal?", E eu te respondo "porque assim consigo me adaptar melhor ao local, sem aquele monte de alunos ou a cobrança das aulas."

Meu passeio pelo pátio mal havia começado, mas, senti uma mão pequena me puxar para um beco tão escuro e sombrio que nem parecia mais fazer parte da escola.

- o que você pensa que tá fazendo? Quer morrer? - uma garota ruiva cuspiu as palavras na minha cara.

- que? - foi tudo o que consegui dizer.

- você leu as regras da escola antes de vir pra cá? Porquê me parece que não.

- e qual regra eu infringi?

- TODAS.

- Como todas? - perguntei confusa, de fato, não li as regras da escola, minha mãe provavelmente quis me alertar sobre mas eu resolvi me virar sozinha.

- primeiro, cadê seu uniforme? - ela me analisa dos pés a cabeça, só então eu percebo sua roupa.

Uma camisa social branca meio amarrotada, um blazer azul claro um pouco manchado, uma saia branca com uma listra azul feito a cor do blazer, meias 3/4 listradas com as cores do restante e uma luva branca.

- você quis dizer, isso?- apontei para a garota com desgosto, nunca pensei que um uniforme de uma escola tão sofisticada iria ser assim.

- você acha que eu saio usando isso porquê quero? - ela coloca uma mão na testa, furiosa.

- mas, é dezembro, as aulas só começam no começo de março, né?

- e quem disse que isso importa? A escola não liga, eles querem a todo momento você com a droga do uniforme. A primeira coisa que deveria ter feito é passar na secretaria e pegar o seu - ela diz se acalmando.

- são todos iguais? Os uniformes - perguntei com medo da resposta que teria.

- os uniformes são padrão, tirando que as meninas usam saia e os meninos Bermudas, aliás, nao importa o clima. Não reparou em ninguém do campus? Até os professores que estão saindo da escola usam uniforme - o tom de indignação era tanto que parecia me furar.

- minha mãe diz que é feio olhar para os outros - de fato não era mentira, mas não queria parecer a garota burra.

- ok, sua mãe não está aqui - seus olhos me penetraram com tanta intensidade que pensei em sair correndo o mais rápido possível, tudo aquilo estava virando assustador. - aqui tudo tem um padrão, os cabelo não podem ser pintados, o uniforme tem que estar completo, os horários devem ser respeitados, tanto para aulas, lanches e, horário de dormir.

- você poderia ir comigo na secretaria retirar o uniforme? - perguntei com medo da garota, eu não sou alta, longe disso, mas ela consegue ser mais baixa do que eu, e mesmo assim me coloca medo.

O Quarto 103 {SILLIE} ✅️Onde histórias criam vida. Descubra agora